Covid-19: OMS avisa que vacina não dispensa uso de máscara. Saiba porquê - TVI

Covid-19: OMS avisa que vacina não dispensa uso de máscara. Saiba porquê

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 15 dez 2020, 11:34
Coronavírus

Declarações de especialista em vacinação da Organização Mundial de Saúde indicam que a vacina possa não prevenir a propagação do vírus na comunidade, ainda que impeça o agravamento dos sintomas causados pela covid-19

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou esta segunda-feira que as pessoas devem continuar a utilizar máscaras de segurança, mesmo após terem sido vacinadas contra a covid-19.

De acordo com Kate O’Brien, especialista da OMS em vacinação, não é claro que a vacina impossibilite de forma geral uma infeção pelo novo coronavírus, ainda que haja evidência científica de que ajuda a impedir o desenvolvimento da covid-19 no corpo humano.

As declarações feitas pela representante da OMS indicam que a vacina possa não prevenir a propagação do vírus, sendo - segundo os estudos disponíveis até ao momento - eficaz apenas contra o desenvolvimento da infeção respiratória grave numa pessoa.

Assim, as pessoas vacinadas devem continuar a manter as medidas de segurança adotadas até ao momento, como o distanciamento social, o uso de máscara e a lavagem frequente das mãos, recomenda a OMS.

Estamos num momento em que é necessária mais investigação científica sobre as vacinas contra a covid-19”, afirma Kate O’Brien.

As declarações da especialista da OMS surgem num momento em que o Reino Unido e os Estados Unidos já iniciaram o grande processo logístico de vacinar toda a população. E ainda que as vacinas da Pfizer e da Moderna demonstrem resultados eficazes a prevenir uma infeção grave de coronavírus, é ainda pouco claro se vão ter resultados positivos a diminuir o número de infeções diárias.

Na mesma linha, Leana Wen, médica intensivista e professora de saúde pública na Universidade de Milken, afirma que é importante separar aquilo que a comunidade científica sabe e aquilo que ainda desconhece.

O que sabemos é que a vacina da Pfizer é muito eficaz na prevenção de doenças sintomáticas e graves. Isso significa que a vacina parece evitar que as pessoas adoeçam o suficiente para desenvolver os sintomas e, mais importante, evita que as pessoas fiquem tão gravemente doentes que acabem no hospital. Esta é realmente uma grande notícia”, afirma Wen à CNN.

 A médica alerta para aquilo que os estudos ainda não revelam: a literatura científica ainda não demonstrou se a vacina “impede que alguém carregue o vírus e o dissemine”.

É possível que alguém receba a vacina, mas ainda seja um portador assintomático. Podem não apresentar sintomas, mas têm o vírus alojado na passagem nasal e, qualquer respiração, palavra, espirro, pode resultar na sua transmissão”, remata Wen.

 

 

O problema reside nos ensaios clínicos das vacinas

Os ensaios da Pfizer e da Moderna analisaram apenas quantas pessoas vacinadas sofreram infeções por covid-19, deixando em aberto a possibilidade de alguns destes voluntários estarem assintomáticos e propagar silenciosamente o vírus.

Ou seja, se as pessoas vacinadas transmitirem o vírus sem saber, a covid-19 pode continuar a ser disseminada nas comunidades, tornando-se um risco para aqueles que ainda não tenham sido vacinados.

Há muitas pessoas que acham que, depois de serem vacinadas, não vão precisar de usar máscaras", afirma Michal Tal, imunologista da Universidade de Stanford, sublinhando que é realmente importante que saibam que terão de continuar a tomar as medidas de proteção, “porque ainda podem ser contagiosas”.
 

Na maioria das infecções respiratórias, incluindo aquelas causadas pelo novo coronavírus, o nariz é a principal porta de entrada. É aqui que o vírus se multiplica rapidamente, forçando o sistema imunológico a produzir anticorpos específicos da mucosa - o tecido húmido que reveste o nariz, a boca, os pulmões e o estômago.

 

Durante uma segunda exposição ao novo coronavírus, os anticorpos e as células imunológicas lembram-se das características da infeção e agem rapidamente para o destruir, impedindo-o de se alojar em outras partes do corpo.

Em contraste, as vacinas são injetadas profundamente no tecido muscular com o objetivo de estimular o sistema imunitário a produzir anticorpos. De acordo com o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças, esta ação parece ser suficientemente eficaz a impedir que uma pessoa vacinada fique doente com a covid-19.

Porém, ainda não se sabe a quantidade de anticorpos mobilizados pela vacina, tal como a rapidez da sua atuação. Se esse número for reduzido, o vírus pode ficar alojado no nariz e ser transmitido através do espirro ou da respiração.

Tudo se resume a uma corrida entre a replicação do vírus e a capacidade do sistema imunitário de o controlar rapidamente.

A solução, afirma Michel Tai, pode passar por uma nova geração de vacinas que garanta a imunidade em todo o trato respiratório, ou mesmo por uma injeção intramuscular seguida de um reforço para produzir anticorpos no nariz e na garganta.

 

 

As vacinas contra a covid-19 provaram ser eficazes a defender o sistema de uma infeção respiratória grave, mas não é evidente que esse escudo funcione no nariz. Os pulmões - onde se denota a maior parte dos sintomas mais graves - é muito mais acessível para os anticorpos que circulam do que o nariz ou a garganta.

Prevenir infeções graves é mais fácil, prevenir infeções leves é difícil e prevenir todas as infeções é o mais difícil”, afirma Deepta Bhattacharya, imunologista da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

 

Se a vacina é 95% eficaz na prevenção de doenças sintomáticas, será algo menos do que isso na prevenção de todas as infeções, com certeza”, argumenta o imunologista norte-americano ao jornal The New York Times.

Ainda assim, Bhattacharya revela estar otimista de que as vacinas irão suprimir suficientemente o vírus - até mesmo no nariz e na garganta -  para impedir que as pessoas imunizadas o transmitam a outras pessoas.

Continue a ler esta notícia