Síria, o país sem primavera: acontecimento internacional do ano (II) - TVI

Síria, o país sem primavera: acontecimento internacional do ano (II)

Conflito está prestes a entrar no segundo ano, após mais de 45 mil mortos e Bashar al-Assad ainda no poder

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Em 2012, o regime também endureceu a repressão, mesmo enfraquecido na sua estrutura com as deserções de um primeiro-ministro, vários generais e milhares de soldados. Tanques e aviões entraram em força no terreno, tal como os bombardeamentos pesados em zonas urbanas. O fantasma das armas químicas paira no ar e a NATO diz ter informações de que estão já a ser usados mísseis soviéticos Scud - mais um resquício da Guerra Fria na relação de forças do conflito, que tem no Conselho de Segurança da ONU um tabuleiro remoto dividido.

O bairro de Baba Amr, em Homs, foi um dos palcos mais dramáticos da dureza do regime este ano. Esteve sob um cerco de fogo durante fevereiro. A artilharia castigou-o indiscriminadamente. A jornalista norte-americana Marie Colvin e o francês Rémi Ochlick pagariam com a vida, sob os escombros de um centro de imprensa de improviso, o «atrevimento» de cobrirem um conflito que continua sob apertada censura do regime.

Os rebeldes recuariam em Baba Amr (a retirada estratégica tem sido usada para minimizar baixas e perda de armamento), mas as ofensivas da oposição chegaram à capital, Damasco, e à cidade mais populosa, Alepo. Nos arredores desta, os rebeldes dizem ter tomado duas importantes bases militares em meados de novembro (Base 46) e de dezembro (Base 111). E os aeroportos destes dois centros também estão sob cerco e foram considerados alvos pelos rebeldes.

O controlo destas bases e o abate de alguns aviões, além da importância militar, tem um elevado valor simbólico, contra um regime que se tem valido do domínio aéreo como o seu braço mais longo. A morte vem especialmente do ar na Síria. De onde surgem também parte das tensões com os países vizinhos, como com a Turquia.

O incidente mais marcante aconteceu a 22 de junho, quando um F4 turco foi abatido por antiaéreas sírias. As relações entre os dois países, já tensas devido à crise dos refugiados, tornaram-se ainda mais belicosas. O receio de que Assad lance ataques químicos levou Ancara a solicitar à NATO a colocação junto à fronteira de baterias antimíssil Patriot. O envio foi aprovado para uma zona já reforçada militarmente pela Turquia.

O conflito também galgou a fronteira com o Líbano. Contaminou de forma especial a cidade de Tripoli, onde vivem maior parte dos alauitas no país (o grupo étnico-religioso a que pertence Assad), com violentos incidentes com a maioria sunita (corrente islâmica de que faz parte maior parte da população síria e dos rebeldes).

Apesar das cores da bandeira da oposição parecerem combinar na intenção de derrubar o regime, surgem sob uma névoa de incerteza quando se pensa na Síria depois de ele cair. No balanço do próximo ano não será improvável se as mesmas forças que lutam para depor Assad do poder estiverem a tentar chegar ao poder a lutar entre si já sem Assad. Se assim for, Damasco vai continuar preso no longo inverno em que entrou em 2011, ainda à espera da chegada da primavera.
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