Escultura envenena artista plástica - TVI

Escultura envenena artista plástica

  • MP
  • 23 jan 2019, 10:29
Escultura envenena artista

Depois das dores de cabeça e dos instintos suicidas, Gillian descobriu que foi envenenada pelo trabalho que demorou 15 anos a terminar

Ser envenenada por uma escultura foi algo que nunca passou pela cabeça de Gillian Genser. A artista plástica vive em Toronto, no Canadá, e sempre se habituou a trabalhar com materiais naturais. Depois de surgirem os primeiros sintomas, a artista descobriu que estava envenenada por "Adão", uma escultura que demorou 15 anos a esculpir.

As conchas de mexilhão foram o material escolhido para a produção da escultura. A artista considerava que estas "eram perfeitas para fazer Adão", acreditando que reproduziam as fibras dos músculos na perfeição. Porém, com o passar do tempo, a saúde de Gillian começou a dar sinais de que algo não estava certo. 

Eu não conseguia seguir uma linha de pensamento (...) Estava zangada, perturbada, ansiosa, desesperada e com instintos suicidas desesperadores", revelou.

Ao longo dos anos os sintomas agravaram-se, chegou mesmo a perder a memória e a noção do espaço. Apesar de acompanhada por diversos especialistas em neurologia e de ter sido medicada, durante os primeiros anos de trabalho da escultura nunca foi detetada a origem do problema. 

Eles perguntavam-me sempre se trabalhava com materiais tóxicos. Eu dizia sempre que não, que eram todos materiais completamente naturais", explicou a artista. 

Material venenoso

Foram análises ao sangue, feitas em 2015, que revelaram que a artista estava a ser envenenada pelas conchas dos mexilhões, o material escolhido por Gillian para esculpir "Adão", a escultura em que trabalhava já há mais de 10 anos. 

De acordo com os especialistas, os mexilhões atraem e acumulam metais encontrados na água, fazendo com que sejam dos organismos mais venenosos.

Tinha níveis elevados de arsénico e de chumbo", disse Gillian à BBC.

A escultura em que trabalhava teve uma preparação demorada e meticulosa. Cada estria da musculatura de "Adão" era feita a partir de fatias finas de conchas. Gillian passou anos a cortar milhares de conchas de mexilhão, o que deixou uma poeira tóxica no ar. Essas mesmas toxinas foram envenenando a artista sem que ela se apercebesse. 

Mesmo depois de descoberta a origem do problema, a artista não se conformou em abandonar a escultura.

Eu chegava a chorar à porta do meu ateliê porque sabia que as conchas me estavam a envenenar. Mas também não podia deixar a obra incompleta", disse. 

A escultura "Adão" ficou terminada e Gillian começou a trabalhar noutras obras de arte. Apesar de nunca mais ter recorrido a conchas de mexilhão, o material que a envenenou, a artista garante que os materiais que utiliza poderão, a dada altura, ser tóxicos.

Atualmente, Gillian Genser sofre de sintomas provocados pelo envenenamento. Para além disso, depois do sucedido, corre mais riscos de sofrer doenças neurológicas como o Azheimer ou Parkinson.

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