Fotografar Plutão era um dos grandes desafios da NASA do início do séc. XXI e, três anos e meio depois de o ter conseguido, a estação espacial norte-americana prepara-se para ultrapassar, novamente, os limites da expansão humana no espaço.
A sonda New Horizons partiu da Terra há já 13 anos e, nesta noite de fim de ano, prepara-se para chegar perto de um pequeno astro misterioso, muito para lá do último planeta do sistema solar, a que decidiu apelidar Ultima Thule. O seu nome significa "para lá do mundo conhecido".
Os cientistas têm ainda algumas dúvidas sobre se se trata de apenas um ou dois objetos, devido à distância e pouca luz solar, mas a sua composição é maioritariamente pedra e gelo e terá cerca de 32 km de largura. Do que estão quase seguros, no entanto, é que se trata de restos imaculados dos primeiros tempos do Sistema Solar.
A mais de seis mil milhões de quilómetros da Terra, a New Horizons chega à Ultima Thule com a missão de capturar o máximo de informação e fotografias possível, isto a uma velocidade de mais de 51 mil km/h. Será por volta da meia-noite de 31 de dezembro para 1 de janeiro (hora da costa leste dos Estados Unidos) que os cientistas vão começar a observar a Ultima Thule e o momento em que a New Horizons passará mais perto será por volta das 00:30.
Esta missão é um prolongamento da missão original da New Horizons: recolher informação sobre Plutão. Em julho de 2015, a New Horizons descobriu várias superfícies geladas e uma espécie de atmosfera no planeta-anão.
Apesar de se tratar de uma extensão, esta missão pode mostrar-se ainda mais reveladora do que a anterior, uma vez que a Ultima Thule pode ser o objeto mais antigo do Universo alguma vez encontrado por uma nave espacial, permitindo assim perceber melhor o processo de formação do sistema solar e seus planetas.
A Ultima Thule encontra-se numa região na fronteira do sistema solar conhecida por Cintura de Kuiper, de que Plutão e as suas luas também fazem parte. Este objeto fica, no entanto, cerca de mil milhões de kms mais longe da Terra do que o planeta-anão. Foram precisos mais de dez anos para que a New Horizons chegasse a Plutão, isto apesar de viajar a quase 58 mil km/h, mais depressa do que qualquer outra missão anterior.
Os cientistas suspeitam que a Cintura de Kuiper seja casa para centenas de milhar de asteróides, cometas e outros objetos espaciais tão grandes como a Ultima Thule, cujo nome oficial é 2014 MU69.
A esta distância, a luz do Sol mal se faz sentir, mas não a sua força gravitacional: a Ultima Thule faz parte de um grupo de objetos da Cintura de Kuiper que orbita em torno do astro numa trajetória circular quase perfeita, ao contrário dos restantes planetas, como é o caso da Terra, que têm uma órbita em forma de elipse. Esta órbitra sugere que a Ultima Thule terá evitado colisões com outros objetos espaciais desde que o Sistema Solar se formou, há 4,6 mil milhões de anos.
Várias dificuldades no caminho da New Horizons
Os cientistas da NASA passaram o último ano a ajustar vários comandos da New Horizons para esta nova missão, num processo bastante complicado e arriscado, mas que será feito em piloto automático, sem intervenção da sala de controlo, na Terra.
As dificuldades com que os cientistas se depararam são praticamente as mesmas de quando a New Horizons passou perto de Plutão, em julho de 2015. No entanto, como a Ultima Thule é um objeto bastante mais pequeno e está mais longe da Terra do que o planeta-anão, as mensagens enviadas e recebidas demorarão mais uma hora e meia a chegar a cada parte, numa espera de seis horas para cada lado.
A velocidade a que a New Horizons se desloca, conjugada com o tamanho da Ultima Thule, apresenta também os seus problemas. Se a nave espacial não viajasse tão depressa, não chegaria ao objeto num período de tempo razoável. No entanto, precisamente por causa da velocidade, os cientistas tiveram de pré-programar uma sequência de observações para assegurar que a Ultima Thule se encontra no enquadramento das câmaras da New Horizons. Um pequeno deslize e a viagem terá sido em vão.
A New Horizons deverá passar quatro vezes mais perto da Ultima Thule do que passou de Plutão, há três anos e meio, mas tal depende do que a nave espacial encontrar no seu caminho.
As primeiras informações e imagens da Ultima Thule deverão chegar à Terra quando forem 10 da manhã na costa leste dos Estados Unidos, mais cinco horas em Lisboa. No entanto, as informações mais detalhadas e as imagens com maior resolução chegarão só no final do dia ou já dia 2 de janeiro.
Há mais missão para lá do "para lá do mundo conhecido"
A chegada à Ultima Thule não será, no entanto, o fim da missão da New Horizons. Enquanto que a missão original era a exploração de Plutão, o objetivo da NASA é agora a Cintura de Kuiper e as atenções dos cientistas estão agora viradas para a descoberta de um novo alvo para 2020.
Apesar de ter saído da Terra há mais de uma década, a New Horizons tem combustível suficiente para continuar a exploração até meados dos anos 2030.