Para travar o surto do novo coronavírus, inimigo invisível que já infetou mais de meio milhão de pessoas em todo o mundo, os profissionais de saúde têm-se deparado com dificuldades acrescidas para salvar vidas quando faltam ventiladores.
A razão pela qual a falta de ventiladores representa uma crise dentro da própria pandemia é que sem eles os pacientes morrem”, referiu o professor David Story, especialista australiano em cuidados intensivos, ao jornal The Guardian.
Para perceber a importância dos ventiladores é igualmente importante entender como este novo coronavírus ataca os pulmões. O doente por Covid-19 em estado grave apresenta grandes dificuldades respiratórias, chegando mesmo a não conseguir respirar sozinho.
Antes de precisar de um ventilador, o doente por Covid-19 tem auxílio de máscara de oxigénio. Quando e se esse mecanismo deixar de ser eficaz, o paciente terá de ser anestesiado, entubado e ligado a um ventilador.
Em casos mais complicados chega a ser necessário ligar o ventilador diretamente à traqueia através de uma traqueostomia. Também por este motivo, os especialistas australianos explicaram que a recuperação de um doente por Covid-19 ligado a um ventilador pode demorar semanas.
Neste sentido, um ventilador mais não é uma máquina que irá substituir os pulmões quando o órgão começa a falhar, como acontece num quadro de pneumonia severa.
Sem acesso a um ventilador, a maioria dos doentes por Covid-19 em estado grave não conseguirão sobreviver”, disse a especialista australiana em pneumologia Sarath Rangananthan ao The Guardian.
Portugal contabiliza mais de 3.400 casos ativos, mas somente 61 pessoas necessitam de cuidados intensivos de saúde. O que, no caso português, ainda está sob controlo face ao número de ventiladores disponíveis.
Tudo muda de figura quando se analisam o número de mortes.
Se Itália já contabiliza mais de oito mil mortos, a Alemanha tem vindo a destacar-se pela positiva. Em mais de 43 mil casos de infeção por Covid-19, só há 239 vítimas mortais. Mas o que justifica esta diferença tão acentuada de números?
Quando o surto do novo coronavírus chegou à Europa, a Alemanha já tinha cerca de 25 mil ventiladores e Angela Merkel encomendou mais 10 mil quando a pandemia escalou.
Ao contrário, Itália conta com somente cinco mil ventiladores. Números que explicam claramente porque os médicos italianos estão a ver-se obrigados a escolher quem deve ser entubado.