Vodafone Paredes de Coura: longe da cidade fica o habitat da música - TVI

Vodafone Paredes de Coura: longe da cidade fica o habitat da música

  • Élvio Carvalho
  • 18 ago 2016, 04:32
Vodafone Paredes de Coura 2016

Primeiro de quatro dias desta 24.ª edição já terminou e o resultado é positivo. Quem disse que um bom festival só se faz com bandas que custam centenas de milhares de euros?

Longe da azáfama das grandes cidades, no Minho, tão longe da capital que um lisboeta precisará de quatro horas para lá chegar, há uma vila que por esta altura transpira música, convívio, companheirismo e diversão. É assim há 24 anos. Fica nas margens do rio Coura, tem uma Praia Fluvial e um anfiteatro natural e é para lá que rumam milhares de pessoas todos os anos. É Paredes de Coura e é lá que se realiza um dos mais antigos festivais do país: o Vodafone Paredes de Coura.

O primeiro de quatro dias desta 24.ª edição já terminou e o resultado é positivo. Quem disse que um bom festival só se faz com bandas que custam centenas de milhares de euros? Paredes de Coura é conhecido, entre outras razões, justamente por apostar no oposto. Naqueles que ainda estão a crescer e que têm o potencial para se tornarem nomes incontornáveis (ainda que esses também estejam presentes nos alinhamentos do evento). Isso viu-se hoje.

O cartaz anunciava cinco bandas: três portuguesas, duas estrangeiras. We Trust, Best Youth e Orelha Negra – as nacionais – e Minor Victories e Unknown Mortal Orchestra. O resultado? Cinco concertos que colocaram os festivaleiros aos pulos e de olhos fixos no palco principal.

Eram 20:00 em ponto quando foi dado o tiro de partida com o concerto dos We Trust. Eles que trouxeram duas surpresas - uma boa e outra má - que transformaram este espetáculo num evento sem par na carreira da banda.

Notícias boas primeiro: a banda trouxe para palco os Coura All Stars, uma orquestra de crianças e jovens da região, que ajudaram a cantar temas como “Future”, “Better Not Stop” e “We Are The Ones”. Músicas cujos próprios títulos induzem o canto e que dispensam apresentações para qualquer pessoa que tenha ligado um rádio nos últimos anos. Os ensaios de semanas, como contou o vocalista André Tentugal, acabaram por compensar e resultaram numa forma diferente de dar início ao festival.

Tentugal tem muito carinho por Paredes de Coura, “porque foi aqui que tudo começou, naquele palco”, disse a determinada altura enquanto apontava para o palco secundário. E por isso, decidiu revelar aqui a segunda “surpresa”, a má. A banda que durante cinco anos lançou dois álbuns e, como já ficou implícito, encheu playlists das maiores rádios nacionais, vai parar indefinidamente. “Quisemos que fosse aqui feito o anúncio”, lá está, porque “foi aqui que tudo começou”, faz sentido que aqui acabe. Emocionado, Tentugal acabaria por deixar o palco sob uma chuva de aplausos que demonstram o reconhecimento do trabalho do grupo.

Saem os We Trust para dar lugar ao duo Best Youth, formado por Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas, que vieram apresentar o seu álbum de estreia: “Highway Moon”. Este seria o concerto mais “calmo” de todos, o que não significa que não tenha deixado uma boa marca.

 

O dueto deixou tudo em palco, com destaque para a versão do clássico dos anos ’80 “Never Tear Us Apart”, dos INXS, que captou a atenção da audiência como poucos temas tinham conseguido desde o início. À hora marcada deixam o palco para a primeira banda internacional, os Minor Victories.

Como não podia deixar de ser, a pontualidade foi britânica: eram exatamente 22:45 quando os Minor Victories subiram ao palco principal do festival. O “supergrupo”, formado por Rachel Goswell, dos Slowdive, Stuart Braithwaite, dos Mogwai, Justin Lockey, dos Editors, e o irmão deste, James, veio apresentar o seu primeiro trabalho – lançado este ano – que recebeu o mesmo nome da banda.

Todos estes grupos já passaram por Paredes de Coura, no caso dos Slowdive foi no ano passado, e Rachel Goswell fez questão de relembrar isso mesmo logo ao início do espetáculo: “Sabe bem estar de volta aqui”, disse a vocalista. Palavras que motivaram os óbvios e imediatos aplausos dos milhares de pessoas que a escutavam.

Aplausos, aliás, que surgiam cada vez que se ouvia aquele sotaque britânico carregado, não só em tom de conversa, mas em melodia, acompanhada do som das guitarras que gritavam em tom oposto. Uma combinação perfeita que se fez notar, principalmente, em temas como “Scattered Ashes” e “A Hundred Ropes”.

Não foram os únicos a conseguir tal feito, leia-se a junção de estilos e sonoridades, porque isso também o fizeram os Unknown Mortal Orchestra (UMO) que deram um espetáculo de percussão, funk, soul e R&B. A banda, de origem neozelandesa e norte-americana, conseguiu dividir o pódio com Orelha Negra, os melhores espetáculos desta noite.

Com “Multi-love”, de 2015, ainda fresco, a banda liderada por Ruban Nielson quis desde logo mostrar ao que veio e desde os primeiros momentos que tentaram agarrar o público com um brilhante solo de bateria e com uns “obrigado”, ditos em bom português. Vale destacar o tema “Good at Being in Trouble” que conseguiu uma das maiores ovações, logo ao som dos primeiros acordes.

Se foi assim com UMO, também não foi muito diferente no caso dos portugueses Orelha Negra. O “supergrupo” composto por Sam The Kid, João Gomes, Francisco Rebelo, Fred e Cruz Fader, só pecou por não ter sido mais comunicativo com a audiência, que só dava sinais de estar a gostar daquilo que via. Porém, faz algum sentido que uma banda que optou por não ter um vocalista, de forma a dar primazia aos sons dos instrumentos, não interrompa o silêncio vocal para iniciar uma conversa.

Acabaram por dar um espetáculo praticamente ininterrupto, onde se notou o cuidado na preparação para passar de tema para tema, sem que praticamente se notasse qualquer pausa. Silêncios que talvez tivessem servido para assimilar individualmente todos os temas novos que foram apresentados. Sim, o grupo tem um novo trabalho, 16.1.2016, nome escolhido pela data em que foi gravado, e não deixou de o apresentar em Paredes de Coura.

 

Os Orelha Negra deram por terminado o concerto já perto das 3:00, colocando a fasquia alta para as bandas que se seguem nos três dias que restam de festival.

Esta quinta-feira sobem ao palco principal Riley Walker, Whitney, Sleaford Mods, Thee Oh Sees e – talvez o nome mais aguardado – LCD Soundsystem, a banda que renasceu, cinco anos depois de ter anunciado o seu fim. No segundo dia abrem, também, os palcos “secundários” do Vodafone Paredes de Coura: Vodafone.FM, onde vão atuar Joana Serrat, Bed Legs, Algiers e Shura, After Hours, onde atuam, por sua vez, os Suuns e Enchufada 10 anos (Rastronaut + Branko), o Palco Jazz, onde vão passar Samuel Úria e Gisela João, Burn River Sessions, Box to Box e Isaque Ferreira, João Rios e Rui Spranger (estes últimos para “declamar poemas frescos”).

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