20 mitos e factos sobre a pandemia, as máscaras e as vacinas - TVI

20 mitos e factos sobre a pandemia, as máscaras e as vacinas

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 26 dez 2020, 13:47
Covid-19

A TVI reuniu vinte dos milhares de mitos, mentiras e meias-verdades que pautaram o advento da realidade pandémica. Em tempos de "infodemia", a segurança também reside na veracidade dos factos

O surgimento da pandemia de covid-19 e a subsequente resposta das autoridades internacionais contra o vírus que já infetou mais 70 milhões de pessoas globalmente foi acompanhada por um fenómeno descrito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “infodemia”.

Num artigo datado de fevereiro deste ano, a OMS descreve a infodemia como uma “superabundância de informações - algumas precisas e outras não - que dificulta o encontro de fontes fiáveis ​​e orientações médicas cientificamente comprovadas.

Em tempos de pandemia , as informações erróneas e os rumores ocos surgem em cena, juntamente com a manipulação de informações. Na era da informação, este fenómeno é amplificado através das redes sociais, espalhando-se mais e mais rápido, como um vírus.

E se o SARS C-o-V2 é combatido através da etiqueta respiratória, da higienização das mãos e do uso da máscara, a infodemia é travada através de factos. Por isso, juntámos um conjunto de vinte afirmações que nos interrogaram ao longo do ano sobre este novo normal e separámos o joio do trigo, ou a verdade da mentira.

 

     1. A utilização de máscaras e os confinamentos travaram a pandemia? Facto.

Para entendermos como o uso da máscara e os confinamentos cirúrgicos e gerais determinaram o estado epidemiológico atual, necessitamos de recuar ao primeiro estado de emergência, decretado no dia 18 de março. 

 

 

Através do gráfico, denotamos um claro abrandamento nas infeções por covid-19 a seguir a entrar em vigor o decreto do primeiro estado de emergência, no dia 22 de março, que tornou obrigatório o confinamento em todo o país. Verificamos que o pico de contágios no período analisado decorreu no dia 10 de abril, existindo uma redução nos dias seguintes e uma estabilização dos números que, no dia 3 de maio, voltaram a estar abaixo dos 100 novos casos.

Por outro lado, as máscaras faciais cobrem as mucosas da boca e do nariz por onde o novo coronavírus pode infetar o corpo humano. O coronavírus espalha-se através de gotículas expelidas a partir do nariz e boca quando uma pessoa infetada tosse ou expira.

Quando uma pessoa infetada usa máscara, contem a propagação das gotículas pelo ar, do mesmo modo que uma pessoa não infetada com máscara está a limitar os pontos de entrada do vírus: boca e nariz estão protegidas, mas não os olhos.

As gotículas podem atingir a cara de outra pessoa que esteja a menos de um metro de uma pessoa infetada.

 

     2. ...E os países que não confinaram?


No decorrer da primeira vaga, quando (quase) toda a Europa decidiu a favor de um confinamento restrito para combater os avanços da covid-19, a Suécia foi um exemplo de um país que fez diferente.

O governo sueco decidiu manter as fronteiras abertas, não fechar as escolas e empresas e rejeitou mesmo a imposição de quarentena para quem tenha chegado ao país do estrangeiro.

A estratégia sueca passou por apelar a um sentido de responsabilidade social, protegendo os grupos de risco, ao mesmo tempo que procurou alcançar a imunidade de grupo (ver ponto 4). O primeiro-ministro chegou mesmo a admitir que um número elevado de mortos seria algo a que a população se tinha de habituar.

 

 

 

 

Agora, em plena segunda vaga e registando um aumento exponencial de casos diários de infeção (como pode ser observado no gráfico em cima), o primeiro-ministro já admitiu que o seu executivo planeou mal a estratégia para uma nova onda de pandemia.

