Descoberto planeta onde há “chuva de ferro” - TVI

Descoberto planeta onde há “chuva de ferro”

  • CE
  • 11 mar 2020, 16:18
Planetas

Descoberta foi feita através do espetrógrafo ESPRESSO, um instrumento que foi concebido para procurar planetas do tipo terrestre em torno de estrelas do tipo solar

Uma equipa internacional, em colaboração com investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), conseguiu caracterizar a atmosfera de um exoplaneta, tendo detetado, através do espetrógrafo ESPRESSO, aquilo que acreditam ser “uma chuva de ferro”.

Em comunicado, o IA explica que o estudo, publicado esta quarta-feira na revista Nature, conseguiu caracterizar a atmosfera do exoplaneta WASP-76b, através de uma combinação entre o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul e do espetrógrafo ESPRESSO.

O ESPRESSO, instrumento que foi concebido para procurar planetas do tipo terrestre em torno de estrelas do tipo solar, é, neste momento, o “espetrógrafo mais avançado no estudo de exoplanetas”, salienta Alexandre Cabral, investigador do IA.

Este resultado científico resulta de um trabalho de quase 10 anos a desenhar, integrar e testar um instrumento criado na Europa e instalado no observatório do Paranal (Chile), em pelo deserto de Atacama, sendo uma clara demonstração da capacidade que a instrumentação em astronomia tem em Portugal”, sustenta o investigador.

Também citado no comunicado, Olivier Demangeon, investigador do IA, acrescenta que aquilo que começou com um estudo clássico do efeito de Rossiter-McLaughlin [uma anomalia na velocidade radial] “acabou numa descoberta incrível, graças à extrema sensibilidade e precisão do ESPRESSO”.

De acordo com o IA, esta chuva de ferro só é possível porque o WASP-76b, um exoplaneta a cerca de 390 anos-luz de distância da Terra, tem uma rotação síncrona, ou seja, “demora tanto tempo a completar uma rotação com a dar uma volta em torno da sua estrela”.

O instituto salienta também que a “pequena distância” que separa este planeta da sua estrela, uma vez que dá uma volta a cada 1,8 dias, faz com que o seu lado diurno “receba milhares de vezes mais radiação da sua estrela do que a Terra recebe do Sol”.

E acrescenta, “tornando-se tão quente que as moléculas se separam em átomos, com os metais, tais como o ferro, a evaporarem-se para a atmosfera”.

A diferença de temperatura entre os lados diurno e noturno provoca, segundo a investigação, “ventos violentos” que acabam por transportar o vapor de ferro do lado diurno para o lado noturno.

Citado no documento, o investigador Sérgio Sousa adianta que as observações evidenciam que a temperatura do planeta “pode subir até aos 2.400 graus Celsius do lado de dia”, uma temperatura “suficientemente alta para vaporizar metais como o ferro”.

Depois os ventos fortes transportam este vapor de ferro para o lado noturno, onde a temperatura é menor, cerca de 1.500 graus celsius e este vapor pode não condensar em gotas de ferro”, refere.

Os resultados agora descritos foram obtidos em setembro de 2018, a partir das primeiras observações científicas com o espetrógrafo ESPRESSO.

Citado no documento, Nuno Cardoso Santos, investigador do IA e docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto salienta que a missão estratégica do instituto “começa agora a dar frutos”.

Esta estratégia inclui, por exemplo, a recém-lançada missão espacial CHEOPS e irá continuar durante os próximos anos com o lançamento do telescópio espacial PLATO, ou a instalação do espetógrafo HIRES no maior telescópio da próxima geração, o ELT”, conclui o investigador.

Continue a ler esta notícia