Cientistas criam mini órgãos para compreender o impacto da covid-19 em humanos - TVI

Cientistas criam mini órgãos para compreender o impacto da covid-19 em humanos

  • João Guerreiro Rodrigues
  • 25 nov 2020, 14:50
Ensaios da Moderna para desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19

Tudo o que é preciso para criar estes organóides são simples células presentes na pele

São considerados uma das ferramentas mais poderosas para conseguir entender como Sars-CoV-2 provoca danos em diferentes partes e órgãos do corpo. Os mini órgãos ou organóides, como lhe chamam os cientistas, permitiram entender que a covid-19 não só provoca danos no sistema respiratório, mas também no coração, no intestino, nos rins e no cérebro.

Durante o auge da primeira vaga da pandemia, muitas das terapias foram experimentadas neste mini órgãos, de forma a avaliar se existia alguma substância no mercado que poderia combater o vírus ou amenizar os seus efeitos.

Tudo o que é preciso para criar estes organóides são simples células presentes na pele. Após um processo de seleção, os cientistas realizam um procedimento para transformar as células recolhidas em células estaminais.

Para a neurologista Marília Zaluar Guimarães, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, no Rio de Janeiro, é como se as células “voltassem atrás no tempo” e, através de uma transformação genética, “tornam-se células estaminais”.

De acordo com fatores que usamos no laboratório, fazemos com que essas células estaminais se diferenciem e se especializem novamente”, explicou Guimarães à BBC Brasil.

Os especialistas sublinham que não se trata de um simples “amontoar de células”, mas sim de formações celulares mais complexas, que reúnem mais do que um tipo de célula e, muitas vezes, são visíveis ao olho nu, tornando-se realmente num órgão em escala reduzida.

No caso dos mini cérebros, por exemplo, eles são esféricos, mas não têm a mesma formação do órgão verdadeiro. O que nos permite saber que aquela estrutura se assemelha ao original são suas características celulares e bioquímicas", explica o biólogo Daniel Martins de Souza, da Universidade Estadual de Capinas.

A tecnologia é bastante recente, tendo valido o Prémio Nobel da Medicina de 2012 aos seus criadores, John Gurdon e Shinya Yamanaka, mas já mostrou o seu potencial durante a epidemia de zika, no Brasil, em 2015 e 2016.

Durante as últimas décadas, cientistas um pouco por todo o mundo utilizaram culturas de células e cobaias como principais meios para realizar estudos preliminares para remédios e vacinas.

Assim, através dos organóides, a comunidade científica pode compreender como determinada doença afeta o organismo, mesmo que de maneira simplificada, antes de realizar testes em humanos.

Com este recurso, é também ultrapassada a limitação na quantidade de animais utilizados para experiências.

É possível cultivar mini órgãos em laboratório quase que infinitamente, então eles podem ser usados para testes com novos medicamentos em larga escala", afirmou Kazuo Takayama, professor da Universidade de Quioto, no Japão.

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