A Suécia registou no mês de novembro 8.088 óbitos, o valor total de mortes mais elevado de um país escandinavo desde 1918, altura da gripe espanhola. Por essa altura, e segundo o instituto de estatísticas sueco Tomas Johansson, morreram 16.600 pessoas em novembro.

Ao todo, a Suécia já registou mais de 320 mil infeções por covid-19, das quais mais de 7.500 resultaram em mortes, números muito mais elevados do que os vizinhos Noruega, Finlândia e Dinamarca.

A situação na Suécia pode ser facilmente comparada com Portugal. Com níveis de população muito semelhantes, o país escandinavo teve menos 30 mil casos do novo coronavírus, o que não impediu que registasse mais duas mil mortes.

Em comparação com as taxas de letalidade, a Suécia apresenta um rácio de 2,3%, enquanto Portugal se fica pelos 1,6%.

 

     3.  Todas as máscaras protegem, desde que o nariz e a boca fiquem tapados? Mito

 

As máscaras tornaram-se um objeto essencial no novo quotidiano e, segundo as orientações da Direção-Geral da Saúde, toda a população deve utilizar máscaras comunitárias ou de uso social, desde que não sejam cirúrgicas. 

Deve ainda ser sempre privilegiado o uso de máscaras que têm o selo de “Máscaras COVID-19 Aprovado”. 

Porém, há máscaras que , cobrindo o nariz e a boca, acabam por não desempenhar o seu trabalho em proteger de uma infeção por covid-19. São as máscaras com válvulas de exalação.

Estas máscaras, disponíveis no mercado com uma válvula no centro ou na lateral, protegem o próprio utilizador, mas não as outras pessoas. O equipamento filtra as partículas do ar externo quando a pessoa inspira, mas permite que as partículas escapem pela válvula quando ela expira.

Este vídeo demonstra o processo de filtragem do ar nas máscaras em questão.

 

 

Os vídeos, que mostram os padrões de fluxo de ar através de máscaras com e sem válvulas de expiração, foram criados pelo engenheiro  do NIST Matthew Staymates e foram publicados, juntamente com um artigo científico, na revista Physics of Fluids.

Sobre a ação das máscaras, Staymates diz que, quando comparamos os vídeos lado a lado, "a diferença é impressionante e mostra como as válvulas permitem que o ar saia da máscara sem filtrá-lo, o que vai contra o propósito da máscara”.

 

     4.  Imunidade de grupo pode ser atingida se deixarmos o vírus circular livremente pela comunidade? Mito

 

A imunidade de grupo acontece quando um vírus deixa de ter a capacidade de se reproduzir em vários organismos porque encontra constantemente pessoas protegidas contra novas infeções. Quando uma proporção suficiente da população não é mais suscetível, qualquer novo surto desaparece. 

De acordo com um artigo publicado na revista Science pela epidemiologista da Universidade de Harvard, Caroline Buckee, para a imunidade de grupo ser desenvolvida, não é necessário imunizar toda a população, apenas 60 a 70%.

Os planos daqueles que defendem esta tese sugerem deixar a maior parte da sociedade voltar ao normal, ao mesmo tempo em que se tomam algumas medidas para proteger aqueles que estão sob maior risco de doenças graves. Isto essencialmente permitiria ao novo coronavírus seguir o seu curso.

Porém, esta é uma tese repetidamente reprimida e desmentida pelos epidemiologistas. Em entrevista ao jornal Nature, Kristian Andersen, imunologista do Scripps Research Institute na Califórnia diz que este é um plano indefensável porque propõe que a sociedade se “renda ao vírus”.

Na ótica do especialista, tal abordagem levaria a uma perda catastrófica de vidas humanas sem necessariamente acelerar o retorno da sociedade ao normal. “Nunca fomos capazes de fazer isso antes, e este plano levará a um número incalculável de mortes humanas, algo inaceitável e completamente desnecessário”, sublinha.

