Mark Miodownik é engenheiro, professor da University College Londonn e o principal responsável pela escolha das fontes de energia renovável portuguesas como um dos acontecimentos do ano que está a acabar.
Para o painel dos especialistas ouvidos pelo The Guardian, entre os 12 acontecimentos científicos mais relevantes em 2016, positivos ou negativos, só o surgimento do vírus Zika e a aterragem vertical do reutilizável foguetão SpaceX, ficaram à frente das energias portuguesas.
Tudo porque, entre 4 e 11 de Maio, o consumo energético de Portugal foi abastecido durante 107 horas com recurso apenas a energias renováveis. Sem recurso a fontes fósseis como o carvão ou o petróleo.
O ponto alto do ano para mim, na perspetiva da engenharia, foi o anúncio em Portugal de que as renováveis abasteceram o país durante quatro dias consecutivos, no início de maio”, refere o cientista nas páginas do The Guardian.
"Temos de nos afastar dos combustíveis fósseis"
Já em maio, o jornal britânico dava nota do sucesso português, referindo que "o consumo elétrico no país tinha sido satisfeito pela energia solar, eólica e hidroelétrica num extraordinário período de 107 horas entre as 6:45 de sábado, 7 de maio, às 5:45 da quarta-feira seguinte".
Substituirmos os combustíveis fósseis pelas energias renováveis é, certamente, o desafio mais importante da engenharia e da ciência no nosso tempo", sustenta agora Mark Miodownik.
Para o cientista, a melhor forma de evitar as alterações climáticas passa por nos afastarmos dos "combustíveis fósseis", o que Portugal está a querer fazer.
O sucesso de Portugal dá aos governos e companhias de energia um exemplo palpável de como é e como pode ser possível, e ainda porque é que eles devem continuar a investir no solar, vento e outras tecnologias renováveis”, refere o cientista.
Energia para usar e vender
Em maio, os quatro dias que Portugal passou a consumir apenas energia renovável foram, de imediato, aplaudidos.
Assistimos a tendências como esta espalhadas por toda a Europa, no ano passado com a Dinamarca e agora em Portugal. A Península Ibérica é uma grande fonte de energias renováveis e de energia eólica, não apenas para a região, mas para toda a Europa", sustentou então Oliver Joy, da associação WindEurope.
Nas páginas do The Guardian, também o diretor da SolarPower Europe, James Watson, considerava o caso português como "um avanço significativo para um país europeu", que será comum "em toda a Europa dentro de poucos anos".
O processo de transição energética está a ganhar força e recordes como este irão continuar a ser superados em toda a Europa", salientava James Watson.
No ano passado, a força do vento produziu 22% da energia em Portugal. E todas as fontes de renováveis alimentaram quase metade das necessidades do país (48%), segundo a APREN, a Associação de Energias Renováveis.
O The Guardian fazia contudo notar que o aumento da aposta portuguesa nas energias limpas tinha sofrido um congelamento dos investimentos, quando "os esquemas de apoio à nova capacidade eólica foram reduzidos em 2012".
Apesar disso, Portugal acrescentou 550 megawatts de capacidade eólica entre 2013 e 2016. E os grupos industriais focam-se agora no potencial de exportação da energia verde, dentro e fora da Europa", escrevia o jornal britânico.