Brasileiras despem-se na Internet contra violações - TVI

Brasileiras despem-se na Internet contra violações

Campanha #EuNaoMerecoSerEstuprada, de reação ao resultado de uma sondagem, torna-se viral

Milhares de brasileiras famosas e anónimas puseram fotografias na Internet, algumas delas seminuas, numa campanha contra violações. O tema da violência sexual começou a tomar conta das redes sociais no fim-de-semana, em resposta a uma sondagem que indica que muitos brasileiros acreditam que as mulheres são responsáveis por sofrerem abusos sexuais. E elas decidiram não ficar caladas. O protesto virtual, conhecido pela hashtag #EuNaoMerecoSerEstuprada, tornou-se viral e ganhou repercussão internacional.

De acordo com o jornal «O Globo», a campanha tem quatro dias e começou com uma foto da jornalista Nana Queiroz, que organizou a iniciativa no Facebook. Muito rapidamente, milhares de pessoas, mulheres, mas também homens e famílias inteiras, mobilizaram-se e aderiram ao apelo para dizer «basta!» à violência sexual.

Para além dos milhares de anónimos, várias figuras públicas também fizeram questão de se posicionar acerca da violência sexual e do comportamento feminino. É o caso da cantora Valesca Popozuda, que nua e com um taco de futebol americano nas mãos, publicou uma fotografia no Facebook intitulada: «De saia longa ou pelada #nãomereçoserestuprada».

E, com a mesma força com que milhares aderiram à campanha, surgiram reações que a organizadora Nana Queiroz não imaginou: ofensas e até ameaças.

«Cinco minutos depois eu já tinha uma ameaça de estupro [violação], dez minutos depois eu já estava num site pornô pedindo para ser estuprada [violada], minha foto manipulada. Eu estava com os braços escritos - "não mereço ser estuprada". Eles apagaram o "não" e colocaram "mereço ser estuprada"», conta a jornalista.

Sondagem revela predomínio do machismo

A campanha foi motivada pelo resultado de uma sondagem do Instituto de Pesquisa Económica Aplicada (Ipea), divulgada na última quinta-feira. Na pesquisa, 65% dos entrevistados afirmaram que mulheres que usam roupa curta merecem ser atacadas. A sondagem foi feita com 3.810 pessoas, entre homens e mulheres, e também mostrou que 58,5% dos entrevistados acreditam que haveria menos violações se as mulheres «se soubessem comportar».

Em declarações ao «O Globo», Daniel Cerqueira, coordenador da sondagem, diz que a principal conclusão é que a sociedade brasileira está impregnada pela cultura machista.

«A primeira coisa que temos que fazer, acredito, é trazer à tona esse problema que muitas vezes está escondido debaixo do tapete, está encerrado entre quatro paredes e falar para a mulher o seguinte: que ela não é culpada, ela é sempre a vítima. E por que isso é importante? Porque centenas de vítimas simplesmente não vão prestar queixa à polícia, porque elas vão achar que elas é que na verdade fizeram alguma coisa, que facilitaram e vão ser mal vistas na sociedade», afirmou o pesquisador.

Para fazerem a sondagem, os pesquisadores tiveram acesso a dados que mostram que mais de 500 mil pessoas por ano são vítimas de violação no Brasil. Sofrem, inclusive, violações coletivas e a polícia só toma conhecimento de 10% dos casos. Das mulheres que aderiram à campanha que pede, na Internet, o fim da violência sexual, centenas contaram ter sido ameaçadas.

Mesmo sendo ameaças virtuais, a jornalista Nana Queiroz acredita que têm de ser denunciadas e espera que os responsáveis sejam localizados e punidos. «Mulher que tomou essa ameaça vá à delegacia, faça a sua denúncia, ganhe proteção da polícia, dos seus amigos. Eu acho muito importante que isso aconteça para que este movimento não sirva, ninguém tire vantagem dele para se vingar da atitude feminina estuprando [violando]», rematou.
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