Apesar das críticas generalizadas por parte da comunidade científica, a ideia continua a ser sugerida por políticos e governadores em vários países, como os Estados Unidos, a Suécia e o Reino Unido. 

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump chegou mesmo a elogiar a tese em setembro e a usar o malapropismo “mentalidade de grupo”

As declarações de Trump mereceram críticas imediatas do epidemiologista Anthony Fauci que disse que é “um disparate total” apoiar a imunidade de grupo, enquanto conceito que defende que a propagação do vírus irá parar logo que uma parte importante da população seja contagiada, tornando-se imune.

Se conversarem com alguém que tenha alguma experiência em epidemiologia e doenças infecciosas, eles dirão que isso é muito arriscado e que acabarão com muitos mais contágios em pessoas vulneráveis, o que levará a mais hospitalizações e mortes”, disse Fauci, durante uma entrevista televisiva.

 

     5.  Há curas para a covid-19? Mito

A grande missão de vacinar contra a covid-19 já está em andamento no mundo e começará em breve no nosso país. Porém, uma cura para o novo coronavírus é algo que nunca foi descoberto.

Ainda assim, o remdesivir tem sido apontado como um tratamento potencialmente eficaz para casos graves de covid-19 e é muito usado para tratar pessoas hospitalizadas, tendo chegado mesmo a receber luz verde por parte da FDA. 

Mas, os especialistas da OMS já sublinharam que não há provas de que o remdesivir tenha qualquer benefício para os doentes com covid-19. E desaconselham o seu uso, quer pela possibilidade de efeitos secundários quer pelo que implica a sua administração (intravenosa).

A recomendação da OMS baseia-se numa nova revisão de provas, comparando os efeitos de vários medicamentos contra a covid-19, e inclui dados de quatro ensaios internacionais que envolveram mais de 7.000 pessoas hospitalizadas com covid-19.

Por outro lado, surgem constantemente nas redes sociais curas milagrosas contra a covid-19, vale a pena reforçar que beber líquidos quentes não neutraliza o vírus, nem gargarejar com água e sal. Tão pouco beber lixívia.

 

     6.   vírus SARS-CoV-2 é mais letal do que o vírus da Gripe?

 

O primeiro factor a ter em conta na análise desta questão é que o novo coronavírus e o vírus da gripe são distintos. Por um lado, o vírus Influenza tem um período menor de incubação (tempo de infeção até aparecer os sintomas) e um menor intervalo serial (o tempo entre casos sucessivos) do que o vírus da covid-19. Por outro, número reprodutivo – número de infeções secundárias geradas a partir de um infectado - é entendido entre 2 e 2,5 para o vírus que causa a covid-19, um valor mais alto do que o registado no vírus da gripe.

De acordo com a OMS, a taxa de letalidade da gripe sazonal é de 0,1%, enquanto a da covid-19 é de 0,6%, ou seja, seis vezes mais mortal.

Ademais, sabemos hoje que a nova epidemia é mais letal, como comprova o ex-diretor-geral da Saúde Francisco George que argumenta que “a probabilidade de se morrer da doença é comprovadamente maior para o novo coronavírus do que para outras doenças respiratórias como a gripe”.
 

Por esse motivo, destaca George, não se pode comparar o novo coronavírus com a gripe porque são “vírus distintos, doenças distintas, que geram epidemias distintas”.

Provavelmente, terá havido desde o início um processo de comparação, a meu ver indevida, com o vírus da gripe”, mas não se pode comparar um problema com o outro, afirma.

Ainda assim, é relevante ver o impacto que a vacina da gripe pode ter na imunidade contra a covid-19. De acordo com um estudo preliminar, realizado nos Países Baixos, a vacina da gripe pode reforçar o sistema imunitário no combate do coronavírus e reduzir até 39% o risco de contágio.

