Estudos em ratos mostram que Zika atravessa placenta e infeta feto - TVI

Estudos em ratos mostram que Zika atravessa placenta e infeta feto

Maria Geovana nasceu com microcefalia. Recife, Brasil

Dois estudos científicos independentes demonstram, pela primeira vez em modelos animais, que o vírus atravessa a placenta e infeta o feto, provocando danos cerebrais

Dois estudos científicos independentes demonstram esta quarta-feira, pela primeira vez em modelos animais, que o vírus do Zika atravessa a placenta e infeta o feto, provocando danos cerebrais.

Um dos estudos, realizado por cientistas da Universidade de São Paulo, no Brasil, e publicado esta quarta-feira na revista Nature, revela que a estirpe do vírus do Zika atualmente a circular no Brasil atravessa a placenta e provoca uma restrição no crescimento, incluindo sinais de microcefalia, em ratos.

O outro estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade de Washington, nos EUA, e publicado na revista Cell, concluiu que o vírus passa do sangue materno para o do feto, multiplicando-se na placenta, e infeta o cérebro em desenvolvimento, onde se registam danos nos neurónios.

No entanto, estes cientistas não observaram casos de microcefalia - que se observam nos fetos humanos, caracterizados por cabeças anormalmente pequenas.

Ambos os estudos são apresentados como a primeira prova experimental de que o vírus do Zika atravessa a placenta e provoca danos no feto realizada num modelo animal.

No primeiro estudo, os cientistas brasileiros Patrícia Beltrão Braga, Jean Pierre Peron e Alysson Muotri usaram um vírus isolado de um caso clínico no nordeste do Brasil e infetaram duas variedades de ratas grávidas (SJL e C57BL/6).

Avaliaram as crias imediatamente após o nascimento e concluíram que os filhos das ratas SJL infetadas com o vírus apresentavam evidências claras de atraso do crescimento, ou restrição do crescimento intrauterino, e apresentavam sinais de microcefalia, incluindo malformações corticais, quando comparados com ratos não infetados.

Já nas crias do modelo C57BL/6 infetado com Zika não se observaram diferenças significativas, o que os cientistas admitem poder dever-se a uma resposta imunitária mais robusta desta variedade.

"O nosso trabalho fornece a primeira prova experimental direta de que a estirpe do Zika a circular no Brasil provoca defeitos congénitos", disse Alysson Muotri, numa conferência de imprensa transmitida por telefone.

Na mesma conferência, Patrícia Beltrão Braga acrescentou que a equipa encontrou mais do que apenas microcefalia nas crias de rato: "Vimos outros danos neurológicos, talvez se trate de um síndroma congénito provocado pelo Zika, não só de microcefalia".

Já no estudo publicado na revista Cell, os cientistas infetaram dois modelos diferentes de ratas grávidas com o vírus do Zika cerca de uma semana após a conceção e examinaram as placentas e os fetos seis a nove dias depois.

Ambos os modelos revelaram alguns aspetos chave da infeção humana por Zika: "Tal como nos humanos, nos ratos o vírus passa do sangue materno para o do feto e infeta o cérebro em desenvolvimento, onde se registam danos nos neurónios".

No entanto, os cientistas não observaram casos de microcefalia em qualquer dos modelos de ratos.

Para os investigadores, isto pode dever-se às diferenças no desenvolvimento dos cérebros em ratos e humanos.

Indira Mysorekar e Bin Cao, coautora sénior e coprimeiro autor do estudo, encontraram o vírus na placenta em concentrações mil vezes superiores às detetadas no sangue materno, o que sugere que o vírus não apenas migrou para a placenta, mas ali se multiplicou.

Os investigadores querem agora usar este modelo para perceber se a infeção pré-natal com Zika provoca problemas neurológicos de longo prazo em crias que nasceram sem danos cerebrais óbvios.

Embora nem todos os filhos de mulheres infetadas por Zika durante a gravidez desenvolvam microcefalia, não se sabe se os bebés aparentemente saudáveis poderão sofrer de défices intelectuais ou de desenvolvimento quando crescerem.

O vírus do Zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, provoca sintomas gripais benignos, mas está também associado a microcefalia, doença em que os bebés nascem com o crânio anormalmente pequeno e défice intelectual, assim como ao síndroma de Guillain-Barré, uma doença neurológica grave.

O Brasil, o país mais afetado pelo surto de Zika que começou em , já registou mais de um milhão e meio de casos, havendo registo de 1.271 casos de microcefalia ou outras malformações do sistema nervoso central suspeitos de ligação à infeção por Zika.

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