Predador em risco de extinção no Antártico - TVI

Predador em risco de extinção no Antártico

Antártida, Janeiro 2011- foto Reuters

Albatrozes de cabeça cinzenta, aves marinhas que ocupam o topo da cadeia alimentar, têm sobrevivência ameaçada devido ao aquecimento do mar

Os albatrozes de cabeça cinzenta, aves marinhas que ocupam o topo da cadeia alimentar do Antártico, estão em risco de extinção devido ao aquecimento do mar, concluiu um estudo do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra.

O estudo, realizado em conjunto com o Centro Britânico de Pesquisas do Antártico (BAS, em inglês) durante os últimos 15 anos, verificou que estas aves marinhas estão a diversificar a sua alimentação para enfrentar o aquecimento da temperatura do mar, mas o risco de se extinguirem mantém-se, adiantou esta quarta-feira à agência Lusa o biólogo marinho José Xavier.

«Descobrimos que um predador de topo muda a sua dieta e tenta arranjar soluções para o problema, mas sem sucesso», explicou José Xavier, que liderou a pesquisa internacional que analisou a situação na Antártica.

Esta situação tem grandes implicações para a sobrevivência da espécie, porque estas aves «não conseguem encontrar comida suficiente para alimentar os seus filhotes e, consequentemente, fazer com que a sua população se mantenha», alertou o doutorado pela Universidade de Cambridge.

O perigo de extinção tornou-se mais significativo no ano de 2000, quando o oceano Antártico atingiu a temperatura mais quente, declarou o cientista, referindo que «quando o oceano está a aquecer demasiado, o efeito das temperaturas vai afetar a quantidade de algas, de peixes e de toda a cadeia alimentar, desde a base até aos predadores de topo».

Como «o oceano Antártico não é homogéneo», a cadeia alimentar muda «consoante as diferentes regiões» e é afetada pelas condições dos mares, vincou.

Destes 15 anos de pesquisa, José Xavier referiu que metade se trata de anos maus, devido ao elevado aquecimento dos mares, o que permitiu fazer uma distinção entre os anos maus em que «a abundância [dos recursos] é menor» e os anos bons, «quando o oceano Antártico está a funcionar de uma maneira normal, em que há muito gelo, muitas algas, muitos peixes e os animais de topo reproduzem-se bem».

«Se todos os anos forem maus», o perigo para a extinção dos albatrozes de cabeça cinzenta é maior.

Além da conservação da espécie, também está em perigo a existência de recursos pesqueiros.

«Se eles não conseguem encontrar, significa que não existem alimentos suficientes no mar», sublinhou José Xavier, afirmando que o estudo dos albatrozes permitiu perceber o potencial destes recursos.

«Os albatrozes são um exemplo de predador de topo, como as baleias, as focas e os pinguins, que nos podem levar a perceber como é que estes animais se podem adaptar às condições climáticas e ao oceano antártico que está a funcionar mal», o que leva a que «não tenham capacidade reprodutiva», concluiu.

Para fazer face a esta situação, o investigador alertou para a necessidade de «perceber que os recursos são finitos e que é preciso gerir o ambiente de acordo com as limitações do planeta».

Neste estudo, José Xavier e a equipa composta por investigadores europeus analisaram a evolução do oceano Antártico e a forma como os albatrozes de cabeça cinzenta se adaptavam às alterações climáticas.

Um dos próximos passos é «prever o que poderá acontecer noutras regiões e perceber como é que outros oceanos podem funcionar melhor no futuro», revelou.
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