 

     7.  Vírus foi criado num laboratório chinês

 

Esta é uma tese muito defendida por líderes mundiais, como Donald Trump, que, como o agente patogénico emergiu pela primeira vez em Wuhan, na China, acreditam que o novo coronavírus teve origem num laboratório chinês. Algumas pessoas acreditam mesmo na teoria de o vírus ser desenhado para servir como uma arma biológica (mas já lá vamos)

As agências de inteligência norte-americanas já negaram categoricamente a possibilidade de que o vírus tenha sido projetado em ambiente laboratorial, afirmando que "os serviços de inteligência concordam com o amplo consenso científico de que a covid-19 não foi criada pelo homem, ou geneticamente modificada".

O virologista chinês Shi Zhengli - que estuda a atividade dos coronavírus nos morcegos e cujo laboratório Donald Trump sugeriu que estivesse na origem da covid-19 - comparou a sequência patogénica do novo coronavírus com outros vírus que a sua equipa analisou de habitats animais e descobriu que as amostras são distintas.

Em julho, David Robertson, investigador de genómica viral da Universidade de Glasgow, escreveu um artigo publicado na revista Nature Medicine em que mostra e compara a linhagem por trás do SARS-CoV-2 e seu ancestral mais próximo conhecido, um vírus chamado RaTG13, que circula em populações de morcegos há décadas.

Os virologistas acreditam que este parente, que é 96% idêntico ao novo coronavírus, provavelmente propagou-se e evoluiu em morcegos ou hospedeiros humanos e não terá sido detetado durante cerca de 20 anos, antes de se adaptar à sua forma atual e causar a pandemia em que nos encontramos.

Os coronavírus existem na natureza e podem infetar muitas criaturas diferentes. Coronavírus semelhantes ao SARS são encontrados em morcegos, porcos, gatos e furões, para citar alguns. A origem mais amplamente aceita do SARS-CoV-2, com base na sua genética, é que os seus parentes ancestrais infetaram animais selvagens - trocando características genéticas à medida que avançavam entre organismos - antes de finalmente infetarem humanos.

 

     8.  Líderes mundiais orquestraram a pandemia para criar o “grande recomeço”

 

A teoria do “Grande Recomeço” é uma das mais amplamente divulgadas nas redes sociais e tem por base a crença de que um grupo de líderes mundiais criou a pandemia para tomar controlo da economia global.

Esta rebuscada tese é inspirada por um plano real como o nome de “O Grande Recomeço”, desenhado pelo Fórum Económico Global, os organizadores de uma conferência anual de altas figuras públicas e dirigentes políticos. O plano explora como os países podem recuperar dos danos económicos causados pela pandemia.

O plano de recuperação foi interpretado como sinistro, primeiro por grupos marginais de teóricos da conspiração nas redes sociais e, em seguida, por proeminentes comentadores conservadores - gerando dezenas de milhares de interações no Facebook e no Twitter.

 

A teoria tornou-se viral flobalmente no Twitter depois de o primeiro-ministro canadiano ter sido filmado numa reunião das Nações Unidas a dizer que a pandemia ofereceu a oportunidade de um “recomeço”. 

As palavras de Trudeau acenderam o lume e fizeram com que várias pessoas, um pouco por todo o mundo, acreditassem que um grupo de líderes globais está a usar a pandemia para introduzir uma série de políticas socialistas e ambientais prejudiciais.

Porém, a sugestão de que os políticos estão na origem do vírus, ou o estão a usar para destruir o capitalismo não tem qualquer provas evidentes. É falsa também a noção de que o Fórum Económico Global tem autoridade para dar orientações às diferentes nações.

 

     9. Governo testa muito mais durante a segunda vaga do que na primeira? Facto

Portugal já realizou mais de quatro milhões de testes PCR até ao dia 23 de novembro, mais de um milhão dos quais no último mês. Sendo que  os grupos etários com maior incidência cumulativa são os dos 20 aos 29 anos, dos 30 aos 39 e dos 40 aos 49.

Em novembro, o número de testes passou pela primeira vez a barreira do um milhão, tendo sido registados 13 vezes mais testes do que em março (80.082).

