Os 12 jovens que ficaram presos com o treinador numa gruta na Tailândia, durante 18 dias, em junho do ano passado, foram sedados com Ketamine, um tranquilizante usado em cavalos, escreve agora a National Geographic, citando o anestesista envolvido na operação de resgate.
Richard Harris, o médico que fez as declarações, disse ainda que esperava que a operação, nos moldes em que estava planeada, viesse a falhar, admitindo ainda que os dois primeiros jovens a serem retirados da câmara onde estavam presos podiam morrer por afogamento.
O responsável acreditava que os jovens presos na caverna Tham Luang, antes de serem resgatados com sucesso por uma equipa de mergulhadores profissionais, liderada por especialistas britânicos e pela marinha tailandesa, tinham uma probabilidade de sobrevivência igual a “zero”.
Os detalhes da operação que ainda não se conheciam foram revelados numa carta conjunta de três médicos tailandeses e de Richard Harris, o anestesista australiano, enviada ao New England Journal of Medicine, uma das publicações científicas mais prestigiadas na área da medicina, a que a National Geographic teve acesso.
De acordo com o documento, e depois de os responsáveis pelo resgate terem recusado pronunciar-se acerca dos sedativos usados durante o resgate, o australiano confirma o uso da Ketamine por causa dos efeitos deste químico na hipotermia.
Refere Harris que aos membros dos Wild Boars foi administrada aquela substância uma ou duas vezes durante o resgate, tendo cada um deles vestido um fato de mergulho, tomado Xanax e levado a injeção do tranquilizante regularmente aplicado em cavalos. Este dado chocou e gerou discussão em muitos debates, mesmo com os registos de que os jovens se encontravam bem.
Outra das novidades agora conhecidas tem a ver com a expetativa de fracasso da operação.
Disse Richard Harris à National Geographic que o resgate estava condenado ao falhanço. “Não esperava nada que pudesse funcionar”, frisou.
Eu achei que os primeiros dois miúdos iam morrer afogados e que depois teríamos que fazer algo diferente. Eu tinha as probabilidades de sobrevivência deles no zero”, contou o médico.
Quando o australiano se juntou à equipa de resgate tailandesa, convenceu as autoridades a mudar o plano e a tentar retirar da gruta os mais fracos em primeiro lugar, ao contrário do que estava previsto, por se acreditar que os mais fortes teriam maior possibilidade de fazer o percurso em segurança, enquanto os mais fracos ficariam para trás a ganhar coragem ao ver os outros.
Mas o diagnóstico médico elaborado por Harris mostrava que, caso os mais fracos ficassem para trás, podiam não sobreviver muito mais tempo, o que obrigou à alteração da ordem dos trabalhos.
A carta revela ainda que o médico anestesista pediu ao governo tailandês imunidade diplomática, devido ao risco elevado de as operações não correrem bem e os jovens poderem morrer, não querendo Richard Harris ser culpado pelo fracasso do resgate.