Como se produzem as vacinas que podem acabar com a pandemia - TVI

Como se produzem as vacinas que podem acabar com a pandemia

Há quatro tecnologias diferentes para a produção de vacinas. Um dos métodos usados em duas vacinas contra a covid-19 pode vir a revolucionar o mundo da imunização

O princípio de qualquer vacina é “enganar” o sistema imunitário, fazendo-o sentir que está a ser atacado pelo vírus, para que produza anticorpos para o combater, sempre sem que o paciente seja infetado e sofra o menos possível eventuais efeitos secundários adversos. As vacinas contra o SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, não é exceção a nenhuma destas premissas.

Para “enganar” o organismo, cada vacina pode usar diferentes tecnologias. Já foram dadas a conhecer mais de uma dezena de vacinas contra este coronavírus, que utilizam três tecnologias diferentes.

Há ainda uma quarta tecnologia que pode conduzir à produção de vacinas, mas, até ao momento, não há nenhuma contra a covid-19 que a esteja a utilizar.

Vetor Viral

É usado um adenovírus inativado, com material do SARS-CoV-2 (também inativado)
Instiga as células do organismo a produzirem “espículas” (‘espinhos’ do SARS-CoV-2)
São essas “espículas” que incitam o sistema imunológico a produzir anticorpos contra o vírus
Nem o material do SARS-CoV-2, nem as “espículas” produzidas têm capacidade de infeção
Vacina de Oxford usa esta tecnologia:
  • Eficácia: de até 90% (resultado preliminar)
  • Doses: duas (foi mais eficaz no esquema meia dose + dose inteira)
  • Vantagens: mais barata, produção mais rápida
  • Desvantagens:  poucos laboratórios têm capacidade para produzir, pode ter menor eficácia na realidade do que no laboratório

 

A tecnologia vetor viral utiliza um outro vírus como “meio de transporte” de material do vírus em causa. Ou seja: os cientistas utilizam um vírus já existente (por norma o adenovírus), removem-lhe a carga genética e deixam apenas a “casca”. Dentro dessa “casca”, inserem material genético do vírus contra o qual querem criar imunização, no caso o SARS-CoV-2.

Ambos os vírus são inativados previamente, para se tornarem incapazes de infetar o paciente a quem é administrada a vacina.

O sistema imunitário entra em contacto com o material viral que é colocado dentro da “casca” do adenovírus e passa a criar anticorpos que atuarão no caso de contacto com o vírus real.

Esta tecnologia pode trazer consigo uma desvantagem, quando sai do laboratório e se aplica em contexto real: o organismo entra, na realidade, em contacto com dois vírus (aquele que se pretende imunizar e o transportador) e pode acabar por reagir de uma forma mais intensa à “casca” do que ao material viral que está dentro dela, reduzindo assim a eficácia contra o vírus ‘principal’.

 

Vacina de vírus inativado

Vírus fabricado e “morto” (inativado) em laboratório
Vírus inativado estimula organismo a produzir anticorpos capazes de atingir o vírus real, se houver uma infeção

Vacina CoronoVac usa esta tecnologia:

  • Eficácia: ainda não divulgada para fase 3
  • Doses: duas
  • Vantagens: tecnologia e logística já conhecida já conhecidas. É mais barata
  • Desvantagens: produção mais demorada

É uma tecnologia consagrada e amplamente conhecida. Na verdade, é já usada para várias vacinas contra doenças já conhecidas.

Na prática, os cientistas cultivam o vírus em laboratório e tornam-no inócuo, inativando-o. É como se o estivessem a “matar”, para que, quando entre em contacto como o sistema imunitário humano apenas o leve a produzir anticorpos e não o deixe doente.

Depois de inativado, o vírus é introduzido no organismo, levando o sistema imunitário a reagir e tornando-o apto a reagir perante um vírus real.

O facto de ser uma tecnologia já bastante conhecida no meio científico, gera uma maior confiança. Além disso, também se sabe exatamente como proceder em termos logísticos, nomeadamente no transporte e armazenamento do medicamento.

Contudo, a produção e inativação do vírus em laboratório pode tornar-se um processo demorado, fazendo com que a produção das vacinas se torne mais demorada.

Das vacinas mais mediáticas contra a covid-19, a CoronoVac, da chinesa Sinovac, utiliza esta tenologia.

 

Vacina genética de RNA

Tecnologia inédita que pode revolucionar o mundo a imunização
O RNA é uma espécie de livro de instruções que diz às células para produzirem as proteínas que fazem parte do código genético do SARS-CoV-2
O sistema imunitário lê essa proteína como sendo o vírus na sua totalidade e produz anticorpos contra o vírus
A vacina não lida com o vírus, mas utiliza engenharia genética para, a partir do código genético do SARS-CoV-2
Vacinas que usam esta tecnologia: a da Pfizer/BioNTech e Moderna
 
  • Pfizer/BioNTech


- Eficácia: 95% (resultado preliminar)


- Doses: duas


- Vantagens: mais rápida, menos eventos adversos


- Desvantagens: dificuldade logística e de conservação, uma vez que exige temperaturas muito baixas. É mais cara

 
  • Moderna


- Eficácia: 94,5% (resultado preliminar)


- Doses: duas


- Vantagens: mais rápida, menos eventos adversos


- Desvantagens: dificuldade logística e de conservação, uma vez que exige temperaturas muito baixas. É mais cara.

 

As moléculas de Ácido Ribonucleico (RNA, do inglês Ribonucleic Acid) são uma espécie de “livro de instruções” que “explica” às células do organismo humano como produzir determinadas proteínas, no caso, proteínas do SARS-CoV-2. O que o sistema imunitário entende é que essa proteína é o vírus na sua totalidade e começa também a produzir anticorpos para o combater. Fica assim o organismo humano preparado para reagir perante o vírus, no caso de um contacto real.

Na verdade, esta tecnologia é inédita e pode vir a revolucionar o sistema de imunização artificial. Em laboratório, não há contacto com o vírus real, mas sim com o código genético do mesmo.

Tem a grande vantagem de, à partida, dar azo a menos efeitos adversos e de ser de mais rápida produção. Como desvantagem, tem o facto de ser uma tecnologia ainda pouco conhecida, bem como as necessidades logísticas e de conservação do medicamento.

Há duas vacinas contra a covid-19 em estágio muito avançado que utilizam esta tecnologia, a da Pfizer/BioNTech e a da norte-americana Moderna.

Vacina Proteica

São usadas partículas muito pequenas do vírus – proteínas
Dá ao organismo a proteína do vírus, estimulando o sistema imunológico
Em relação ao sistema RNA, “salta” uma etapa: e RNA ensina as células a produzir as proteínas e este sistema dá as proteínas ao organismo
Nenhuma vacina até agora anunciada contra SARS-CoV-2 utiliza esta tecnologia

 

Na prática, em relação à tecnologia RNA, há uma etapa a menos: se a RNA vai “ensinar” o corpo a produzir a proteína, na vacina proteica, a proteína é diretamente injetada no organismo. Se na anterior tecnologia, o organismo tem de produzir a proteína, aqui já só tem de produzir os anticorpos.

Nenhuma vacina contra a covid-19 cuja eficácia já tenha sido divulgada usa o método proteico.

 

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