 

 

 

 

De todos os testes efectuados e transmitidos, 861.334 foram realizados no mês de outubro, mais 252.632 do que em setembro e cerca de dez vezes mais do que os testes realizados em março .

Os números no gráfico baseiam-se numa contabilização das amostras recolhidas diariamente desde o dia 1 de março até ao dia 31 de outubro e reportadas pelo Ministério da Saúde. É importante alertar que estes números descrevem apenas as pessoas que foram notificadas pelo Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, o que não inclui muitas das pessoas que fizeram o teste e que não entraram no sistema.

 

     10. Testes à covid-19 custam ao Estado 2,6 milhões de euros por dia 

 

Uma publicação que se tornou viral nas redes sociais feita em outubro insinua que o Governo português gastou dois milhões e seiscentos mil euros por dia em testes para despistar a covid-19, indicando também que esse valor deveria ser direcionado para o Serviço Nacional de Saúde e para aumentar os salários dos profissionais do sector.

Esta é uma das publicações que foi objeto de um fact checking feito pela Hora da Verdade, uma parceria entre o jornal Observador e a TVI24. Para analisar a veracidade do conteúdo desta publicação, temos de ter em conta que o preço dos testes está fixado nos 65 euros - em março, o mesmo era de 87 euros.

 

 

 

Assim, feitas as contas, em outubro foi gasto um total de 55.9 milhões de euros, o que nos leva a uma despesa diária de um milhão e oitocentos e seis mil euros.

Em novembro, os valores gastos em testes ascendem a um total de cerca de 69.8 milhões de euros e uma despesa diária de dois milhões e trezentos e vinte e sete mil euros.

 

     11. Escolas estão a esconder casos de covid-19 para evitarem fecho


Outra publicação que correu as redes sociais e foi alvo de um fact checking por parte do Hora da Verdade Covid-19 garante que há escolas portuguesas a esconder casos de covid-19, com o objetivo de não fechar as portas. 

A publicação indicia um esquema para contornar as regras do ministério da Saúde e dá como prova um e-mail da direção de uma escola em Beja que dá conta de que um dos alunos havia testado positivo ao novo coronavírus e, como tal, devia ficar em casa. 

 

Ora, esta publicação está errada, porque se desmente a si própria. Após o desconfinamento, a missão do Governo foi sempre manter as portas abertas e encerrar apenas cirurgicamente, o que aconteceu apenas nos Açores e nos concelhos de Borba e de Elvas.

 

 

     12. Vacina da Astrazeneca contém células estaminais embrionárias? Mito

 

Este mito surge de um vídeo publicado pela primeira vez numa página antivacinação do Facebook que gerou milhares de partilhas, e clipes dele circularam abundantemente no WhatsApp e no Instagram Stories.

No vídeo, uma mulher encoraja as pessoas a não se vacinarem contra a covid-19 se não quiserem ter fragmentos de células estaminais embrionárias dentro delas. A publicação sugere ainda que as vacina da Astrazeneca contém tecido pulmonar de um feto masculino de 14 semanas abortado. Isto é falso.

Michael Head, médico e investigador da Universidade de Southampton afirma à BBC que “não foram usadas quaisquer células embrionárias no processo de produção das vacinas”.

O vídeo refere ainda um estudo que explora a reação da vacina quando entra em contacto com células humanas e extrapola-o como evidência do método de produção das vacinas contra a covid-19.

A confusão pode ter surgido porque há uma etapa no processo de desenvolvimento de uma vacina que usa células cultivadas em laboratório, que são descendentes de células embrionárias que de outra forma teriam sido destruídas. A técnica foi desenvolvida na década de 60, e nenhum feto foi abortado para os fins desta investigação.

