Identificados genes da «gripe espanhola»

Virologistas norte-americanos identificaram três genes que explicam a extrema virulência do vírus da gripe espanhola de 1918, a pior pandemia da história humana, que fez entre 20 e 50 milhões de mortos.

Foi sobretudo graças a esse grupo de genes que os vírus se reproduziram nos tecidos pulmonares, uma característica particular daquela gripe, que fez mais vítimas do que todas as batalhas da Primeira Guerra Mundial, segundo um estudo hoje publicado.

«Os vírus convencionais da gripe multiplicam-se principalmente nas partes superiores das vias respiratórias (boca, garganta e nariz), enquanto os da gripe espanhola também se reproduziam nos pulmões», explica um dos autores do estudo, Yoshihiro Kawaoka, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Winsconsin.

As autópsias de vítimas desta pandemia revelavam frequentemente pulmões cheios de líquido e gravemente danificados por hemorragias.

Os virologistas avançaram a hipótese de que a capacidade do vírus da pandemia de 1918 de invadir os pulmões se devia a uma virulência excepcional, mas desconheciam-se os genes responsáveis por esta virulência, de acordo com este trabalho publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

A descoberta dos três genes e do seu papel no desenvolvimento da infecção nos pulmões poderá abrir caminho a uma identificação rápida da virulência potencial de uma nova estirpe viral pandémica, sublinha Yoshihiro Kawaoka.

Estes genes poderão assim tornar-se alvo de uma nova classe de antivirais a desenvolver com urgência, já que quando começar uma nova pandemia não será provavelmente possível produzir um número suficiente de vacinas para evitar a sua propagação, acrescentou o virologista.

Os investigadores recriaram o vírus da «gripe espanhola» de 1918 a partir de materiais genéticos provenientes de tecidos pulmonares de três vítimas da doença.