A caça, a agricultura e o movimento global de pessoas para cidades causaram declínios estruturais na biodiversidade e aumentaram o risco de vírus e doenças perigosas, como a Covid-19, passarem de animais para humanos. A conclusão é de um estudo publicado pela revista científica Proceedings B of the Royal Society. Os cientistas australianos e norte-americanos que realizaram a investigação chegaram a uma lista dos animais cuja probabilidade de partilharem doenças com os seres humanos é maior, tendo em conta os 142 vírus conhecidos por terem sido transmitidos dos primeiros para os segundos.
Dos seres vives domesticados, os cavalos são o animal com quem o homem mais vírus partilha, depois vêm os porcos, as vacas, as ovelhas, os cães e os gatos.
Dos animais selvagens, destaque para os ratos, os morcegos, os primatas e, no fim da lista, as lebres.
AFP graphic showing which animals host the most zoonotic viruses that have also been found in humans@AFPgraphics pic.twitter.com/QbhAVuDPUS
— AFP news agency (@AFP) April 14, 2020
O trabalho científico conclui que o risco de contágio de vírus de animais para humanos é maior quando estão em causas espécies ameaçadas, cuja população tenha diminuído drasticamente devido à caça, ao comércio ou à perda de habitat. Significa, isto, que a culpa da transmissão é, em grande parte, do homem.
A disseminação de vírus a partir de animais é o resultado direto das nossas ações que envolvem a vida selvagem e o seu habitat. A consequência é que eles (os animais) estão a partilhar os seus vírus connosco. Numa infeliz convergência de muitos fatores, causa aquilo que estamos a viver agora", garantiu Christine Kreuder Johnson, a autora principal do estudo.
Precisamente por isto, cerca de duas centenas de associações e movimentos de defesa da vida selvagem escreveram para a Organização Mundial da Saúde a pedir que recomendasse aos países uma abordagem preventiva ao negócio de animais selvagens e determinasse a proibição tanto de mercados de animais selvagens, como do uso destes seres vivos na medicina tradicional.
Precisamos de estar realmente atentos à maneira como interagimos com a vida selvagem e às atividades que unem humanos e outros animais. Obviamente, não queremos voltar a ter pandemias a esta escala. Precisamos de encontrar uma maneira de coexistir em segurança com a vida selvagem, porque eles não têm falta de vírus para nos transmitir", conclui a cientista Christine Kreuder Johnson.
O SARS-CoV-2, conhecido como novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19 é, precisamente, um dos casos de transmissão de uma doença de animais para humanos. Acredita-se que o vírus tenha origem em morcegos, por ter grande semelhança genética com os coronavírus encontrados nestes mamíferos, e terá estado envolvido num reservatório intermédio, provavelmente um pangolim, antes de ser transmitido ao homem.