Cientistas europeus anunciaram esta quinta-feira ter descoberto anticorpos que atacam o Zika, um passo que esperam vir a permitir o desenvolvimento de uma vacina contra este vírus, responsável por lesões cerebrais em fetos.
Os anticorpos - os "soldados da frente" do sistema imunitário - "neutralizaram eficazmente" o Zika em células humanas em laboratório, e foram também eficazes contra um outro vírus semelhante, o dengue, anunciou a equipa num artigo publicado na revista Nature.
De acordo com a AFP, a descoberta coincide com um outro estudo, também publicado esta quinta-feira, que sugere que a recente explosão de zika na América Latina poderá ter sido favorecida por uma pré-exposição ao dengue.
A descoberta "pode levar ao desenvolvimento de uma vacina universal" contra as duas doenças, esperam os cientistas.
As moléculas capazes de neutralizar o Zika foram retiradas de pessoas que já tinham sido infetadas com dengue e cujos sistemas imunitários produziram anticorpos para combater a doença.
"Os anticorpos poderiam ser usados, por exemplo, para proteger mulheres grávidas com risco de contrair o vírus Zika", disse Felix Rey, especialista em virologia no Instituto Pasteur, em Paris, coautor dos estudos.
"Nunca esperámos descobrir que os vírus do dengue e do Zika são tão próximos que alguns anticorpos produzidos contra o vírus do dengue possam também neutralizar o vírus do Zika de forma tão potente", acrescentou.
Mas Felix Rey admitiu que até se conseguir uma vacina eficaz, há um longo caminho a percorrer: "Ainda há muito a fazer, nomeadamente realizar um ensaio clínico. Isto pode levar algum tempo", explicou.
Benigno para a maioria das pessoas, o Zika tem sido ligado a lesões cerebrais severas (microcefalia) em bebés, e a um raro problema neurológico em adultos, tal como a síndrome de Guillain-Barre, que pode causar paralisia e morte.
Num surto que começou em 2015, cerca de 1,5 milhões de pessoas foram infetados com Zika no Brasil, num total mundial de cerca de dois milhões de pessoas, e mais de 1.600 bebés nasceram com cabeças e cérebros anormalmente pequenos.
A investigação fez uma revelação preocupante: além dos dois anticorpos que destroem o Zika, a maioria das moléculas ativas contra a dengue podem aumentar a potência do Zika.
Isto sugere que uma prévia exposição ao vírus da dengue "pode aumentar a infeção por Zika", disse Gavin Screaton, do Imperial College London, no Reino Unido, outro dos autores dos estudos.
"Isto pode explicar por que o atual surto tem sido tão severo e por que ocorre em áreas onde a dengue é prevalecente", referiu.
Esta descoberta sublinhou a importância de utilizar os anticorpos corretos na vacina contra o Zika, disse Felix Rey.
Até o momento não existe nenhuma vacina para se proteger do zika, ao contrário do dengue, que já dispõe de uma vacina desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur.