Internet «junta-se» para derrubar ministra

A recém-empossada ministra da Cultura espanhola, Ángeles González-Sinde, tem esta semana, em Lisboa, a estreia internacional, num momento em que a sua nomeação continua a suscitar polémica na rede.

Sinde, que tomou posse este mês - e que participa na cimeira ibero-americana da Cultura, em Lisboa - está a ter, porventura, o «estado de graça» mais curto de qualquer governante de sempre, com dezenas de páginas na Internet a pedir já a sua demissão.

Com 44 anos, a realizadora e argumentista, e até aqui directora da Academia das Artes e das Ciências do Cinema, continua a ser desconhecida da maioria dos espanhóis, apesar de ter conseguido já dois Goyas.

Esse êxito nas bilheteiras não lhe tem valido perante uma forte onda de crítica no espaço da Internet, que começou poucos minutos depois de o primeiro-ministro, José Luís Rodríguez Zapatero, ter anunciado a sua escolha.

A campanha contra a ministra está a crescer e inclui até uma página no Facebook, onde González-Sinde é acusada de ser «inimiga dos internautas» e onde estão inscritos milhares de utilizadores.

«Ainda nem juraste no cargo e nós já te temos jurada. Estás disposta a dar luta ao P2P. Ou tu ou nós», refere o grupo criado para criticar a escolha de Zapatero, com cerca de 3.500 membros.

Em causa está o que os internautas consideram ser o ataque de Zapatero e de González-Sinde aos internautas, motivado, argumentam, pela forte contestação aos descarregamentos ilegais e à partilha de ficheiros (P2P).

A Associação de Internautas lidera a campanha, à que se juntaram dezenas de blogs, páginas de opinião e fóruns de utilizadores.

«A alegria pela destituição de (César António) Molina (ex-ministro da Cultura), conhecido pela sua aversão e beligerância contra o progresso tecnológico, durou o tempo que tardou em anunciar a nova ministra, cujo comportamento se pode induzir de algumas das suas mais recentes declarações», escreve a Associação de Internautas.

Em várias páginas são recordadas declarações da própria González-Sinde que, no ano passado, questionou o facto de ser necessária uma linha de banda-larga de alta velocidade.

«Para que precisamos todos de uma linha de ADSL de não sei quantos gigas? Para enviar e-mails? A Telefónica sabe que 80 por cento do volume de tráfico nas suas linhas é descarregamento de arquivos», disse.

Com a chegada de González-Sinde, antecipam os internautas, será reatado o debate sobre como lidar com as descarregamentos e partilhas de ficheiros de cinema e música em Espanha, onde só são ilegais se forem feitos com fins lucrativos.

Muitos recordam as declarações de González-Sinde na última gala dos Prémios Goya, quando afirmou que é preciso «continuar a lutar para que as descarregamentos ilegais» para não fazer desaparecer os criadores.