Militares no Sudão ocupam televisão estatal. Governo fala em "golpe de Estado" - TVI

Militares no Sudão ocupam televisão estatal. Governo fala em "golpe de Estado"

  • Agência Lusa
  • JGR
  • 25 out 2021, 09:23
Golpe de Estado no Sudão

O primeiro-ministro do país foi detido e está em localização incerta. Líder do golpe vai colocar um governo tecnocrata no poder até serem convocadas eleições

Os militares do Sudão tomaram as instalações da rádio e da televisão do Estado em Omdurman, cidade separada de Cartum pelo rio Nilo, indicou esta segunda-feira o Ministério da Informação que diz estar em curso "um golpe de Estado".

Os funcionários [da televisão] foram retidos", acrescentou o ministério sudanês.

A estação de televisão estatal difunde neste momento um longo concerto de música tradicional. 

As últimas informações dão conta da prisão do primeiro-ministro sudanês, Abdallah Hamdok, que foi detido depois de se ter recusado a apoiar o "golpe de Estado", disse o Ministério da Informação do Sudão. Segundo a CNN, o primeiro-ministro e a família foram transportados para uma localização desconhecida.

Militares colocam governo tecnocrata no poder

De acordo com a Associated Press, a principal figura militar, o general Abdel-Fattah Burhan, declarou estado de emergência e dissolveu o governo. Durante uma emissão televisiva, o general anunciou a dissolução o Conselho Soberano do país e o executivo liderado pelo primeiro-ministro Abdalla Hamdok. 

Abdel-Fattah Burhan, líder do golpe, revelou que um governo tecnocrata será colocado no poder até que novas eleições sejam convocadas.

Governo diz que forças armadas estão a disparar contra manifestantes

O Ministério da Informação sudanês denunciou através das redes sociais que as forças armadas estão a disparar "munições reais" contra manifestantes "que rejeitaram o golpe militar" em Cartum.

O exército disparou "munições reais" contra manifestantes que se concentraram no exterior do quartel-general do exército no centro de Cartum, que se encontra protegido com blocos de betão e soldados há vários dias, afirmou o ministério, através do Facebook.

Líderes políticos detidos e Internet cortada

As detenções acontecem após semanas de tensão entre as autoridades de transição civil e militar.

O serviço de internet foi cortado em todo o país, enquanto manifestantes se concentram nas ruas de Cartum para protestaram contra a vaga de prisões.

Estes acontecimentos ocorrem dois dias após uma fação sudanesa que pedia uma transferência de poder para o Governo civil ter advertido sobre a preparação de um golpe de Estado.

O Sudão tem estado numa transição precária marcada por divisões políticas e lutas pelo poder desde a expulsão do Presidente, Omar al-Bashir, em abril de 2019.

Estados Unidos expressão "profunda inquietação"

Entretanto, os Estados Unidos expressaram "profunda inquietação" sobre a vaga de prisões de dirigentes civis levadas hoje a cabo pelas forças militares do Sudão.

Os anúncios sobre a tomada do poder pelos militares "vão contra a declaração constitucional (que determinou a transição do país" e as "aspirações democráticas do povo do Sudão", disse o emissário norte-americano para o Corno de África, Jeffrey Feltman.

ONU considera "inaceitáveis" detenções dos dirigentes civis sudaneses

As detenções dos líderes civis membros do órgão de transição no Sudão são "inaceitáveis", afirmou hoje o enviado das Nações Unidas ao país, Volker Perthes, manifestando-se "muito preocupado com as notícias de um golpe de Estado".

Apelo às forças armadas para que libertem imediatamente os detidos", afirmou o representante especial para o Sudão e Chefe da Missão Integrada de Assistência à Transição das Nações Unidas no Sudão (UNITAMS), acrescentando que, segundo o Ministério da Informação sudanês, quase todos os civis membros das autoridades de transição no país estão detidos pelos "militares".

UE apela à “rápida libertação” de dirigentes civis

 A União Europeia manifestou-se “muito preocupada” com as notícias de um golpe de Estado no Sudão, apelou à “rápida libertação” dos dirigentes civis do Governo, entre os quais o primeiro-ministro, e ao restabelecimento “urgente” das comunicações no país.

Numa primeira reação, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell – que se encontra no Ruanda -, recorreu à sua conta na rede social Twitter para dar conta da “maior preocupação com os eventos em curso no Sudão” e apelar “a todas as partes e parceiros regionais para que voltem a colocar o processo de transição no bom caminho”.

Na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia, a porta-voz Nabila Massrali reforçou que “a UE está muito preocupada com as notícias de forças militares terem colocado o primeiro-ministro Abdullah Hamdok sob prisão, assim como detido vários outros membros da liderança civil” e indicou que o bloco europeu exorta “à sua rápida libertação”.

Alemanha "condena claramente" tentativa de golpe 

 A Alemanha "condenou claramente" a tentativa de golpe no Sudão, que "deve parar imediatamente" para permitir a continuação de uma "transição política pacífica para a democracia", numa declaração assinada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros alemão.

As informações que dão conta de uma nova tentativa de golpe no Sudão são perturbadoras”, afirmou Heiko Maas, que apelou ao "diálogo" entre os responsáveis políticos que dirigem as autoridades de transição no país.

União Africana pede "retoma imediata" do diálogo entre militares e civis

A União Africana (UA) apelou esta segunda-feira para uma "retoma imediata" do diálogo no Sudão depois de as forças militares terem detido vários líderes civis do Governo de transição, incluindo o primeiro-ministro.

O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, tomou conhecimento com profunda consternação dos graves desenvolvimentos no Sudão", disse a organização pan-africana numa declaração, apelando para "a retoma imediata das consultas entre civis e militares" que partilham o poder desde 2019.

"O diálogo e o consenso são a única forma de salvar o país e a sua transição democrática", acrescentou.

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