E se pudesse comer a embalagem dos alimentos? Portugueses descobriram a fórmula - TVI

E se pudesse comer a embalagem dos alimentos? Portugueses descobriram a fórmula

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 25 out 2019, 17:55
Equipa de investigadores

A ideia foi premiada com uma bolsa de 50 mil euros e será mais um pequeno contributo para que o ser humano avance para alternativas sustentáveis

Uma equipa de investigadores do Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança que criou um spray que substitui o plástico na conservação dos alimentos e reduz as embalagens foi premiada com uma bolsa de 50 mil euros, no concurso de Inovação Social da Comissão Europeia.

O Spray Safe é um spray baseado em ingredientes naturais, sustentáveis e comestíveis que visa ser uma alternativa ao plástico usado para a conservação dos alimentos, como embalagens e outros recipientes, mantendo as características da comida e evitando a oxidação e a contaminação.

A ideia já vem no seguimento de um trabalho de 20 anos da equipa de investigação e começou com um estudo e investigação de centenas de espécies diferentes de plantas e também de cogumelos no sentido de perceber se podiam ser fonte de substâncias naturais de alto valor acrescentado”, disse a coordenadora do centro de investigação, a professora Isabel Ferreira, à TVI

Depois do estudo, realizado com muitas espécies vegetais do nordeste transmontano, uma das regiões da Europa com maior biodiversidade, a equipa apercebeu-se de que era detentora de um conhecimento privilegiado.

Isabel Ferreira explicou que os estudos que fizeram foram essencialmente químicos e, quando registaram o perfil químico de todas as plantas, também conseguiram perceber “que moléculas e que substâncias podiam ser obtidas, nomeadamente para efeitos conservantes, com um potencial antimicrobiano, antioxidante que ajude depois a evitar a deterioração dos alimentos

O cientista Márcio Carocho, um dos criadores do SpraySafe, afirmou que, quando o produto for inserido no mercado, “terá um impacto significativo no ambiente, pois permitirá reduzir drasticamente a dependência de embalagens plásticas, bem como da película aderente”. 

 

 

Márcio Carocho aclarou que a ideia começou como um conceito abstrato que foi gradualmente ganhando forma. 

Enquanto trabalhávamos na formulação inicial houve dias de alguma frustração, pois não funcionava como o havíamos idealizado. Contudo, quando finalmente conseguimos equilibrar todos os ingredientes, quando conseguimos testar e validar, aí sim, comecei a acreditar que podíamos ter algo inovador e disruptivo”, afirmou, adiantando que o grande desafio que a sociedade tem é a alimentação correta da população mundial, “sem destruir o mundo enquanto o fazemos”.

 

Efeitos do SpraySafe

Uma das grandes dificuldades que a equipa vai enfrentar é a alteração dos hábitos de consumo, mas a professora Isabel Ferreira garante que esse obstáculo será ultrapassável. 

Todo este processo tem imensas dificuldades que têm de ser superadas e agora como estamos a falar de algo que vai para além da investigação que envolve provas de conceito, validação desta formulação em diferentes tipos de alimentos e depois o seu escalonamento industrial, ainda temos aqui bastantes etapas para passar, mas se o SpraySafe resultar a nível industrial, tenho a certeza que será fantástico, muito útil e de enorme facilidade de utilização por qualquer consumidor”, disse a coordenadora do Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança.

 

 

 

Em relação à sua utilização em casas particulares,o cientista Márcio Carocho explica que a utilização será “mais um pequeno contributo para que o ser humano avance para alternativas sustentáveis dentro do seu próprio lar, pois é preciso que todos nós tenhamos pequenos gestos que podem marcar a diferença para melhor em relação ao plástico e consequente desperdício”.
 

A equipa irá receber uma bolsa de 50 mil euros da Comissão Europeia e esse dinheiro será investido na validação do conceito em diferentes alimentos: “até ao momento, o produto só foi validado em fiambre e, portanto, é preciso agora validar em produtos lácteos, como o queijo, ou noutro tipo de carnes”, esse será o passo a seguir, segundo a professora Isabel Ferreira.

 

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