Sporting-Sp. Braga: ligações, negócios e pontes que vão definindo o duelo - TVI

Sporting-Sp. Braga: ligações, negócios e pontes que vão definindo o duelo

Sp. Braga-Sporting

São várias e começam, claro, no banco dos arsenalistas. Mas há também Esgaio e Wilson Eduardo, jogadores que encontraram no Minho o espaço que lhes faltou em Alvalade. As movimentações entre os dois clubes e o olhar de quem jogou dos dois lados

O campeonato está em ponto de rebuçado, com FC Porto, Benfica e Sp. Braga em dois pontos, uma luta a três na frente como não se via há muito. Vem aí uma 22ª jornada que tem o líder FC Porto frente ao V. Setúbal, depois da derrota em Roma a meio da semana, o Benfica de visita a um Desp. Aves em recuperação e tem Sporting-Sp. Braga. Muito em jogo para o trio da frente e para um Sporting a sete pontos de distância do rival deste domingo e a nove da liderança, com muito que provar, mais ainda depois da derrota caseira com o Villarreal a meio da semana, e uma montanha para subir. E em Alvalade um desafio que ganhou dimensão e equilíbrio com uma ascensão do Sp. Braga que se faz dos resultados mas também das pontes com Alvalade.

São várias as ligações e começam, claro, no banco. Abel Ferreira fez ele próprio o percurso de Braga para Alvalade, há 13 anos. Primeiro por empréstimo, depois em definitivo. Foi no Sporting que terminou a carreira de jogador e começou a de treinador, foi de lá que saiu para regressar a Braga e já treinador, primeiro na formação e depois na equipa principal. Mas elas estão também no relvado, onde duas das figuras da época do Sp. Braga têm também raízes profundas em Alvalade: Ricardo Esgaio e Wilson Eduardo. E há ainda João Palhinha, que chegou esta época à Pedreira por empréstimo.

A ponte tem funcionado também em sentido contrário. O Sporting tem no atual plantel dois jogadores que chegaram de Braga: Rodrigo Battaglia, de fora nesta altura com uma lesão que o afastará por vários meses, e André Pinto, que chegou igualmente em 2017/18.

Foi nessa época que os dois clubes retomaram uma ligação que este século já envolveu mais de dezena e meia de trocas entre os dois clubes, quando antes disso teve pouca expressão. Desde 2001/02, quando Luís Filipe rumou a Alvalade, mais intensamente entre 2005 e 2011 e com um interregno pelo meio.

O Sp. Braga é desde a chegada de António Salvador à presidência um parceiro privilegiado dos «grandes» nas transferências internas (veja aqui os dados sobre esse fluxo) e tem tirado bom proveito dessa ligação, também com FC Porto e Benfica. Proveito financeiro também, com claros ganhos na relação com o Sporting.

Os dados das transferências neste século entre os dois clubes:

De Braga para o Sporting:  

01/02

Luís Filipe

3.2 milhões

05/06

Wender

1 milhão

 

João Alves

2 milhões

 

Abel*

 

09/10

João Pereira

3 milhões

10/11

Evaldo

3 milhões

11/12

Alberto Rodriguez

Livre

17/18

Rodrigo Battaglia

4.2 milhões

 

André Pinto

Livre

*empréstimo passou a definitivo em 2006, num negócio de 750 mil euros

Do Sporting para Braga:

05/06

Wender*

Empréstimo

09/10

Tiago Pinto

Livre

11/12

Nuno André Coelho

Rescisão

15/16

Wilson Eduardo**

Rescisão

17/18

Ricardo Esgaio***

 

 

Jefferson

Empréstimo

18/19

Palhinha

Empréstimo

*Empréstimo passou a definitivo em 2007

** Sporting ficou com 45 por cento do passe

*** Envolvido no negócio da transferência de Battaglia

Esgaio e Wilson Eduardo, «a qualidade e a competência estavam lá»

No plano desportivo, Esgaio e Wilson Eduardo são exemplos claros da forma como o Sp. Braga tirou partido de jogadores vindos de Alvalade. Esgaio chegou a Braga no verão de 2017, envolvido precisamente na transferência de Rodrigo Battaglia para Alvalade, tal como Jefferson, que foi por empréstimo e regressou a Alvalade.

