Ipatimup aposta na investigação centrada nos doentes - TVI

Ipatimup aposta na investigação centrada nos doentes

Entrevista a Sobrinho Simões

Já há projectos em curso nos cancros da tiróide, estômago, mama e intestino, conta Sobrinho Simões em entrevista

Com 20 anos de existência, muita investigação, muitos artigos publicados em revistas de referência e muitos prémios, o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) tem um novo objectivo: «fazer mais investigação centrada nos doentes». E já há projectos em curso nos cancros da tiróide, estômago, mama e intestino.

Em entrevista ao IOL e ao TVI24, o director do Ipatimup, Sobrinho Simões explica que a ideia é aproveitar o material clínico humano existente no instituto, mas também no IPO Porto, na Faculdade de Medicina e no Instituto de Ciências biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Este investigador sublinha as vantagens de se partir de casos concretos. Veja e ouça aqui.

Esta utilização dos bancos de material humano, conhecidos como bio-bancos, têm ainda outras vantagens, segundo o director do Ipatimup: «Quando aparece uma nova droga é muito importante ter grupos de comparação e podemos utilizar o material dos doentes que foram submetidos a outras drogas e verificar se os que não responderam à outra, estão agora a responder positivamente à nova».

Investigação a todos os cancros da tiróide tratados

Neste momento, o Ipatimup tem em curso uma investigação de translação com o IPO e o Hospital de S. João que abrange material clínico de todos os doentes tratados com cancro da tiróide. Sublinhe-se que 95 por cento destes cancros são tratáveis e apenas cinco por cento têm complicações.

«Já recorremos a este material que estava arquivado (do cinco por cento) e estamos a ver o que tinham de diferente. O nosso objectivo é obter dados que nos permitam, no futuro, perceber, logo no início do tratamento, quais são os cinco ou dez por cento que podem dar para o torto», explica Sobrinho Simões.

A partir daqui, continua este investigador, «podemos começar logo com outras doses ou associar uma nova terapêutica. No fundo, é começar desde o início a tratar de forma diferente os que têm risco de vir a ser diferente». Esta metodologia está também a ser seguida nos cancros do estômago, mama e intestino.

Convencer as farmacêuticas a apostar

Com esta linha de acção, o Ipatimup tenta contornar também o problema que tem com a indústria farmacêutica e com o facto de não haver tradição em Portugal de registo de patentes. «Estamos a fazer uma investigação com uma componente aplicada e pensamos que vamos convencer mais farmacêuticas a apostar», explicou Sobrinho Simões em entrevista ao IOL e ao TVI24.

O Ipatimup tem ligação com «meia dúzia de farmacêuticas, mas fica tão caro e demora tanto desenvolver um medicamento, que preferem utilizar os que já existem noutras aplicações», lamenta aquele investigador. No entanto, continua, «nos locais onde há maior produção de ciência aplicada, há muitas empresas que vão buscar aos institutos o que estes têm de bom para fazer dinheiro».

Promover a saúde com o «Cancer Mobile»

O Ipatimup vai lançar brevemente o «Cancer Mobile», cujo objectivo é ensinar conceitos básicos a alunos do secundário. «Não vamos insistir muito na doença cancerosa, mas vamos insistir na doença. Vamos mostrar, por exemplo, como funciona o estômago», explica Sobrinho Simões. Veja e ouça mais aqui.

Mais do que fazer a prevenção do cancro, este projecto pretende funcionar como um instrumento de educação para a Saúde. Por isso mesmo, vão ensinar também a ler um rótulo, para que saibam comprar um protector solar ou, por exemplo, saberem o que é a vitamina C.

Sobrinho Simões e o Ipatimup acreditam no sucesso do «Cancer Mobile» até porque «os miúdos agora são mais sensíveis a conceitos positivos, como ser desportista ou não fumar».
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