Covid-19: creches preparadas para abrir em maio pedem orientações da DGS - TVI

Covid-19: creches preparadas para abrir em maio pedem orientações da DGS

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  • AG-Atualizada às 18:49
  • 28 abr 2020, 17:16
Creche [Reuters]

Associação desenhou um plano de contingência com 28 orientações para as creches e jardins-de-infância

As creches e jardins-de-infância garantem estar preparados para reabrir já em maio, mas alertam que continuam sem receber quaisquer orientações técnicas da Direção-Geral da Saúde (DGS), lamentou a presidente de uma associação representativa do setor.

A Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular (ACPEEP) desenhou um plano de contingência com 28 orientações para as creches e jardins-de-infância poderem voltar a receber os bebés e crianças.

O plano foi inspirado nas práticas de outros países, como a Suécia ou a Dinamarca, mas também em medidas que estavam a ser aplicadas em hospitais, disse à Lusa a presidente da ACPEEP, Susana Batista.

Estudámos vários cenários e escolhemos as medidas que considerámos importantes e exequíveis, uma vez que estamos a falar de crianças”, explicou Susana Batista.

Apesar de as medidas terem sido pensadas e adaptadas tendo em conta o público-alvo, Susana Batista lamentou o silêncio da Direção-Geral da Saúde e da Segurança Social, que é quem tutela as creches.

Nós precisamos de ter orientações concretas da Direção-Geral da Saúde a dizer o que é que querem que a gente faça, que medidas temos de implementar para garantir a segurança de todos”, criticou a responsável, sublinhando que é a DGS quem tem os conhecimentos científicos.

Até lá, as creches e jardins-de-infância continuam a trabalhar com as regras que definiram e que Susana Batista diz serem um pouco à semelhança “do que os portugueses já fazem nas suas próprias casas”.

Vamos tentar criar um espaço o máximo possível afastado do resto do mundo”, explicou, dando como exemplo os pais não poderem entrar dentro das escolas, tendo de entregar as crianças à entrada dos estabelecimentos.

Entre as medidas está também a medição da temperatura corporal de todas as crianças e funcionários quando chegam à escola e depois, novamente, a meio do dia.

No caso das crianças achámos que faria sentido ser antes da sesta”, exemplificou, sublinhando que as direções de vários estabelecimentos já adquiriam ou encomendaram termómetros infravermelhos para que não haja contacto.

A higienização sistemática, a opção pelos jardins e espaços exteriores em vez das salas de aulas e os equipamentos de proteção também fazem parte da lista de medidas.

No caso dos equipamentos de proteção, por exemplo, a associação concluiu que os educadores e auxiliares devem usar viseiras em vez de máscaras, porque assim “as crianças conseguem ver as caras dos adultos e não se assustam”, explicou.

Receias caem em creches e jardins-de-infância

O encerramento de creches e jardins-de-infância por causa da pandemia de Covid-19 traduziu-se numa redução de receitas superior a 50%, devido à diminuição das mensalidades, mas também porque muitos encarregados de educação deixaram de pagar.

Os dados foram avançados à Lusa pela ACPEEP, que decidiu fazer um inquérito aos seus associados depois da decisão do Governo em mandar encerrar todos os estabelecimentos de ensino em meados de março.

Muitos pais desistiram das creches e jardins-de-infância, porque imaginaram que este ano letivo já não iriam reabrir, e outros pediram uma redução da mensalidade depois da sua situação económica se ter agravado, disse à Lusa a presidente da ACPEEP.

Susana Batista disse que "98% dos sócios tiveram pais que deixaram de pagar a mensalidade”, explicando que estes números são baseados nas respostas de 70 associados.

A somar a esta situação, a maioria das instituições decidiu baixar as mensalidades, uma vez que estavam de portas fechadas apesar de tentarem manter uma ligação diária com as famílias para continuar a formação pedagógica à distância.

Houve quem tivesse reduzido em 10%, outros 20% mas também houve quem baixasse em 50% as mensalidades”, acrescentou a presidente da associação.

Feitas as contas, “as receitas dos colégios no mês de abril tiveram uma quebra superior a 50% em relação ao mês de janeiro”, contou.

A presidente da ACPEEP explicou que as famílias que tenham mensalidades em atraso e pretendam regressar terão de regularizar a situação, caso contrário as instituições poderão recusar-se a receber essas crianças.

Houve vários pais que estavam a atravessar dificuldades económicas e que falaram com a direção. Nestes casos, chegaram a um acordo e baixaram as mensalidades ou definiram formas de pagamento faseado. Mas houve pais que decidiram unilateralmente deixar de pagar sem sequer falar com a direção”, lamentou.

Neste momento, a maioria dos pais deve apenas o mês de abril, já que o encerramento das escolas se deu a 16 de março. Por isso, Susana Batista sugere aos encarregados de educação que falem com as direções caso tenham dificuldades em pagar agora os dois meses juntos (abril e maio).

Veja também: Creches: pais devem expor o caso e não aceitar logo recusa das crianças

Abrir creches e manter jardins-de-infância fechados mantém problema das famílias

A ACPEEP alertou ainda que reabrir as creches e manter os jardins-de-infância encerrados vai impedir milhares de pais de regressar ao trabalho.

O Governo tem falado numa possível reabertura das creches mas nada diz sobre os jardins-de-infância. No entanto, tanto num caso como no outro, estamos a falar de crianças dependentes dos pais. Se não reabrir tudo, haverá muita gente que não poderá retomar a sua atividade profissional”, alertou Susana Batista, presidente da ACPEEP, em declarações à Lusa.

A reabertura de alguns serviços, como o pequeno comércio, está prevista para o inicio de maio e a ACPEEP garante que as creches e jardins-de-infância estão preparados para reabrir também já no próximo mês.

As creches acolhem os bebés dos zero aos dois anos e os jardins-de-infância recebem as crianças até aos cinco anos. “Existem muitas famílias que têm um filho na creche e outro no jardim-de-infância. Ao abrirem só uma valência, o problema desta família vai-se manter”, alertou.

Este fim de semana, o jornal Público avançou com a data de 1 de junho para a reabertura das creches, que estão encerradas desde 16 de março, tal como os restantes estabelecimentos de ensino.

No entanto, a decisão do governo sobre reabertura das creches só será conhecida na quinta-feira, em Conselho de Ministros.

O encerramento de todos os estabelecimentos de ensino foi uma das medidas avançadas pelo Governo em março para tentar conter o novo coronavírus, que já provocou 948 mortos e mais de 24 mil casos confirmados de infeção em Portugal.

Na segunda-feira recomeçam gradualmente as aulas presenciais no ensino superior, estando previsto para meados do mês o reinício das aulas para os alunos do 11.º e 12.º anos às disciplinas que realizem exames nacionais.  Depois poderá ser a vez das creches, a 1 de junho, Dia da Criança.

Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o Governo já anunciou a proibição de deslocações entre concelhos no fim de semana prolongado de 1 a 3 de maio.

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