António Costa: "Seria um sinal errado para o país retirar o estado de emergência” - TVI

António Costa: "Seria um sinal errado para o país retirar o estado de emergência”

Numa entrevista a Manuel Luís Goucha, no programa Você na TV, da TVI, o primeiro-ministro disse esperar que o Presidente da República proponha uma renovação do estado de emergência. Falou ainda das medidas adotadas e a adotar para a Educação e sublinhou que Portugal “tirou muitas lições” desta situação

O primeiro-ministro, António Costa, esteve esta sexta-feira no programa Você na TV, da TVI, e, em entrevista a Manuel Luís Goucha afirmou que seria "um sinal errado para o país" retirar agora o estado de emergência por causa da pandemia do novo coronavírus.

Ficaria muito surpreendido que o senhor presidente da república na próxima semana não propusesse um prolongamento do estado de emergência, ainda que com um abrandamento das medidas.”

António Costa sublinhou que “ainda é cedo” para começar a aliviar medidas de contenção: “Ainda não podemos começar a aliviar. Pelo contrário”. O primeiro-ministro reconhece que “este é o momento mais difícil” porque a “fadiga vai-se acumulando”.

Este fim-de-semana da Páscoa é um momento crítico. Porque é um momento em que as pessoas podem ser tentadas a desrespeitar as medidas de distanciamento.”

Por isso, considerou, os cinco dias em que a circulação entre concelhos está restrita “vão ser muitíssimo importantes” e que é “fundamental sermos muito contidos, muito disciplinados”.

“Seguramente vai surgir” uma segunda vaga

O otimismo de que António Costa se costuma orgulhar deu lugar a “um realismo”. E é nessa ótica que o primeiro-ministro não coloca de lado a possibilidade de surgir uma segunda vaga da epidemia, daqui a uns meses. Muito pelo contrário:

Acho que seguramente haverá. Cada vez que levantarmos uma destas medidas, o risco de surgirem novos casos é maior. Enquanto não houver uma vacina ou um medicamento, temos esse risco.”

O primeiro-ministro sublinhou também que Portugal tem tirado algumas lições desta pandemia e, no inverno, quando essa segunda vaga surgir, o país estará melhor preparado.

Se soubéssemos em dezembro o que sabemos hoje, estaríamos seguramente mais bem preparados.”

Existe falta de material “à escala global”

O chefe de Governo indicou igualmente que ainda não foi testado à doença provocada pela pandemia de Covid-19 por não ter sintomas e não ter estado em contacto com pessoas de risco.

Não fiz o teste, porque não tenho sintomas, porque não tenho estado em contacto com pessoas de risco. Deixei de visitar a minha mãe, que já tem idade para ser considerada doente de risco e felizmente está de boa saúde.”

 

Estaria a gastar um teste que é tão necessário e só satisfaria fugazmente a minha curiosidade. Porque o que o teste me diz é que agora, agora, não estou infetado.”

António Costa admitiu que há falta de material no SNS, incluindo testes. Mas disse que esse é um problema “à escala global”: “Nada estava produzido à escala global para uma pandemia desta dimensão.”

A falta de material é um problema que existe à escala global e com diversas vicissitudes. Espanha teve de devolver milhares de testes, houve aviões que fizeram escala em aeroportos em que parte da carga foi retirada.”

Questionado diretamente sobre a falta de material de proteção para os profissionais de saúde, Costa reconheceu que, sobretudo no início, poderão ter havido falhas, mas reforçou que “o melhor meio de proteção que eles podem ter é a nossa capacidade de estarmos em casa e não espalharmos o vírus”.

O chefe de Governo rejeitou “alimentar essa polémica entre aquilo que é essencial ter, o que é necessário ter e o que as pessoas julgam que têm de ter” e sobre os ventiladores, garantiu que os que estão a ser adquiridos vão “permitir duplicar” a capacidade atual do Serviço Nacional de Saúde.

Agimos tarde demais?

António Costa foi questionado se considerava que as autoridades nacionais de saúde tinham agido tarde demais e desvalorizado o vírus no início e sublinhou que seria difícil agir de outra forma com a informação que então se tinha:

Seria difícil DGS tomar uma posição que não fosse acompanhada pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças ou pela Organização Mundial de Saúde. Todos já tiveram de rever a sua posição ao longo deste período.”

 

Se todos soubéssemos o que sabemos hoje, se calhar, no dia 12 de março eu não teria encerrado as escolas e tê-las-ia encerrado no dia 10. (…) Só posso tomar medidas em função da informação que tenho hoje, ou em função da informação que terei daqui a um mês.”

As medidas para a Educação e o apoio aos pais

No programa Você na TV, o primeiro-ministro falou sobre as medidas tomadas no Ensino, relativamente ao começo do terceiro período.

O terceiro período vai recomeçar para todos os alunos no próximo dia 14. De uma forma distinta, com muito uso do ensino à distância, reforçado pela componente televisiva", afirmou.

Manuel Luís Goucha confrontou o primeiro-ministro com a perda de rendimentos das famílias, que terão de ficar em casa com os filhos, em virtude de as escolas permanecerem fechadas. O primeiro-ministro reconheceu esse esforço das famílias, mas sublinhou que “tem de ser um esforço tripartido”.

O Estado assume um terço, a entidade patronal assumo outro terço e os trabalhadores assumem outro terço. É um sacrifício para muitas famílias, não vou estar a escamotear isso.”

Questionado sobre a forma como cumprimentou o ministro da Educação na quinta-feira, com um aperto de mão, António Costa voltou a admitir que foi “uma falha” resultante de um “ato instintivo”, considerando que isso demonstra que é humano.

E os “doentes não covid”?

Em resposta a uma questão deixada por uma espectadora, António Costa falou da situação dos doentes que sofrem de outras patologias e disse que também esses casos estão a ser assegurados:

Um dos riscos maiores são as pessoas em tratamento, que não têm coronavírus, que não podem deslocar-se às unidades hospitalares.”

O primeiro-ministro referiu-se nomeadamente aos doentes com cancro, que necessitam e fazer quimioterapia e lembrou que todos eles estão a ser testados antes dos tratamentos, que por si só diminuem a capacidade do sistema imunitário.

Portugal regista 435 mortos associados à covid-19 e 15.472 infetados, indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

A pandemia do novo coronavírus já matou 96.340 pessoas em todo o mundo e infetou quase 1,6 milhões em 193 países e territórios desde o início da pandemia, em dezembro passado, na China.

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