Atentado em Ancara também abalou o futebol turco - TVI

Atentado em Ancara também abalou o futebol turco

Ataque suicida na Turquia faz vários mortos

Os depoimentos de Tiago Pinto e Djalma, atualmente a jogar na capital turca

A Turquia voltou a vestir-se de negro esta segunda-feira, no dia seguinte a mais atentado em Ancara, o segundo em menos de um mês. Um carro-bomba explodiu no centro da capital turca, às 18h35 locais deste domingo (menos duas horas em Lisboa), e os últimos balanços apontam para 37 mortos e mais de uma centena de feridos.

Entre as vítimas mortais está o pai de Umut Bulut, internacional turco e jogador do Galatasaray. Kemal Bulut estaria a regressar do jogo do seu filho, no reduto do Gençlerbirligi, que tinha terminado pouco antes, quando foi apanhado pela violenta explosão.

Nesse encontro participou Djalma, jogador luso-angolano que passou por Marítimo e FC Porto antes de rumar à Turquia. O atentado deu-se a menos de três quilómetros do Estádio 19 de Maio, casa do Gençlerbiligi, equipa para a qual o avançado se transferiu no verão passado.

Djalma (segundo a contar da esquerda) no dia da apresentação pelo Gençlerbirligi

Djalma foi adversário de Umut Bulut num jogo que decorreu com total normalidade e que teve mais de 40 mil pessoas nas bancadas. «Apesar de muitas outras pessoas estarem a passar por momentos de infelicidade, trata-se de um colega de profissão. Jogou contra nós e isso acaba por ter mais impacto», conta à MF Total.

«Nós já estávamos no centro de treinos quando a explosão aconteceu. É perto do estádio, a sensivelmente dois quilómetros e talvez a cinco da zona do atentado, mas foi audível. Percebemos logo que tinha sido outro atentado», acrescenta o jogador.

A expressão «outro atentado» não surge por acaso. É o terceiro em cinco meses a abalar a capital turca, onde vive também Tiago Pinto. O lateral esquerdo português estava em casa quando ocorreu o ataque bombista, um dia depois de ter jogado em Istambul.

«Estava a jantar e até soube por familiares que me ligaram de Portugal, a perguntar se estava tudo bem, que eu ainda nem sabia. Depois as pessoas do clube também começaram a trocar mensagens, a perguntar se estava tudo bem», relata o jogador luso à MF Total.

«Soube já nesta segunda-feira que uma das vítimas era o pai do Bulut, através do meu tradutor. Procuro sempre informar-me de tudo com ele», acrescenta Tiago Pinto, que diz que «o perigo parece mais iminente quando a situação é mais próxima».

O jogador português passa muitas vezes de carro na Praça Kizilar, local de uma tragédia que andou ainda mais perto de um colega de equipa. «Temos um guarda-redes que treina connosco, ainda júnior, que estava no local no momento do atentado. Encontrava-se do outro lado da rua mas até ia atravessar para a zona dos autocarros», relata o lateral esquerdo.

Atento ao que se passa na Turquia, mas não só, Tiago Pinto diz que o dia «foi muito triste». «Eu sinto muito estas coisas. Foi assim também com os atentados em Paris ou com o atentado na Costa do Marfim, também no domingo», afirma.

A digerir o sucedido, o jogador português ainda não mediu o impacto que os atentados podem ter na definição do seu futuro profissional: «Não pensei nisso. A minha mulher está a gostar de estar aqui, as minhas filhas adaptaram-se bem à escola. Não sei o que vai acontecer...»

«Não sei se é bem medo que sinto, ou antes preocupação. Deixa-nos aquela sensação de que não podemos fazer nada, que não conseguimos controlar isto», acrescenta Tiago Pinto, que diz que as rotinas na capital turca «têm sido as mesmas, embora se sinta apreensão». «Há alguma tensão, mas não se nota no dia a dia. Talvez seja um mecanismo de defesa das pessoas...», questiona.

Djalma esteve de folga nesta segunda-feira, e evitou as zonas movimentadas de Ancara, seguindo as indicações do clube, até porque vive na periferia da cidade. O luso-angolano assume que a segurança foi uma preocupação logo quando surgiu a possibilidade de rumar à Turquia, mas só nos últimos meses tornou-se um problema mais sério, já depois de ter vivido em Istambul (onde representou o Kasimpasa) e Konya (onde esteve ao serviço do Konyaspor).

«É óbvio que estes últimos acontecimentos levam-nos a refletir se vale a pena continuar aqui, porque isto não acontece em Portugal. Tenho cá família comigo: a minha esposa e dois filhos pequenos, e estamos a conversar. O meu contrato termina no verão e estou a pensar se valerá a pena continuar», confessa.

Até lá é preciso trabalhar com a normalidade possível, e curiosamente a próxima jornada da Liga turca terá um dérbi entre o Osmanlispor e o Gençlerbirligi.

«Os turcos são muito nacionalistas, colocam as bandeiras nas varandas. É assim quando morrem soldados no estrangeiro, por exemplo. Tivemos um jogo em que foi tocada a marcha fúnebre militar», relata o lateral esquerdo português, na antecipação do duelo com Djalma.

 

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