O jogador português terminava uma ligação de 12 anos ao Sporting, onde nunca conseguiu ser aposta consistente. Em seis épocas como sénior Esgaio fez 44 jogos pela equipa principal, que alternou com passagens prolongadas pela equipa B e um empréstimo à Académica pelo meio. Em época em meia em Braga leva mais de 70 jogos e é uma das referências da equipa.

Wilson Eduardo tem também uma ligação ao Sporting de 11 anos passada em vários empréstimos e com pouco espaço em Alvalade: 24 jogos ao todo pela equipa principal até sair em definitivo para Braga, no fim do mercado de verão de 2015. Não contava para Jorge Jesus, que tinha chegado nessa época, estava a treinar à parte e rescindiu com o Sporting. Nas três épocas e meia que leva na Pedreira fez mais de uma centena de jogos e leva 32 golos marcados. Esta está a ser a sua época mais produtiva, com 10 golos marcados até agora, em 28 jogos.

Em Braga, Esgaio e Wilson Eduardo encontraram a estabilidade e a continuidade que não tiveram em Alvalade. A análise é de João Alves, um dos jogadores que fez o percurso inverso. «No Sporting não tiveram muitas oportunidades, mas a qualidade e a competência estavam lá. O Sp. Braga aproveitou isso, deu-lhes todas as condições para continuarem a desenvolver o seu futebol, numa equipa onde têm oportunidade de jogar mais. É bom para os atletas, que se valorizam, e para o clube.»

O Sp. Braga tem sabido aproveitar também a experiência de jogadores que passaram por clubes grandes e chegam com outra capacidade de resposta à pressão. Ter a vivência de um clube grande ajuda igualmente na afirmação, acredita João Alves. «Já estão habituados a um patamar superior, à exigência de um clube grande», nota o antigo médio nesta conversa com o Maisfutebol.

O contrário, acrescenta, é mais complicado. E dá o seu exemplo, ele que chegou ao Sporting depois de se ter afirmado em Braga, chegou à seleção, onde foi utilizado por Scolari em três jogos, mas não se afirmou em Alvalade. «A pressão talvez possa afetar um pouco. Não só de querer mostrar o nosso valor, mas também a pressão mediática. Senti um pouco isso. Talvez se me tivesse alheado um pouco disso tivesse tido outro desempenho. Num clube grande não se espera, não se pode dar tempo ao jogador para se afirmar», admite: «Talvez me deixasse levar um pouco pela pressão. Não só do jogo, também da crítica. Não lidava bem com isso, afetava-me um pouco. Agora é diferente, já há pessoas que podem ajudar nisso, se tivesse tido ajuda talvez tivesse sido diferente.»

João Alves, Abel e a «confusão» Wender

João Alves chegou ao Sporting em 2005, numa época em que a ponte Braga-Alvalade teve muito movimento. No arranque da temporada, além do médio português o Sporting contratou o brasileiro Wender. E em janeiro chegou Abel, por empréstimo. Em simultâneo o próprio Wender fazia o percurso inverso, depois de não ter conseguido afirmar-se na primeira metade de uma época marcada pela mudança de treinador, com Paulo Bento a assumir o lugar de José Peseiro em outubro.

Esse empréstimo de Wender, que acabou por ficar em definitivo em Braga e hoje treina o Sp. Braga B, teve sabor bem amargo para os «leões». Logo a 7 de janeiro houve Sp. Braga-Sporting, para a 17ª jornada da Liga. E os minhotos venceram por 3-2 com… bis de Wender. A vitória permitiu ao Sp. Braga ultrapassar o Sporting, quando estava em jogo o quarto lugar.

