A história do jogador que nasceu no mesmo dia que o Maisfutebol - TVI

A história do jogador que nasceu no mesmo dia que o Maisfutebol

«Chorei muito quando fui dispensado pelo Sporting mas consegui erguer-me», salienta Tiago Gamito

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Tiago Gamito é natural de Alhos Vedros e nasceu a 5 de junho de 2000, no mesmo dia que o Maisfutebol. Filho de um antigo jogador, entrou no Fabril do Barreiro com apenas quatro anos e continua a perseguir o sonho de uma carreira no futebol profissional.

O Maisfutebol surgiu para contar histórias e dar voz aos verdadeiros protagonistas do desporto que nos apaixona. Por isso, em dia de 20.º aniversário, procurámos alguém que representa a classe mais importante do futebol: os jogadores. A história do Tiago é apenas mais uma entre tantas outras, entre sonhos realizados e desfeitos, em vidas que giram em torno de uma bola e duas balizas. Como disse certa vez o italiano Arrigo Sacchi, o «futebol é a coisa mais importante de entre as coisas menos importantes».

«O meu pai era jogador de futebol, jogava aqui no Distrito de Setúbal. Chegou a ser chamado para o Benfica, mas o meu avô não o deixou ir. Tenho também um irmão com mais quatro anos que foi guarda-redes do Fabril. O futebol sempre foi a minha paixão, desde que me lembro», começa por dizer Tiago Gamito.

Na temporada 2019/20, a primeira como sénior, o defesa-central de elevada estatura (1,88m) esteve ao serviço do Coruchense, da 1.ª divisão da Associação de Futebol de Santarém. Fabril, Sporting, Vitória de Setúbal, Alcochetense, Sacavense e Olímpico de Montijo foram as outras etapas deste curto percurso.

No dia em que celebra o 20.º aniversário, tal como o Maisfutebol, Tiago Gamito garante que o futebol continua a ser o principal objetivo mas não está a sonhar com os olhos fechados. Admite que chorou quando foi dispensado pelo Sporting, com apenas 12 anos, mas deu a volta e foi preparando alternativas: tirou um curso de cozinha e estuda Gestão Hoteleira no Instituto Politécnico de Setúbal.

«O sonho de criança, de ser jogador profissional, está cá sempre. Enquanto puder, vou tentar ser jogador profissional, nem que seja com 30 anos. Mas sei que o futebol é muito incerto e convém ter sempre uma alternativa», resume.

O sonho de criança, lá está, começou a ganhar forma em redor do Estádio Alfredo da Silva, casa do Fabril do Barreiro, a antiga e popular CUF, que chegou a receber os grandes do futebol português: «Comecei a jogar com quatro anos, a treinar com os mais velhos, sou de 2000 e comecei a treinar com os de 1997 ou 1998. Em 2007, inscreveram-me e fui campeão do distrito de Setúbal. Fiz duas épocas no Fabril e fui chamado para o Sporting.»

Tiago Gamito, com apenas oito anos, nos infantis B do Fabril do Barreiro

«Naquele escalão, o Sporting treinava na Cidade Universitária. Fui eu e mais dois colegas para lá, eles tinham uma carrinha que fazia o trajeto inteiro e eu tinha de faltar às aulas, porque os treinos eram às 18h00 e eu, para chegar a tempo, tinha de entrar na carrinha às 16h00/16h30», recorda.

Tiago Gamito tinha apenas dez anos quando começou a sacrificar a escola em prol do futebol: «Como sou de Alhos Vedros, era dos primeiros a ser levado na carrinha e sempre o último a ser deixado. Chegava a casa por volta das 23h00. Foi muito complicado, mas foi uma grande experiência.»

«Tive a oportunidade de jogar com o Thierry Correia, com o Daniel Bragança, para além do Rafael Leão e o Rafael Camacho, que sempre se destacaram. O Rafael Leão era uma pessoa muito extrovertida, brincava com tudo, enquanto Rafael Camacho era mais introvertido. Também joguei com o Nuno Tavares, que não se destacava tanto. Nunca pensei que chegasse onde está, sinceramente. É sinal que evoluiu, nunca pensei, mas é muito bom. Estava no Sporting e depois foi para o Benfica», diz.

