China volta a ser acusada de encobrir casos de Covid-19: "Desastre teria sido 100 vezes menor" - TVI

China volta a ser acusada de encobrir casos de Covid-19: "Desastre teria sido 100 vezes menor"

  • Sofia Santana
  • 29 jul 2020, 10:00
Laboratório de Wuhan

O professor Yuen Kwok-yung, de Hong Kong, foi convocado a ajudar a combater o surto logo no seu início, em Wuhan. Diz que alertou Pequim para a transmissão entre seres humanos no início de janeiro, mas que essa informação não foi logo revelada.

A China foi avisada de que o novo coronavírus se podia transmitir entre humanos no início de janeiro, mas a informação só foi revelada algum tempo depois. A denúncia foi feita por um professor de Hong Kong, que acusa as autoridades de Pequim de terem ocultado informação sobre o vírus.

Yuen Kwok-yung afirmou, em declarações ao programa “Panorama”, da BBC, que alertou as autoridades chinesas para o risco de transmissão da Covid-19 entre seres humanos a 12 de janeiro.

O aviso surgiu depois de o especialista ter diagnosticado uma família de sete pessoas com o novo coronavírus em Shenzhen, a cerca de 1,1 mil quilómetros de Wuhan, a cidade que foi o epicentro da pandemia. Apenas alguns membros da família tinham estado em Wuhan, o que sugeriu logo a natureza contagiosa do vírus.

De acordo com o professor, as autoridades chinesas foram logo alertadas. No entanto, só a 19 de janeiro, ou seja, uma semana depois do aviso, essa informação foi anunciada e tornada pública.

Recorde-se que em meados de janeiro, milhões de chineses viajavam durante aquele que é o maior feriado nacional de país, o Ano Novo Chinês. Só em Wuhan, estima-se que 5 milhões de pessoas tenham deixado a cidade para visitar familiares e amigos.

Yuen acusa ainda as autoridades chinesas de terem destruído evidências físicas, considerando que a resposta do governo foi lenta.

O especialista, que ajudou a identificar um surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) em 2002, foi convocado a ajudar logo no início do surto em Wuhan.

Mas quando chegou a Wuhan e visitou o mercado onde se acredita que surgiram os primeiros casso, Yuen ficou preocupado com o que viu. Tinham-lhe dito que o lugar estava muito sujo, com urina e fezes de animais, mas o que encontrou foi um local limpo e completamente desinfetado. O mercado tinha sido fechado e completamente desinfetado e nem todas as amostras de animais vendidos lá foram colhidas.  

Quando fomos ao mercado não havia nada para ver porque estava limpo. A “cena do crime” já estava alterada, portanto não pudemos identificar nenhum hospedeiro que tivesse potencial para transmitir o vírus”.

Por outro lado, as autoridades também não deram explicações quanto ao número de infetados ou se a equipa médica tinha estado em contacto com o vírus.

Suspeito que eles estavam a encobrir a informação. As autoridades locais deviam transmitir informações, mas não fizeram isso tão rapidamente quanto deveriam. Se tivessem feito isso mais rápido, o desastre teria sido 100 vezes menor.”

Esta não é a primeira vez que a China é criticada pela sua respsosta ao surto inicial do vírus. No final de dezembro o médico Li Wenliang foi o primeiro a alertar para os perigos do novo coronavírus. Mas os seus avisos terão sido ignorados.

De acordo com uma investigação da revista chinesa independente Caixin, o hospital chinês onde trabalhava Li Wenliang foi o mais atingido pelo surto devido à ocultação de informações essenciais. O chefe do Partido Comunista no hospital não tinha conhecimentos sobre doenças infeciosas e proibiu os médicos de divulgarem informações críticas para a saúde pública.

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