Covid-19: especialista diz que "há mais vírus a circular agora do que há três meses" - TVI

Covid-19: especialista diz que "há mais vírus a circular agora do que há três meses"

Coronavírus

Investigadora espanhola diz que o risco de uma segunda vaga é real e dá a China e o Irão como exemplos

Uma especialista espanhola em virologia e imunologia diz que "há mais vírus [de Sars-Cov-2] a circular agora do que há três meses". Em entrevista ao El País, Margarita del Val, que também coordena a plataforma de saúde global do Conselho Superior de Investigações Científicas, afirma que, "se continuarmos assim, podemos nunca chegar a ter uma segunda vaga", de Covid-19.

Apesar disso, a cientista admite que já se verificam segundas vagas em alguns países. É o caso do Irão, onde o número de casos voltou a disparar depois de muito tempo com um aumento residual do número de infeções.

Para Margarita Vital, o recente aumento de casos naquele país do Médio Oriente é esclarecedor: "O risco existe. Está nas nossas mãos que os surtos não se convertam em segunda vaga. E isso pode ocorrer a qualquer momento".

Outro exemplo de novos picos é a China, onde o número de contágios atingiu níveis que não eram verificados desde abril. Margarita del Val explica que a ação das autoridades espanholas é diferente da das chinesas. Enquanto o governo de Pequim se apressou a encerrar vários serviços na capital, Espanha segue uma diferente forma de lidar com os surtos.

Em Bilbao, onde também há surtos importantes ligados a hospitais, podíamos ter encerrado, mas não o fizémos porque a estratégia é distinta", diz.

Regressando à prevalência do vírus na sociedade, a virologista é taxativa: "Há muito mais vírus a circular, mais do que antes do estado de alarme".

Além disso, refere a especialista, também existem mais surtos identificados, inclusivé em hospitais.

Estamos a testar todas as pessoas que vão ser operadas. Nestas análises estamos a detetar que pessoas sem o mínimo sinal de sintomas estão a acusar positivo, e isso representa um importante número de doentes que podem contagiar", acrescenta.

Uma das melhores defesas para evitar o surgimento de uma nova vaga é a utilização das máscaras, e Margarita del Val acrescenta que existe uma parte considerável da população que ainda não está a trabalhar fora de casa, e que por isso mantém o distanciamento social: "Se não fosse isso, a segunda vaga já teria chegado".

Relativamente à transmissão do vírus, que muitos especialistas dizem ainda não estar completamente desmistificada, a virologista espanhola diz que grande parte dos contágios ocorreu em locais públicos e com pessoas mais vulneráveis.

Agora que se analisaram os grandes surtos, sabe-se que eles ocorreram em centros de saúde ou lares de idosos, onde houve muito contacto com pessoas mais vulneráveis", refere.

Margarita del Val assume que a Europa desvalorizou a doença Covid-19, sobretudo na fase inicial, quando ainda faltavam algumas evidências. A espanhola refere que daí surge uma "lição de humildade", antes de explicar que uma segunda vaga só pode ser evitada com uma estratégia concertada de confinamento, que passe pela limitação da circulação, mas também pelo fecho de grandes espaços públicos e pela utilização massiva de máscaras. De resto, foi isso que aconteceu ao longo de quase três meses em grande parte da Europa, como foram os casos de Espanha, mas também de Portugal.

A cientista explica que o problema não é o contacto ou a proximidade de pessoas na rua, mas antes uma elevada concentração de ar contaminado.

A importância da aplicação móvel

Mas então, surge a dúvida: como podemos evitar a segunda vaga? Margarita del Val acrescenta uma ferramenta às medidas que já tinha referido: através de uma aplicação móvel.

Esta tecnologia, que tem sido falada em muitos países, permitirá conseguir identificar múltiplos casos assim que se descobre um. É importante na fase de rastreio porque é quase automática na deteção de uma eventual cadeia de transmissão.

A imunologista é clara quando confrontada com alguns dos receios e resistências à tecnologia, e diz que, apesar de ser impossível manter os níveis de liberdade a que estamos habituados na Europa, essa perda é "vital" no combate à doença.

Se eu estiver 20 minutos no metro, é fácil contagiar muitas pessoas e as poderei identificar", diz.

Em Portugal, várias aplicações estão em teste, mas até ao momento ainda não existe nenhuma anunciada como oficial.

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