Abel, que tinha acabado de chegar, ficou no banco nesse jogo. João Alves foi titular e saiu ao intervalo, quando o Sp. Braga já vencia por 2-0, para dar lugar a Carlos Martins. Na segunda parte Liedson ainda igualou para os «leões», mas depois Wender marcou o 3-2 e consumou o choque para os sportinguistas. «O Wender tinha acabado de ser emprestado, depois do jogo os adeptos questionavam porque é que não se tinha posto uma cláusula que o impedisse de defrontar o Sporting. Lembro-me dessa confusão», recorda João Alves.

Eram outros tempos. O Sporting acabaria por recuperar e por assegurar o segundo lugar e a presença direta na Liga dos Campeões pela primeira vez em seis anos. O Sp. Braga então de Jesualdo Ferreira acabou em quarto.

Desde então cresceu. «Já na altura o Sp. Braga começava a ser uma equipa difícil para os grandes em casa. Desde aí foi sempre a subir», nota João Alves.

Abel, o histórico com o Sporting e o treinador que «pode ser um caso sério»

O Sp. Braga continua a perder no confronto direto com os grandes e ainda esta temporada sofreu uma derrota das antigas na Luz. Mas com o Sporting, se a vantagem histórica ainda é dos «leões», o fosso tem vindo a diminuir.

O Sporting só venceu um dos últimos cinco confrontos para a Liga com os minhotos, foram de resto três vitórias do Sp. Braga – a última das quais na primeira volta do atual campeonato. Há ainda o empate de há duas semanas na meia-final da Taça da Liga, ganha nas grandes penalidades pelo Sporting.

A última vitória do Sporting em casa sobre o Sp. Braga foi há três anos, depois disso houve uma vitória do Sp. Braga e um empate, numa história que tem Abel Ferreira no centro. A estreia do treinador do Sp. Braga, como interino na transição entre Jorge Simão e José Peseiro, foi precisamente com triunfo em Alvalade, em dezembro de 2016. Na época passada o duelo em casa do Sporting terminou com empate a dois golos.

Abel tem encarnado a ambição do Sp. Braga e, no duelo com o Sporting, está na frente. No confronto direto e pela vantagem com que chega a Alvalade neste domingo. Nada que surpreenda João Alves, que foi companheiro de equipa do atual treinador arsenalista nos dois clubes. «O Abel a mim não me está a surpreender em nada. Conheço-o há muito tempo, conheço a personalidade do Abel. Sempre disse que ele ia dar um bom treinador», diz: «Tem perfil de liderança, confiança em si próprio. Sabia que quando um clube lhe desse uma oportunidade ele não ia defraudar. Pode ser um caso sério não só a nível nacional mas mundial. Além da competência é uma pessoa correta e sabe pôr as equipas a jogar. Tem os jogadores do lado dele e isso é sempre importante.»

O que falta ao Sp. Braga e os «problemas» que atrasam o Sporting

A questão em torno do Sp. Braga é há muito a mesma. O que falta para chegar ao patamar dos «grandes»? «Está a ter um crescimento sustentado e isso é o mais importante», observa João Alves: «Faltam talvez os títulos. Já ganhou a Taça de Portugal, a Taça da Liga, mas falta-lhe ser campeão nacional. E ter continuidade. O Boavista não teve, por exemplo, mas vejo o Braga com condições para ter essa continuidade.»

Com o Sp. Braga a dois pontos do título, João Alves acredita que é possível acontecer já esta época. «Tudo pode acontecer. Estão a dois pontos, já não faltam assim tantos jogos, o FC Porto e o Benfica podem perder pontos», diz. Bem mais difícil, defende por outro lado, para o Sporting: «O Sporting tem tido todos os problemas internos, que afetam o plantel. Com tudo o que aconteceu a ideia que fica é que não se preparou bem a época. Ainda está a recuperar, não vejo o Sporting a caminhar tão cedo para a estabilidade. Leva o seu tempo para assumir novas ideias. Não acredito que o Sporting consiga chegar lá, penso que vai ser uma luta a três.»

(Artigo originalmente publicado às 23:49 de 14-02-2019)

Continue a ler esta notícia