Covid-19: as consequências da doença nos grupos de baixo risco - TVI

Covid-19: as consequências da doença nos grupos de baixo risco

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 16 nov 2020, 10:32
Covid-19 na Bélgica

Estudo britânico analisou pacientes saudáveis infetados com o novo coronavírus "há muito tempo". "Há sempre algum tipo de dano registado e em 25% das pessoas afeta dois ou mais órgãos”, afirma um dos especialistas que liderou o projeto

Doentes sem comorbidades associadas à covid-19 estão a mostrar sinais de danos em vários órgãos meses após terem sido infetados com o novo coronavírus, detalha um estudo publicado este domingo pelo Coverscan, um projeto britânico de mapeamento dos efeitos da covid-19.

Os dados publicados mostram uma significativa evolução no desenvolvimento de tratamentos para alguns dos sintomas menos comuns associados a doentes infetados “durante muito tempo”.

Entre os sintomas, fadiga, falta de ar, dores e confusão mental são os mais reportados por este tipo de casos clínicos.

O estudo publicado este domingo visa avaliar o impacto a longo prazo da covid-19 na saúde dos órgãos de cerca de 500 indivíduos de "baixo risco" - aqueles que são relativamente jovens e sem quaisquer queixas de saúde subjacentes - com sintomas contínuos de SARS-CoV-2, através de uma combinação de ressonâncias magnéticas, exames de sangue, medições físicas e questionários online.

 

 

Dados preliminares dos primeiros 200 pacientes submetidos à triagem sugerem que quase 70% registaram danos em um ou mais órgãos, incluindo coração, pulmões, fígado e pâncreas, quatro meses após a primeira infeção.

A boa notícia é que os danos são leves, mas mesmo com uma lente conservadora, há sempre algum tipo de dano registado e em 25% das pessoas afeta dois ou mais órgãos”, afirma Amitava Banerjee, cardiologista e professor de análise de dados clínicos na University College London.

Amitava Banerjee, um dos especialistas que liderou o estudo, explica que estes dados são relevantes porque permite perceber se os “danos continuam, melhoram ou se, em alguns grupos de pacientes, pioram”.

Em alguns casos, explica o especialista, existia uma correlação entre os sintomas e a zona do corpo danificado. Por exemplo, problemas cardíacos ou pulmonares estavam associados à falta de ar e problemas registados no fígado ou no pâncreas estavam ligados a sintomas gastrointestinais.

Os dados verificados no estudo apoiam a ideia de que existem danos causados pela covid-19 que atingem um órgão em específico, ou, potencialmente, múltiplos órgãos. Isto significa que é “possível explicar alguns sintomas e calcular a trajetória da doença”, avança Amitava Banerjee.

 

 

 

Por outro lado, o estudo não é capaz de concretizar provas suficientes de que os danos causados aos órgãos sejam responsáveis pelos sintomas registados por doentes covid-19.

A idade média dos participantes no estudo do projeto Coverscan foi de 44 anos. Os voluntários vão continuar a ser monitorizados, ao mesmo tempo que os investigadores estão a examinar pessoas diagnosticadas com outras infeções virais, como gripe. A ideia é comparar e encontrar diferenças nas ações dos vírus a nível dos órgãos.

Em outubro, um estudo realizado pela Universidade de Oxford, e que analisou 58 pacientes hospitalizados com Covid-19, revela que, dois a três meses após a infeção inicial,  60% dos pacientes registaram anormalidades nos pulmões, 29% nos rins, 26% no coração e 10% no fígado.

O que todas as pessoas infetadas há muito tempo com a covid-19 querem é ser levadas a sério e ter alguma ideia do que acontece a nível dos órgãos. Por isso, começar a armazenar dados sobre este impacto do vírus é o caminho certo a seguir”, afirma Danny Altmann, professor de imunologia do Imperial College, em Londres. 

Os dados revelados no estudo publicado este domingo podem ter implicações para a gestão de pessoas infetadas há vários meses, sugerindo a necessidade de uma colaboração mais orgânica entre médicos especialistas. “Consoante os sintomas, enviar o doente para o cardiologista, depois para o gastroenterologista e depois para o neurologista é uma forma ineficiente de lidar com a pandemia”, afirma Amitava Banerjee.

Continue a ler esta notícia