 

 

     13.  Nenhuma vacina chegou longe com o uso da molécula RNA? Facto (até agora)

Dentro de todos nós há uma molécula frágil, mas essencial para a existência de toda a vida humana: a RNA, um corpúsculo tão fundamental que a comunidade científica crê que tenha sido responsável por dar origem à vida humana há mais de três mil milhões de anos.

 

Dentro de todos nós há uma molécula frágil, mas essencial para a existência de toda a vida humana: a RNA, um corpúsculo tão fundamental que a comunidade científica crê que tenha sido responsável por dar origem à vida humana há mais de três mil milhões de anos. 

A vacina da Pfizer e da Moderna, duas das vacinas que agora têm a missão de livrar a população do planeta da pior pandemia do século XXI, ambas partilham um fator em comum: são as duas feitas a partir da RNA, mais especificamente de um tipo da molécula - o RNA mensageiro (mRNA)  -  responsável por transmitir a mensagem da vida contida no ADN e convertê-la em todas as proteínas que nos permitem respirar, pensar, caminhar.

O conceito de usar o mRNA para produzir proteínas úteis para combater doenças existe há décadas. Mas, até agora, nenhuma vacina conseguiu chegar longe com essa tecnologia. 

As autoridades científicas já testaram clinicamente vacinas de mRNA para uma ampla gama de doenças infecciosas, incluindo raiva, gripe e Zika. Porém, até agora, nenhum desses testes passou de pequenos ensaios clínicos de fase inicial.

Por isso, o sucesso demonstrado pelas vacinas contra a SARS-CoV-2 “é excelente para os investigadores do campo do RNA. Até muito recentemente, havia apenas um punhado de pessoas que realmente acreditavam nas vacinas de mRNA”, afirma Norbert Pardi, um especialista na vacinação por mRNA na Universidade de Pensilvânia.

Apesar de ser um trabalho promissor, ainda existem desafios associados ao desenvolvimento de vacinas baseadas no mRNA. 

Na verdade, o mRNA comum produz apenas baixos níveis de proteínas, e a molécula degrada-se muito rapidamente dentro do corpo para considerá-la adequada como um agente terapêutico. Além disso, o RNA pode desencadear uma resposta imunológica que corre o risco de ser independente da resposta à proteína que codifica.

Muito por causa destas problemáticas, a adesão a este tipo de tecnologia foi lenta, e muitos cientistas optaram por se concentrar no desenvolvimento de vacinas com ADN, um trabalho mais estável e assumidamente fácil.

 

     14. Bill Gates e o Instituto Pirbright estão por trás da origem da pandemia? Mito

Outra teoria a circular é a de que na origem da pandemia está um “complô” promovido por Bill Gates e planeado pelo instituto britânico Pirbright. Com efeito, este laboratório pediu, em 2015, uma patente para desenvolver um coronavírus, que foi concedida em 2018. Contudo, o objetivo era desenvolver uma vacina para tratar ou prevenir doenças respiratórias em animais de quinta e nada tem a ver com o surto surgido em Wuhan, no centro da China. A Pirbright sublinha que não trabalha com coronavirus humanos, não desenvolveu a vacina, nem tem qualquer relação com Bill Gates.

 

     15. Há superalimentos e preparados capazes de inativar o vírus? Mito

Por muito que alguns insistam que o maior remédio para curar qualquer doença do trato respiratório seja à base de bagaço e de mel, uma combinação a que um professor britânico, em entrevista ao jornal The Sun, credita como tendo sido responsável pela sua recuperação do novo coronavírus, não existem quaisquer alimentos ou suplementos capazes de lutar contra a covid-19.

A garantia vem da Bastonária da Ordem dos Nutricionistas que, durante a habitual conferência de atualização da situação pandémica em Portugal, deixou claro que a covid-19 combate-se com vacinas e não com alimentos.

Queria deixar claro que não existem superalimentos nem suplementos capazes de prevenir ou até mesmo combater a Covid-19”, disse Alexandra Bento em abril.

