"Uma profunda canalhice": Sócrates arrasa direção socialista - TVI

"Uma profunda canalhice": Sócrates arrasa direção socialista

  • Henrique Magalhães Claudino
  • Lara Ferin
  • 14 abr 2021, 22:02

Em entrevista à TVI, o antigo primeiro-ministro respondeu às críticas e ao silêncio de dirigentes socialistas

Na entrevista que concedeu à TVI esta quarta-feira, José Sócrates teceu duras críticas à liderança do Partido Socialista e aos comentários feitos contra si nos últimos dias, destacando-se Fernando Medina que esta terça-feira disse que o seu comportamento “corrói a democracia e que o aceitamento de dinheiro é inaceitável do ponto de vista ético”.

Grande parte desses que dizem essas coisas, estão a ajustar contas com a sua própria covardia moral”, critica.

Preferindo não responder diretamente ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas sim “ao mandante, à liderança do PS”, José Sócrates afirma que as declarações mostram que a direção do PS acha que se “pode fazer uma condenação sem julgamento”. Sem defesa. Esquecendo a presunção da inocência”.

Essas declarações, digo, são de uma profunda canalhice. Não há outra forma de o dizer”, afirmou.

Este voltar de costas feito pelo partido que já chegou a chefiar é “penoso”, diz Sócrates, lançando-se àqueles que defenderam consigo a Revolução de Abril: “O PS devia de ter vergonha de desconsiderar aquilo que são os direitos e garantias fundamentais que fizeram a cultura política do partido quando lutámos em 1975 pela liberdade”.

Para Sócrates esta falta de apoio foi exacerbada pelo facto de o partido ter desvalorizado Mário Soares quando este defendeu o ex-primeiro-ministro durante os 11 meses em que esteve preso no Estabelecimento Prisional de Évora.

Tomei a decisão correta ao sair do PS”, conta, acrescentando que “já não aguentava mais o silêncio''. “Não disseram nada quando fui detido no Aeroporto de Lisboa, com televisões, argumentando com perigo de fuga. Hoje isso parece um pouco ridículo”, reitera.

Esta terça-feira, no seu habitual espaço de comentário, Fernando Medina quebrou o silêncio em torno da decisão instrutória da Operação Marquês e sublinhou que, independentemente da extensão da acusação contra José Sócrates, este é “um facto da maior gravidade e singularidade”.

O comentador da TVI lembrou que “o primeiro-ministro é o lugar de maior responsabilidade” no espectro político nacional, pois é o cargo em que os cidadãos depositam maior confiança. Medina realçou também Sócrates foi acusado por crimes cometidos enquanto exercia as funções do chefe do executivo, algo inédito em Portugal.

É a primeira vez na nossa história que teremos em julgamento um ex-primeiro-ministro e, independentemente, da natureza mais ou menos extensa do crime sabemos que é um crime em exercício de funções com uma moldura penal significativa de cerca de 12 anos”, diz Fernando Medina.

José Sócrates fez ainda referência à manifestação que o esperava quando chegou às instalações da TVI: "Recordo-me de quando fui detido e conduzido a interrogatório, existir uma manifestação do PNR (hoje com o nome Ergue-te). As mesmas pessoas, os mesmos partidos".

Associando as pessoas que se manifestavam à crescente vaga de partidos extremistas, o antigo líder socialista sublinha que, "depois de todos estes abusos judiciais", "a única coisa que é visível é uma petição a pedir um impeachment de um juiz, sem que ninguém da política tenha falado".

Sócrates diz que "esta gente" quer condenar o inocente, "quer o fim do estado de direito e perseguir o adversário com a justiça .No fundo, este caso sempre foi um caso político, nunca foi um caso judicial".

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