Estado da União: um discurso sobre uma América novamente grande, que acabou rasgado - TVI

Estado da União: um discurso sobre uma América novamente grande, que acabou rasgado

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 5 fev 2020, 01:34

No terceiro e último discurso do seu mandato, Donald Trump dirigiu-se a uma nação dividida, que ele próprio fez questão de separar, ao deixar a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, de mão estendida

O presidente dos Estados Unidos dirigiu-se, esta noite, a uma nação dividida, naquele que foi o terceiro e último discurso do seu mandato sobre o Estado da União, que teve lugar no Capitólio, em Washington, um dia antes da fase final do seu processo de impeachment.

O próprio Donald Trump fez questão de sublinhar essa divisão, ao deixar a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, de mão estendida. Os dois não falam desde a última reunião, em outubro, sobre o apoio à Síria, na qual Pelosi foi fotografada a apontar o dedo a Trump.

Na véspera de ser absolvido pelo Senado das acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso, num processo de destituição iniciado pelo Partido Democrata na Câmara dos Representantes, o presidente norte-americano falou sobre uma América "recuperada" e "novamente grande", ao longo de 78 minutos. Recuperada economicamente, mais confiante e mais segura. Um discurso que acabou por ser rasgado pela mesma mão que não quis cumprimentar.

 

Os anos de decadência económica acabaram. Os dias daqueles que usavam o nosso país, aproveitavam-se dele, estando até desacreditado junto de outras nações, ficaram para trás. A nossa economia está melhor que alguma vez esteve. O nosso exército está completamente reconstruído, com o seu poder a ser incomparável em qualquer outro sítio do mundo e nem de perto. As nossas fronteiras estão mais seguras, as nossas famílias estão prósperas. Os nossos valores estão renovados, o nosso orgulho está restaurado. E por todas essas razões, digo às pessoas do nosso grande país, e aos membros do Congresso, que o estado da nossa união está mais forte do que alguma vez foi”, disse, sublinhando que, em três anos, a sua administração conseguiu mudar mentalidades, avançando a um ritmo inigualável: “Nunca mais vamos andar para trás.”

 

 

Trump utilizou como arma política a taxa de desemprego, classificando-a como a “mais baixa em qualquer das administrações que o precederam” e sublinhando que hoje existem mais oportunidades para veteranos, jovens, afro-americanos e deficientes.

"Na última administração entraram 10 milhões de pessoas para o sistema de senhas de refeição. Na minha administração, saíram 7 milhões desse sistema”, afirmou, num discurso recheado de críticas à administração de Barack Obama, que não mencionou, e que deixou entusiasmados republicanos, mas não democratas.

A nossa agenda é implacavelmente pró-trabalhadores, pró-família, pró-crescimento e, sobretudo, pró-Estados Unidos. Inacreditavelmente, a taxa média de desemprego durante o meu governo é menor do que durante qualquer outra administração na história do nosso país."

O presidente norte-americano falou também da substituição do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês), assinado com o México e o Canadá durante a presidência de Bill Clinton, pelo renegociado T-MEC.

NAFTA custou um em quatro empregos. Muitos políticos vieram e foram com a promessa de mudar ou substituit o NAFTA, mas no fim não fizeram absolutamente nada. Ao contrário de muitos outros antes de mim, eu cumpro as minhas promessas."

O progresso nas relações com a China, depois de 18 meses de guerra comercial, foi outro dos temas lançados por Donald Trump, que criticou a forma como a administração Obama lidou com a nação chinesa. 

Durante décadas, a China tirou partido dos EUA. Agora, mudámos esse curso dos acontecimentos. Temos talvez a melhor relação que alguma vez existiu com a China. O respeito mútuo existe. Tivemos de dizer chega."

Guaidó no capitólio

Num momento que fugiu ao cânone dos discursos do Estado da União, Donald Trump aplaudiu Juan Guaidó, presente no capitólio, e defendeu que o autoproclamado presidente interino da Venezuela é o verdadeiro presidente.

Nicolás Maduro foi um tirano que brutalizou o povo. Mas há um homem que carrega consigo todas as aspirações do povo venezuelano. Juan Guaidó é o presidente legítimo da Venezuela. Por favor, leve esta mensagem para casa e diga a todos que os americanos estão com o povo venezuelano. Guaidó travou uma luta justa pela liberdade”, afirmou, homenageando ainda o papel de vários militares heróis, como o general McGee da Força Aérea.

 

O assassinato do general iraniano Soleimani também foi visado no discurso de Trump, com o presidente a afirmar, uma vez mais, o orgulho que sente por aquele alto quadro das forças armadas do Irão ter sido morto sob as suas ordens.

Soleimani, como terrorista de topo, ordenou a morte de várias mulheres e crianças. Ele foi executado às minhas ordens e terminou assim o seu reinado de terror. Os terroristas nunca vão escapar à justiça."

O discurso do Estado da União terminou com uma mensagem sobre o regresso das tropas destacadas no Médio Oriente e, quase em jeito de reality show, Donald Trump anunciou a uma família que o pai regressou do Afeganistão.

Na reação ao discurso de Trump, Nancy Pelosi disse que não passou de "um manifesto de inverdades".

 

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