A alimentação equilibrada, refere ainda,  é fundamental para assegurar o adequado funcionamento do sistema imunitário e reforça que "o sistema imunitário agredece que fiquem em casa e que comam saudavelmente".

Este é um dos mitos que surge no guia básico contra as mentiras do coronavírus”, produzido pela agência de notícias espanhola EFE que dá ainda conta de um conjunto de “recomendações que não funcionam” em matéria de prevenção. Como a ideia de que se deve usar urina infantil para lavar as mãos: a urina, ao invés de matar o vírus, pode conter pequenas quantidades de material viral ou bacteriano. 

 

     16.  A vacina vai alterar o nosso ADN? Mito


O medo de que uma vacina mude de alguma forma o nosso ADN é um mito que tem estado regularmente presente nas redes sociais.

De acordo com um trabalho da BBC, que inquiriu três investigadores independentes sobre esta questão, as vacinas contra o novo coronavírus não têm capacidade de criar mutações no nosso ADN.

Algumas das vacinas disponíveis e já administradas na população foram desenvolvidas, utilizando um fragmento do material genético do vírus - o RNA Mensageiro (ver ponto 13).

De acordo com o professor da Universidade de Oxford, Jeffrey Almond, “injetar RNA numa pessoa não tem qualquer impacto no ADN da célula humana”. Tudo porque a vacina funciona através do fornecimento de instruções ao sistema imunitário para que este produza a proteína presente na superfície do vírus.

 

     17.  Posso continuar a doar sangue durante a pandemia? Facto

 

É completamente falsa a noção de que a pandemia é sinónimo de interrupções nas doações de sangue, até porque, com a retoma da atividade cirúrgica e hospitalar, as reservas nacionais de sangue estão com níveis críticos dos tipos O+ e A+.

Num apelo aos portugueses para darem sangue, a Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue afirma, em comunicado, que a pandemia não deve ser motivo de medo”. 

Estamos preparados para receber todos os que nos queiram ajudar, adotando todos os cuidados necessários”, explica Alberto Mota, presidente da Federação.

Segundo o presidente da Federação, as reservas nacionais estão já a ressentir-se com o regresso da atividade hospitalar e este fator deve motivar as pessoas saudáveis, principalmente os cidadãos ativos entre os 24 e os 45 anos, a darem sangue.

 

     18.  O confinamento resolveu o aquecimento global? Mito

O grande confinamento forçou o encerramento de indústrias, redes de transporte e negócios, como consequência, existiu uma queda repentina nas emissões de dióxido carbono. Em novembro, comparativamente com o período homólogo, os níveis de poluição em Nova York foram reduzidos em quase 50%.

Na China, as emissões de CO2 caíram 25% no início do ano, um resultado do pedido do governo para que as pessoas ficassem em casa e do encerramento das fábricas. Neste período, o uso de carvão caiu 40% nas seis maiores usinas da China, comparativamente com o último trimestre de 2019. 

 

 

Também a proporção de dias com “ar de boa qualidade” aumentou 11,4% em comparação com o mesmo período do ano passado em 337 cidades da China.

Como consequência do isolamento, no norte da Índia, e pela primeira vez em 30 anos, e a centenas de quilómetros de distância, é possível avistar os Himalaias.
 

As imagens partilhadas nas redes sociais não deixaram ninguém indiferente.

 

Never seen Dhauladar range from my home rooftop in Jalandhar..never could imagine that’s possible..clear indication of the impact the pollution has done by us to Mother Earth 🌍.. this is the view pic.twitter.com/laRzP8QsZ9

— Harbhajan Turbanator (@harbhajan_singh) April 3, 2020
 

Porém, estes fatores apenas contribuíram “marginalmente” para abrandar a subida geral da concentração de gases com efeito estufa (GEE) no planeta, afirma a Organização Mundial de Meteorologia.

Ainda que a pandemia de covid-19 não tenha colocado um travão no aumento das concentrações de GEE na atmosfera, o declínio nas emissões nos primeiros meses deste ano mostram que um futuro mais verde é possível.

