Covid-19: segunda vaga pode chegar um mês depois de se aliviarem medidas de contenção - TVI

Covid-19: segunda vaga pode chegar um mês depois de se aliviarem medidas de contenção

Coronavírus

Previsão é de matemática portuguesa da Escola Superior de Medicina Tropical de Liverpool que afirma, também com grande grau de certeza, que o pico do surto foi atingido no final de março

O modelo epidémico aplicado nesta previsão estima que, caso as medidas de contenção do vírus se mantenham no seu grau máximo de aplicação durante três meses, ou seja, até junho, a segunda vaga da Covid-19 em Portugal acontecerá no final de agosto, e é provável que se prolongue até fim de outubro. Contudo, este é um cenário pouco realista, uma vez que o país anseia por regressar a uma maior normalidade, e Governo e autoridades de saúde devem permiti-lo mais mês, menos mês, mas isso terá consequências negativas.

Quando terminarem as medidas de contenção, cerca de um mês mais tarde, temos a segunda onda a crescer."

As palavras são de Gabriela Gomes, uma matemática portuguesa especialista em epidemiologia na Escola Superior de Medicina Tropical de Liverpool, em Inglaterra. A previsão, que não é animadora, faz parte de um estudo que tem sido desenvolvido por uma equipa de cientistas liderado pela portuguesa, e que acompanha a evolução da pandemia causada pelo novo coronavírus. A investigação deixa claro que, em Portugal, será muito difícil evitar um segundo surto da doença.

Nós para evitarmos futuras ondas, temos de ter imunidade suficiente na população para que o vírus não se consiga propagar acima de um determinado limiar", garante Gabriela Gomes em entrevista à TVI.

Os dados do Instituto Ricardo Jorge apontam para que entre 1 e 2% da população esteja imune ao vírus, ou seja, já possui anticorpos contra a Covid-19. Contudo, este é um valor muito abaixo daquilo que seria necessário para evitar uma nova onda de infeção, garante a matemática: "Os modelo mais clássicos apontam para 60% a 70% da população, de acordo com os meus modelos, a imunidade de grupo só exige 10 a 15% da população infetada".

Pelo facto de o país não vir a atingir esta percentagem de, pelo menos 10% de população contaminada, o vírus vai regressar, mesmo que a tendência que se verifique seja a de redução do número de novos casos. 

Os níveis de infeção, agora, baixam muito em abril e maio, depois podemos aliviar um pouco as medidas durante algum tempo, esperamos que passado um mês de aliviarmos as medidas a curva volte a subir, e nós voltamos a apertar as medidas, a curva volta a baixar, e será assim sucessivamente durante algum tempo, e vamos imunizando a população, mantendo a epidemia dentro da capacidade do Serviço Nacional de Saúde". 

Gabriela Gomes explica que, enquanto o país conviver com a doença, até existir uma vacina ou um tratamento específico, as pessoas que vão sendo infetadas podem regressar, gradualmente, à vida normal, assim como os setores essenciais ao funcionamento da economia. Porém, uma parte considerável da população não o poderá fazer, sob pena de a pandemia regressar com consequências catastróficas. Os cientistas estimam que as pessoas que consigam permanecer em regime de teletrabalho, deverão ser aconselhadas a continuar a fazê-lo.

Estas conclusões resultam da aplicação de um modelo matemático que, com base nos dados públicos disponibilizados pela DGS, desenha três cenários para o país: um de epidemia livre, sem qualquer intervenção; outro que reflete uma estratégia de supressão, que reduz os contactos sociais em 75%, o que Portugal vive neste momento e que conduzirá a um novo surto de Covid-19, uma vez que não permite criar imunidade de grupo; e um cenário de mitigação, no qual os contactos sociais são reduzidos em apenas 40%.

A coisa positiva dessa estratégia (a de mitigação) é que quando a epidemia terminasse a população estava imune, porque tinha infetado um número suficiente de pessoas para induzir a imunidade de grupo. Assim, conseguiríamos evitar uma segunda onda, mas o custo é que temos muita doença, e nós também não queremos, porque iria ultrapassar a capacidade dos serviços de saúde, e isso não seria bom, era o que vimos a acontecer em Espanha e Itália"

Tendo em conta que Portugal está a viver um cenário de supressão da pandemia, os resultados do estudo apontam que "o pico foi atingido entre finais de março e início de abril", e que "o número de casos continuará a reduzir, enquanto mantivermos estas medidas de distanciamento social ativas". Contudo, a especialista alerta de que isto não é sinónimo de tranquilidade.

É inevitável que, quando os contactos voltarem, acima de um determinado nível, a epidemia voltará a crescer, mas quanto menor for o nível de contactos, mais devagar crescerá a epidemia e mais nós teremos tempo de perceber isso e voltar a apertar as medidas"

Significa isto, para Gabriela Gomes, que a vida normal, ou seja, ter um dia-a-dia como se tinha antes da pandemia, só será possível quando estiver disponível em Portugal uma vacina ou um tratamento específico para a Covid-19. Até lá, a redução de contactos entre as pessoas será a única forma possível, e realmente eficaz, de estrangular a propagação do vírus.

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