Em busca da solução "invencível" para um envelhecimento ativo - TVI

Em busca da solução "invencível" para um envelhecimento ativo

Há aplicações, sites e dispositivos móveis para todos os gostos entre os projetos que estão a ser desenvolvidos pelas 36 equipas do Hack For Good

Arrancou, este sábado, uma maratona tecnológica na Fundação Calouste Gulbenkian com objetivo de encontrar soluções que melhorem a qualidade de vida dos seniores e promovam um envelhecimento ativo. 

No total são 157 participantes, com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, que aceitaram o desafio de pensarem soluções tecnológicas com implementação na sociedade, em particular nos idosos. Luísa Valle, da Calouste Gulbenkian, explica a importância da iniciativa no âmbito do programa da Fundação para o desenvolvimento humano.

Queremos encontrar novas respostas para o envelhecimento da população porque a sociedade não está preparada assim como as cidades também não o estão”, disse sublinhando ser importante encontrar outras valências para a tecnologia nomeadamente no âmbito do enquadramento social para a promoção e defesa da dignidade humana.

Os participantes deram entrada na sala de trabalho por volta das 11 horas e começaram a trabalhar de imediato, acompanhados por uma intervenção motivacional protagonizada por Luís Jerónimo, da Fundação Calouste Gulbenkian. O orador deu exemplos de mecanismos e equipamentos desenvolvidos a partir da conjugação de conhecimentos tecnológicos e necessidades de saúde específicas, como a criação de próteses em impressoras 3D.

Equipas em busca da solução invencível

Cada equipa tem entre três a cinco elementos das mais diversas áreas de formação. Há gestores, designers, engenheiros, programadores, professores e estudantes universitários. Em comum têm o gosto pela inovação, tecnologia e uma forte motivação para marcar a diferença na sociedade.

"Fazemos software invencível", afirma a Being AcCOMPTABLE

Refugiamo-nos um pouco na ideia do Obelix, somos invencíveis”, disse Pedro Santos da Being AcCOMPTABLE, equipa #35, onde cinco rapazes estão a dar corpo à “internet das coisas” para facilitar e melhorar a vida dos idosos, através de uma aplicação que permite a monitorização, com recurso à tecnologia Bluetooth, em questões de saúde e bem-estar. “Qualquer coisa se pode ligar à BeingWeel e depois os dados podem ser partilhados com a rede de contactos, médicos ou familiares”, explicou o programador informático.

Outro projeto, o da equipa #24 Holocare, propõe a criação de um dispensador automático de medicamentos que, para além de combater o desperdício, também irá ajudar no acompanhamento dos idosos por parte de familiares, médicos ou agentes de saúde. O equipamento terá sensores de alerta para a hora da toma dos comprimidos, internet para a partilha dos dados recolhidos e ainda capacidade para medir parâmetros biomédicos. “É de baixo custo e ainda permite a recolha de dados para relacionar as reações aos cocktails de medicamentos. Este projeto juntou um professor universitário, um designer industrial e três estudantes de eletrotecnia.

Guardar memórias para eternizar a história

A equipa #15, 4Good, quer unir seniores e jovens através de testemunhos, historias partilhadas na internet num portal de histórias em vídeo.

"Tell me" quer informatizar estórias contadas por "avós"

Queremos recuperar os contadores de estórias porque a memória que não for guardada perde-se para sempre e os miúdos não querem aprender a partir de livros estáticos”, explicou Patrícia Candeias.

Na plataforma Tell Me as histórias dos seniores serão organizadas por tema, cronologia e geografia. Cada utilizador será encaminhado para poder gravar o seu vídeo, que depois ficará disponível para ser partilhado nas redes sociais.

“O nosso júri são as avós”

Ao início da tarde, a Galeria da Gulbenkian recebeu um grupo senior para trocar impressões com os inventores sobre a utilidade das suas propostas. “O júri chegou. O nosso júri são as avós”, disse um dos jovens quando a chegada dos idosos foi anunciada.

