Investigadores do Porto criam sistema que permite administração oral da insulina - TVI

Investigadores do Porto criam sistema que permite administração oral da insulina

Diabetes (arquivo)

Mariana é diabética e diz que este produto pode fazer com que deixe de se picar "cinco ou seis vezes por dia"

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto desenvolveram um sistema que, com base em nanopartículas biodegradáveis, permite que a insulina seja administrada por via oral em pacientes com diabetes tipo 1.

Em comunicado, o i3S avança esta sexta-feira que o estudo, publicado na revista científica Journal of Controlled Release, foi desenvolvido em colaboração com o Hospital Universitário de Oslo (Noruega) e validado em modelo de rato transgénico e diabético.

O sistema desenvolvido consegue “ultrapassar os ácidos do estômago e a barreira intestinal e chegar à corrente sanguínea com eficácia”.

Em declarações à TVI24, Mariana, diabética desde os 10 anos, afirma que, caso se confirme a eficácia do produto, a sua administração será mais fácil.

Com este produto não tenho de me picar cinco ou seis vezes por dia", refere, acrescentando que as injeções de insulina por vezes deixam marcas como nódoas negras.

Os doentes que têm diabetes tipo 1 têm uma deficiência no pâncreas que impede a produção de insulina, substância que ajuda o corpo a regular o nível de glicemia. Uma vez que este tipo de pacientes não produz insulina, esse composto tem de ser administrado por outra via.

Uma das formas mais conhecidas de administração é através de injeção, que é dada de forma regular, nomeadamente sempre que são consumidos componentes como hidratos de carbono ou açúcar.

Mariana garante que esta inovação permite uma melhoria na qualidade de vida, além de facilitar a administração da insulina em pessoas que possam ter alguns complexos em utilizar as canetas de injeção em locais públicos.

Citado no comunicado do i3S, Bruno Sarmento, um dos autores do artigo, explica que a equipa começou por encapsular a insulina em nanopartículas biodegradáveis para que "o medicamento chegasse nas melhores condições à corrente sanguínea”.

Estas nanopartículas são revestidas com albumina [proteína solúvel em água] modificada, sendo direcionadas para um recetor específico. Este recetor, o FcRn, transporta albumina e IgGs [anticorpos] humanos, e permite-lhes escapar à degradação natural que ocorre no interior das células”, explica o líder do grupo Naomedicines & Translational Drug Delivery do i3S.

Também Cláudia Azevedo, a primeira autora do artigo, adianta que, através dos diferentes testes, a equipa de investigadores verificou que as nanopartículas com albumina humana conseguem “numa hora, reduzir em 40% os níveis de glicose”.

Este efeito acentuado é mantido durante três horas, sendo depois inferior até às oito horas. O objetivo é que o fármaco seja libertado de forma controlada e prolongada para diminuir as administrações de insulina”, refere a investigadora que esteve alguns meses na Noruega a tentar encontrar a melhor solução de transporte de fármacos.

Segundo o i3S, depois de alguns meses na Noruega, a investigadora esteve em Boston (Estados Unidos da América), onde testou a tecnologia, “com sucesso”, em tecido de intestino removido de porcos, o modelo animal mais semelhante ao humano.

O próximo objetivo da equipa passa por “melhorar o efeito e a durabilidade do fármaco no organismo”, mas também tornar estas nanopartículas “mais inteligentes, ao ponto de libertarem insulina consoante os níveis de glicose”.

Isso é possível colocando biossensores na superfície das nanopartículas”, afirma Cláudia Azevedo.

O número de doentes com diabetes tipo 1 em Portugal não é sabido ao certo, e a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal lançou em fevereiro de 2020 uma petição para que se realize um levantamento dos dados.

Refere aquela associação que "apesar do aumento da sua incidência e prevalência, não existe, em Portugal, um programa estruturado e coerente que aborde a diabetes tipo 1 em todas as idades".

Os únicos dados disponíveis referem-se à doença global, incluindo também os pacientes com diabetes tipo 2. Segundo o último balanço do Observatório Nacional da Diabetes, mais de um milhão de pessoas na faixa etária entre os 20 e os 79 anos têm a doença.

A diabetes tipo 1 é uma doença que surge muitas vezes na infância, e a Federação Internacional de Diabetes refere que existem cerca de 1,1 milhões de crianças e adolescentes com esta patologia crónica.

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