Quando escutava ao telefone os alvos da operação Miríade, para travar o tráfico de diamantes, droga e ouro às mãos de militares do Exército na República Centro Africana (RCA), a Polícia Judiciária acredita ter tropeçado num gigantesco esquema de lavagem de dinheiro com outras ramificações.
A TVI sabe que, no processo, há referências nomeadamente a diplomatas, em Portugal, que recorrem à mesma rede para esconder milhões de euros ilícitos, provenientes de esquemas de corrupção e fraude fiscal.
Tudo passa por um ex-militar, Paulo Nazaré, considerado o cérebro da associação criminosa, que está agora entre os 11 detidos. É perito em branqueamento de capitais, fez uma comissão de serviço, há cerca de dois anos, na RCA, onde montou o esquema dos diamantes – em contactos que estabeleceu com traficantes locais. Depois passou os contactos a outro militar da sua confiança, quando acabou a comissão, e vivia até agora, em Lisboa, também dos lucros do esquema.
Paulo Nazaré tinha uma agência de fachada, onde lavava esse dinheiro – mas também outras fortunas ilegítimas, nomeadamente de titulares de cargos públicos, como diplomatas que recebem “luvas” de corrupção, conforme fica claro nas escutas telefónicas que constam no processo.
O ex-militar é, portanto, uma peça-chave em toda a investigação – e se entender colaborar com a justiça, até como forma de tentar evitar a prisão preventiva, poderá entregar ao juiz Carlos Alexandre, nos interrogatórios que estão a decorrer, a sua lista de clientes de lavagem de dinheiro. Com isso, será extraída uma certidão para a PJ perseguir a origem criminosa desses fundos e o destino final que lhes foi dado.
Tal como a TVI já noticiou, a rede por ele liderada recorria a diferentes forma de lavagem de dinheiro: ou compra de bitcoins, moeda virtual, ou envio de remessas de dinheiro para o Brasil, ou transferências para o Dubai, ou ainda abertura de contas bancárias em nome de testas de ferro, que cobravam 50 por cento dos depósitos. O tipo de esquema adotado era escolhido em função do perfil do cliente e dos crimes a que estava associado.
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Seis arguidos ficaram em silêncio no interrogatório, incluindo alegado cabecilha
O interrogatório dos 11 arguidos detidos na Operação Miríade foi interrompido esta terça-feira pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, após mais de cinco horas de diligência no Juízo de Instrução Criminal de Lisboa, sendo retomado na quarta-feira às 09:30.
Segundo apurou a TVI, durante este primeiro dia de interrogatório houve cinco arguidos que decidiram prestar declarações: Fernando Delfino, (civil), Luís Chantre (ex-comando), Emanuel Marques (civil), Michael Oliveira (agente da PSP) e Artur Amorim (advogado).
Quanto aos restantes seis detidos, a opção foi de não prestarem declarações.
O juiz Carlos Alexandre definiu o reinício da diligência a partir das 09:30 com a promoção das medidas de coação por parte do Ministério Público (MP) e as alegações dos advogados de defesa. De seguida, serão decididas as medidas de coação pelo juiz de instrução.