"Os idosos são muito difíceis de ensinar"

Durante cerca de duas horas e meia, vinte idosos, do projeto “A avó veio trabalhar”, estiveram disponíveis para ouvir e comentar os projetos embrionários. As ideias foram elogiadas, seniores reconhecem utilidade dos projetos para melhorar a segurança e o acompanhamento dos mais velhos.

Estas ideias são boas porque há pessoas a morar sozinhas que precisam de ajuda”, comentou uma das idosas.

Por outro lado, também há quem veja entraves à implementação da tecnologia no quotidiano daqueles que tardiamente se cruzaram com a modernização dos equipamentos. É verdade que os idosos se esquecem de tomar os medicamentos, às vezes também me esqueço, mas os idosos são muito difíceis de ensinar”, disse Filomena Tavares, que celebrou 58 anos no Hack For Good com o amigo Domingo Vaz, também ele aniversariante, completou 70 anos. “Para mim não dá” disse o septuagenário justificando que problemas de saúde o afastam dos ecrãs, e por isso a informática é algo que não usa de todo.

Idosos + objetos pesados = #ShoppingVolunteers

Às vezes a realidade do meio onde vivemos dá-nos o clique para problemas do quotidiano daqueles que nos são estranhos. Foi o que aconteceu à equipa #26.

Sérgio, Bruno, Cláudia e Diva são amigos, vivem em Coimbra e têm relações com associações de voluntariado, experiência que lhes tem transmitido uma realidade para a qual a  juventude ainda não os moldou: há idosos que não conseguem carregar as compras, garrafões de água ou sacos pesados até casa.

Shopping Volunteers ambiciona ser a plataforma online que dará resposta a esta problemática. Os voluntários inscrevem-se e os idosos pedem ajuda por telefone ou através de uma mensagem escrita.

Animais de companhia “emprestados” a idosos voluntários

Quantas vezes já saiu de casa e ficou a pensar no seu animal de estimação, sozinho, sem companhia até que regressa a casa? Uma das equipas do Hack For Good procura respostas a esta e outras questões com vista a também, e logicamente, ajudar os idosos. Neste caso, a ideia junta os animais de companhia e pessoas com mais disponibilidade horaria, por estarem reformadas, por exemplo. Os idosos recebem algum dinheiro e o dono do animal pode fazer a sua vida quotidiana ou lazer sem preocupações.

Acreditamos que conseguimos criar aqui uma alternativa competitiva em relação aos hotéis porque sai mais barato e os animais não estranham tanto a mudança”, explicou Ricardo Silva da PetForGood, equipa #Dev11 cujos membros já fazem parte de uma startup de desenvolvimento de software.

Equipas motivadas e projetos incríveis

Os mentores do programa também se juntaram aos grupos durante a tarde para conhecerem melhor os projetos em concurso, trocarem impressões com os inventores e deixarem alguns conselhos.

É muito gratificante ver que há imensas ideias boas e algumas podem ser adaptadas a outras necessidades sociais para além da causa dos idosos”, disse Catarina Alvarez, mentora e responsável pelo projeto “Cuidar Melhor” direcionado para pessoas com patologias neurológicas, nomeadamente doença de Alzheimer.

Os projetos podem ser todos muito bons mas isso por si só não chega. A eventual resistência à mudança e adoção de meios tecnológicos por parte de alguns idosos “requer demonstrações de utilização e explicações” para que tudo se torne ainda mais acessível, acrescentou a mentora. “Há equipamentos que mostram que podem e devem ir mais além” e isso não deve ser disperdiçado, reiterou Filipe Barreto, mentor e gestor de conteúdos online do Montepio.

A TVI e a TVI24 vai continuar a acompanhar AO MINUTO a maratona de tecnologia Hack For Good que está a decorrer este fim de semana na Fundação Calouste Gulbenkian

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