A pandemia não é a solução para as mudanças climáticas”, afirma o professor Petteri Taalas, da Organização Mundial de Meteorologia. Porém, argumenta o especialista, fornece uma plataforma para uma ação climática mais sustentada e ambiciosa para reduzir as emissões “por meio de uma transformação completa dos nossos sistemas industriais, de energia e de transporte”.

 

 

     19.  Andar de transportes públicos é seguro? Facto (desde que sejam cumpridas as orientações de segurança)

Muito do potencial viral nos comboios, metros e autocarros surge do fator espaço e depende do quão possível é manter a distância de segurança dentro dos transportes ou nas paragens. 

Isto porque o novo coronavírus é disseminado através da tosse, do espirro ou da exalação de gotículas que podem ficar durante horas no ar

As gotículas exaladas numa expiração normal de um ser humano têm uma gama de tamanhos que vão de um décimo de mícron a 1.000 mícron (1 micron é equivalente a 0,001 milímetro). Em termos de comparação um cabelo tem um diâmetro aproximado de cerca de 70 mícron, enquanto uma partícula típica de coronavírus é menor do que um décimo de mícron.

As gotículas exaladas mais comuns têm entre 50 e 100 mícron de diâmetro e podem entrar no nosso organismo diretamente através dos olhos, do nariz e da boca, ou indiretamente através do toque num objeto contaminado.

O SARS-CoV-2 pode permanecer no ar em ambientes fechados por horas, aumentando potencialmente em concentração com o tempo. Dessa forma, a menos que sejam tomadas precauções adequadas, quanto mais tempo um espaço for ocupado e mais pessoas estiverem presentes, maior será o potencial de transmissão do vírus pelo ar. Isto é evidenciado num estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.

Assim, há obviamente um risco maior em transportes públicos que não estejam equipados com ventilação, ou que não tenham capacidade de fazer circular o ar. Dito isto, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes reitera que que os transportes públicos são seguros se cumpridas todas as normas de segurança, nomeadamente o uso de máscara.

Utilizando a máscara, cumprindo as regras de higiene respiratória, não há nenhum fator acrescido de transmissão da covid-19 nos transportes coletivos. Não há nenhum risco acrescido quando comparado com o estarmos aqui, por exemplo”, disse Matos Fernandes aos jornalistas no final de uma cerimónia sobre o reforço da oferta de transporte público nas áreas metropolitanas.

Matos Fernandes sublinhou ainda “não ter sido reportado nenhum caso de pessoas que tenham sido infetadas com covid-19 em Portugal” nos transportes públicos, embora, reconheça não poder dizer que “ninguém foi infetado”.

 

     20. Fui vacinado, já não tenho de usar máscara? Mito

 

O advento das vacinas contra a covid-19 pode levar muitos a acreditar que as coisas vão voltar ao antigo normal num rápido fechar de olhos. Mas isto não é factual e a Organização Mundial da Saúde já veio recomendar que as pessoas devem continuar a utilizar máscaras de segurança, mesmo após terem sido vacinadas contra a covid-19.

De acordo com Kate O’Brien, especialista da OMS em vacinação, não é claro que a vacina impossibilite de forma geral uma infeção pelo novo coronavírus, ainda que haja evidência científica de que ajuda a impedir o desenvolvimento da covid-19 no corpo humano.

O problema reside nos ensaios clínicos das vacinas. Isto porque os ensaios da Pfizer e da Moderna analisaram apenas quantas pessoas vacinadas sofreram infeções por covid-19, deixando em aberto a possibilidade de alguns destes voluntários estarem assintomáticos e propagar silenciosamente o vírus.

Ou seja, se as pessoas vacinadas transmitirem o vírus sem saber, a covid-19 pode continuar a ser disseminada nas comunidades, tornando-se um risco para aqueles que ainda não tenham sido vacinados.

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