Covid-19: "Temos uma carência crónica de ventiladores" - TVI

Covid-19: "Temos uma carência crónica de ventiladores"

Médico aponta ainda para a falta de monitores e de camas de medicina intensiva de nível 3

A Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Ministério da Saúde fizeram esta quarta-feira a atualização da situação de Covid-19 em Portugal. Na conferência de imprensa esteve também presente o presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para Covid-19, João Gouveia.

Começando por afirmar que a resposta da medicina intensiva tem sido "excelente", o médico afirmou que Portugal tem "uma carência crónica de ventiladores, monitores e camas de medicina intensiva de nível 3".

Temos conseguido obter esse material e estamos a distribui-lo", acrescentou, relembrando que já foi entregue algum material, incluído ventiladores.

João Gouveia chamou a atenção para o facto de o número de médicos intensivistas poder não ser suficiente para a quantidade de ventiladores que está a chegar a Portugal. Garantiu, no entanto, que existem condições para formar outros profissionais, se for necessário, para assegurar o tratamento dos doentes que necessitem de ventilação invasiva.

Podemos não ter, em número individual, médicos suficientes para poder tratar todos os doentes, mas está a ser pensada toda uma estrutura que permite o tratamento adequado desses doentes através do trabalho de outros profissionais, sob responsabilidade dos intensivistas”, explicou.

Segundo o presidente da comissão de acompanhamento, em Portugal existem mais de 260 médicos especialistas em medicina intensiva e, nos últimos dias, o país já recebeu 144 ventiladores novos.

Podemos chegar a um ponto em que não temos recursos humanos suficientes para os recursos materiais que estamos neste momento a instalar”, admitiu.

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, garantiu ainda que não existe falta de testes nem de zaragatoas no país.

Admitindo “dificuldades” com a falta de reagentes necessários para a realização de testes de diagnóstico para Covid-19, manifestou disponibilidade para ajuste e afinação regionais dos rastreios.

“Não haja nenhuma dúvida de que há, garantidamente, um reforço da nossa capacidade de testagem. Não temos falta de testes ou zaragatoas. Temos algumas dificuldades nos reagentes de extração que estamos a tentar resolver. Todos estes componentes fazem os testes. Esta situação, em que estamos com maior dificuldade, estamos a tentar resolver para que possamos testar ainda mais e com maior reforço”, afirmou António Lacerda Sales na conferência de imprensa diária de balanço sobre a pandemia do novo coronavírus.

O governante respondeu desta forma quando foi questionado, pela segunda vez, sobre o facto de Gondomar estar a fazer 40 testes diários apesar da capacidade de realizar 400.

António Lacerda Sales explicou que a intenção é que os materiais, sejam rastreios, equipamentos de proteção ou ventiladores, “cheguem aos locais que mais precisam, de forma equitativa.

A curva epidemiológica

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou, relativamente à curva epidemiológica, que tem havido uma "certa estabilidade", tanto na curva real como na curva projetada, sendo que esta última se refere à análise feita por especialistas relativamente à evolução do surto.

Temos de ser cautelosos na interpretação dos dados reais e das projeções", afirmou.

Ainda assim, a diretora avisou que, "se abrandarmos as medidas, [a curva] pode voltar a subir", garantido que este tipo de surto "não é como a gripe".

Também sobre a curva epidemiológica, António Lacerda Sales reiterou que "é importante para perceber onde estamos e para onde vamos". Admitindo oscilações na evolução da curva, o governante afirmou que "não podemos vacilar".

Os testes serológicos

Tem sido uma das grandes questões dos últimos dias, e pode ser uma das respostas mais eficazes à pandemia. Os testes serológicos, que visam apurar quem está imune ao vírus, ainda não podem ser feitos em Portugal, garantiu Graça Freitas.

Um teste serológico só deve ser feito quando já há uma subida de anticorpos. A ciência ainda não nos permite dizer qual é o tempo adequado", explicou.

A diretora-geral da Saúde acrescentou ainda que, neste ponto, Portugal procura aprender com as experiências feitas noutros países.

Quando soubermos mais sobre estes testes será muito útil", disse.

Os lares de idosos e a variação regional

Um dos maiores problemas do surto provocado pelo novo coronavírus situa-se nos lares de idosos, onde já se registaram várias vítimas mortais, até porque são o maior grupo de risco.

António Lacerda Sales apontou algumas das medidas que tinham como objetivo aligeirar este problema: interdição das visitas; criação de apoio à contratação de pessoal; disponibilização de materiais formativos; criação de mecanismo para receber voluntários.

O secretário de Estado disse ainda que estão a ser realizadas centenas de testes em utentes e lares do país.

Uma das preocupações do Ministério da Saúde são as estruturas residenciais para idosos", acrescentou.

Quando questionada sobre as diferenças da taxa de letalidade consoante as regiões do país, Graça Freitas disse que "quanto mais idosa for uma população, mais este valor pode ser aumentado". Além disso, a concentração de determinadas populações, bem como a existência de mais lares em certas regiões, pode ser um fator decisivo na variação regional.

Os fatores demográficos e a densidade populacional, nomeadamente em lares de idosos, pode ser decisiva", disse.

Mais de 130 mil testes

Portugal realizou desde 1 de março mais de 130 mil testes de rastreio a Covid-19 e, na semana passada, 65 mil destinaram-se à região Norte, anunciou o secretário de Estado da Saúde.

Desde o dia 1 de março, foram processadas mais de 130 mil amostras processadas para diagnóstico de covid-19 em Portugal”, afirmou.

Segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registam-se em Portugal 380 mortes provocadas pela covid-19, mais 35 do que na véspera (+10,1%), e 13.141 casos confirmados de infeção, o que representa um aumento de 699 em relação a terça-feira (+5,6%).

Dos infetados, 1.211 estão internados, 245 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 196 doentes que já recuperaram.

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