Nuno Tavares e Tiago Gamito no Sporting
Nuno Tavares [atualmente no Benfica] ao lado de Tiago Gamito no Sporting

A aventura no Sporting, a etapa mais brilhante da curta carreira, durou apenas dois anos: «Foi uma decisão do Sporting, quiseram dispensar-me. Ainda chorei, chorei bastante, não estava à espera de ser dispensado e deixar de representar um dos melhores clubes de Portugal. Foi complicado. Falaram primeiro com o meu pai, ele depois contou-me, fiquei um bocado chocado, desiludido comigo próprio, mas consegui erguer-me.»

«Perdi bastante da minha adolescência»

«Grande parte da responsabilidade de não ter singrado foi também pela parte psicológica, pela distância, por não estar com a família e os amigos. Sair de casa às 8 da manhã, com 11 anos, e voltar às 23h00, não me permitia estar com ninguém. Depois, tinha também os fim-de-semanas ocupados. Um miúdo com 11/12 anos quer é estar com amigos e divertir-se, aproveitar a adolescência. Tive muitos colegas que deixaram o futebol para terem uma vida normal, enquanto eu perdi bastante da minha adolescência», lembra.

Aos 12 anos, Tiago Gamito sofreu a primeira grande desilusão e rumou ao Vitória de Setúbal: «Estavam a jogar no Vitória dois amigos meus de infância, isso foi bom. Mas ao fim de dois anos, não estava a gostar da forma como estava a ser representado o clube, não me estava a sentir confortável a jogar pelo Vitória. Fui para o Alcochetense, um dos clubes que melhor me recebeu. Após duas épocas no Alcochetense, fui uma temporada para o Sacavenense, mas tive umas chatices com o treinador e acabei por voltar para o Fabril», recorda o jovem.

Na temporada 2017/18, ainda como júnior de primeiro ano, o defesa-central concretizou um dos seus sonhos: jogar pela equipa principal do Fabril no Estádio Alfredo da Silva. «Cheguei a ser apanha-bolas do Fabril e sempre quis chegar ao patamar dos seniores, jogar naquele estádio, bonito e grande, e sentir o apoio do público. Por acaso até joguei como 6.»

Tiago Gamito trocou o Barreiro pelo Montijo e, ao serviço do Olímpico, deu mais um passo para a sua afirmação. «Tínhamos uma grande equipa de juniores, conseguimos ser campeões e subir ao campeonato nacional. Pelo meio, em janeiro, tive a oportunidade de jogar pelos seniores num particular frente ao Legia de Varsóvia no centro de estágio do José Mourinho, em Tróia. Apanhei pela frente jogadores como o Salvador Agra, de um nível muito alto, e foi uma experiência inesquecível», salienta.
 

Tiago Gamito com o troféu de campeão de juniores pelo Olímpico do Montijo

«Entretanto, comecei mais tarde a pré-época seguinte porque fui para a Madeira realizar um estágio de dois meses. No 10.º ano, tirei um curso de Cozinha e tinha de realizar estágios no âmbito desse curso. No final tive uma prova de aptidão profissional, onde tive de confecionar um prato. Juntei a comida mediterrânica com comida asiática, juntei risotto com salmão e um molho asiático e ficou muito bom, chamei-lhe Salmão à la Gamite (risos).»

Determinado a explorar alternativas para o futebol, a não apostar todas as fichas num futuro que não está assegurado, o jovem decidiu apostar na sua formação: «Neste momento, estou a tirar o nível 5 de Gestão Hoteleira no Instituto Politécnico de Setúbal, para ter outra via sem ser o futebol. Se não for jogador profissional, posso ser um gestor de F&B (Food and Beverage), ou ser gestor de um hotel ou de um restaurante.»

Sem espaço no plantel sénior do Olímpico de Montijo, que já estava formado, o jogador seguiu para o Coruchense. «Fica a cerca de uma hora e pouco, estou a voltar ao que vivi no Sporting. O clube tem uma carrinha, encontrava-me com eles na estação de Setúbal depois das aulas e arrancava. Basicamente, só vinha a casa para comer e dormir, era sair às 8h30 e chegar novamente a casa só às 23h30», recorda.

«Foi uma época dura, não tenho tido muita sorte. No ano passado, parti o braço. Este ano, fiz uma rotura de ligamentos no tornozelo e não jogo há seis meses. Ainda por cima, surgiu o vírus que parou todos os campeonatos. Mas já estou recuperado, neste momento estou livre e quero um clube para ganhar ritmo, para jogar na próxima época. Vou continuar a perseguir o meu sonho de ser jogador profissional», remata Tiago Gamito, sem hesitar.

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