Micróbios ajudam a evitar cancros nas crianças - TVI

Micróbios ajudam a evitar cancros nas crianças

  • 22 mai 2018, 12:32
Criança (arquivo)

Especialista britânico revela que excesso de higiene com as crianças potencia aparecimento de casos de leucemia linfoblástica aguda. Melvyn Greaves acredita que cancro infantil é maioritariamente evitável

Brincar, conviver com outras crianças e crescer fora de ambientes assépticos, eis a chave que ajuda a evitar o surgimento de casos de leucemia linfoblástica aguda, um dos mais frequentes casos de cancro nos mais pequenos e em adolescentes.

Ao cabo de mais de 30 anos de investigação, Melvyn Greaves, um dos mais reputados cientistas britânicos, diretor no Instituto de Pesquisa sobre o Cancro (ICR), chega à conclusão que o sistema imunitário das crianças deve lidar com germes, micróbios e bactérias nos primeiros anos de vida, de forma a aprender a lidar com futuras infecções.

Num artigo publicado na revista Nature Reviews Cancer e sintetizado na página do ICR, são apresentados os resultados das investigações levadas a cabo sobre a leucemia linfoblástica aguda, uma doença evitável na maioria dos casos.

Claire Hastings, do departamento de comunicação do ICR, salienta que, anualmente, cerca de 500 jovens no Reino Unido desenvolverão leucemia linfoblástica aguda por volta dos 15 anos de idade. Desses, cerca de 90% conseguem ser tratados com sucesso através de uma combinação de quimioterapias. Mas os efeitos colaterais podem ser graves e duradouros e para os restantes 10% dos casos não há muitas outras opções de tratamento.

Causas da leucemia

Os especialistas do ICR salientam que a primeira causa da leucemia linfoblástica aguda está numa mutação genética que ocorre antes do nascimento, à medida que o bebé cresce no útero da mãe.

Só que, esta mutação genética não é necesssariamente preocupante. Porque ocorre aleatoriamente num entre 20 bebés e dos afetados, 99% não desenvolve leucemia. Concluindo: apenas 1% das crianças portadoras têm a doença.

Depois, há uma segunda causa que contribui para este tipo de cancro. Trata-se de uma segunda mutação genética, que ocorre mais tarde, na infância, desencadeada quando as crianças com a mutação inicial adoecem com infecções comuns, como, por exemplo, uma gripe.

Referem agora os especialistas britânicos, que esta segunda mutação parece afetar primodrialmente as crianças que tiveram um primeiro ano de vida muito limpo, asséptico, sem muita interação com outros bebés ou com crianças mais velhas.

Educar o sistema imunitário

No artigo de síntese publicado na página do ICR, Claire Hastings salienta que o "sistema imunitário humano deve ser devidamente educado no início da vida, para saber a maneira correta de responder a uma infecção".

O sistema imunológico precisa de ser desafiado por diferentes "bugs" - como bactérias, vírus, parasitas e fungos - a fim de estabelecer as conexões certas entre as moléculas e células que compõem a complexa rede que é essencial para se ter respostas imunitárias normais", escreve a investigadora.

Em síntese, o professor Mel Greaves conclui que as bactérias a que as crianças são expostas quando brincam com outras podem ser capazes de preparar o sistema imunológico da maneira correta para nunca desenvolverem leucemia.

Passei mais de 40 anos pesquisando sobre a leucemia infantil e, ao longo desse tempo, houve um enorme progresso na compreensão da sua biologia e do seu tratamento, de tal modo que hoje cerca de 90% dos casos estão curados. Mas sempre me ocorreu que faltava algo fundamental, uma lacuna no nosso conhecimento: porque ou como crianças saudáveis ​​desenvolviam leucemia e se esse cancro era evitável", refere o cientista Mel Greaves.

Segundo Greaves, os resultados das suas pesquisas mostram que a leucemia "tem uma causa biológica clara e é desencadeada por uma variedade de infecções em crianças predispostas para tal, cujos sistemas imunológicos não foram adequadamente preparados".

Também afasta alguns mitos persistentes sobre as causas da leucemia, tais como, que a doença é comumente causada pela exposição a ondas eletromagnéticas ou à poluição”, refere ainda Greaves.

Para o investigador, a última peça do quebra-cabeças sobre a leucemia linfoblástica aguda passa por provar como a evitar, prevenindo-a.

Esperemos que, nos próximos cinco a dez anos, estejamos em condições de evitar a maioria dos casos do cancro infantil mais comum e poupar as crianças e as suas famílias ao trauma de um diagnóstico com leucemia linfoblástica aguda", conclui.

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