Como Rosa Grilo explica a morte do triatleta - TVI

Como Rosa Grilo explica a morte do triatleta

  • 26 out 2018, 14:14

Homicídio de Luís Grilo continua por resolver e as explicações da mulher confundem ainda mais quem tenta resolver o crime

Rosa Grilo é a principal suspeita da morte do marido, o triatleta Luís Grilo que esteve desaparecido mais de um mês e cujo corpo foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição a mais de 130 quilómetros da sua casa. 

O crime continua por resolver e as explicações de Rosa Grilo confundem ainda mais quem tenta resolver o crime.

Quando questionada pela procuradora do Ministério Público, a mulher do triatleta diz que "desenrolou-se tudo de uma forma completamente diferente do que está descrito" e tenta justificar não só o crime como os passos que deu ao longo do mês em que o marido esteve desaparecido.

Segundo Rosa Grilo, que se encontra em prisão preventiva, o crime não foi engendrado por ela e pelo amante, António Félix, mas sim a consequência de um negócio dos diamantes que correu mal. 

Leia as justificações de Rosa Grilo

Rosa Grilo - Uma das situações que falaram aí, por exemplo, da nossa ida, a minha e a do António [o amante] à procura de sítios para deixar o corpo. Não tem nada a ver. Eu dei uma vez um passeio com o António, em que ele me mostrou a terra dele, que é grande, e eu levei-o a ver a minha, que é Benavila, só isso. Em relação a tudo o resto, fi-lo com muito receio, porque eu fui ameaçada de morte e ao meu filho também.

Procuradora - Há quanto tempo?

Foi há sete ou oito anos, mais ou menos. E, na altura, ele (o marido) trouxe alguns diamantes lá de Angola. Eu, na altura, fiquei um bocadinho assustada e perguntei como é que ele tinha feito o tal negócio ou, vá… e ele disse que tinha comprado com contactos que tinha de lá.

Que quantidade de diamantes?

Não faço ideia, ele tinha um saquinho…

E a cor?

É aqueles que parecem cristais, eu não sei. Só os vi uma vez ou duas e, entretanto, nós guardámos os diamantes na casa da minha avó, em Benavila, porque ele não os queria ter lá em casa e eu na altura estranhei um pouco, mas pronto… tinha confiança nele. Mais tarde, há coisa de quatro, cinco anos, o Luís começou a receber encomendas lá no escritório, em Alverca, mas uma coisa pontual, tipo de 6 em 6 meses. Comecei a desconfiar porque normalmente sou eu que recebo as encomendas e aquelas era sempre ele a receber.

As encomendas vinham de onde?

Aquelas vinha um rapaz entregar que não era de nenhuma transportadora.  Comecei a questioná-lo sobre isso e depois ele, há coisa de um ano ou dois talvez, teve de me contar que estava a receber pequenas quantidades de diamante e que depois… que entregava.

Entregava a quem?

Ele nunca me quis dizer… E há 6 meses mais ou menos, começou a ficar muito inquieto e preocupado, deixou de dormir, deixou de treinar, estava realmente muito desorientado. E disse-me que talvez tivesse metido num sarilho… porque não tinha entregue em condições o que tinha recebido. Eu acho que ele não entregou a encomenda quem devia, pronto.

Isso terá sido quando?

Março, Abril, por aí.

Viu-o então a começar a ficar inquieto e preocupado?

Sim, eu tive mesmo que o obrigar a dizer… Fiquei muito zangada com ele porque temos um filho pequeno e corria perigo… mas depois aquilo acalmou e ele disse que estava tudo controlado. Eu não sabia quem eram as pessoas, eu não sabia os nomes, onde elas estavam, mas ele falava dos angolanos, que ele tinha feito o negócio com os angolanos…

Quanto dinheiro é que ele ganhava com isso?

Ganhava algum dinheiro, que ficava com ele e era em ‘cash’.

Ele disse-lhe que estava tudo controlado e depois?

No dia 5 de julho, contou-me que efetivamente as coisas não tinham acalmado e que já se tinha cruzado com esses tais senhores, mas que não o tinham abordado. Passaram por ele na rua, não sei se lhe disseram alguma coisa, mas ele ficou muito assustado… Eu até lhe disse para sairmos daqui para fora, que corríamos risco, e ele disse que não, que tudo se resolvia… E foi nessa altura que estupidamente, e sem o conhecimento do António, porque eu sabia que ele tinha armas, fui buscar uma das armas lá a casa dele… e tive que...  

[...]

Deu a arma ao seu marido, ele andava com a arma?

Não, ele escondeu a arma na garagem. Primeiro não queria, mas eu disse que se ele não ficasse com a arma, ficava eu... porque se já tinham ido atras dele uma vez podiam ir novamente… Até que no sábado (antes do homicídio) fomos almoçar com o menino e passear os três e ele apareceu muito assustado outra vez. Diz que viu os tais fulanos… No domingo, depois também saímos e tínhamos combinado ir pôr o menino à Costa e regressámos. Nessa noite não se passou nada, fomo-nos deitar. O António não esteve em minha casa nem no domingo nem na segunda-feira. Até porque no domingo o António foi buscar os meninos dele, que ele está separado. Podem comprovar com a mulher e... não sei… com quem for possível. Depois, na segunda-feira de manhã, foi aí que aconteceu tudo.  

Dia 16?

Dia 16. Seriam 8 da manhã, penso. Bateram-me à porta e eu até pensei que era o padeiro, àquela hora. Desci e fui abrir a porta. Empurraram-me a porta e entram três fulanos. Assim que entraram taparam-me a boca e o Luís estava ainda deitado, acho que ele nem ouviu sequer a porta. Agarraram-me assim... o cabelo... e perguntaram "onde é que ele está?". Eu fiquei aterrorizada.

Como é que eram os sujeitos?

Um senhor era branco e um indivíduo era mais negro e outro mais clarinho… O branco era mais ou menos da minha altura e os outros dois senhores eram bem mais constituídos e mais altos... Um deles com o cabelo tipicamente africano, curtinho e tinha assim uma barbicha e o outro…

As idades deles?

O branco… 50 e muitos.. Os outros dois rapazes deviam estar aí na casa dos 20 e tal, 30... Entretanto, o Luís ouviu a agitação e desceu. Foi tudo muito confuso porque eles passaram a agarrá-lo, bater-lhe e a baterem em mim. Perguntaram pelo miúdo, onde estava o miúdo… E, felizmente, ele não estava lá. O que era branco começou a agredir o Luís, a dar-lhe pontapés nas costelas, e a perguntar "onde estão as minhas coisas? Onde está aquilo que tu me deves?". O Luís não dizia nada e eu dizia "Oh Luís fala! Diz-lhe!", e ele não dizia nada. Eles estavam só a bater-lhe e eu disse "eu sei onde é que estão!". O Luís começou a dizer "não! Não digas!", e eles disseram "então vens connosco e vais-nos dizer onde está". Eu estava com o pijama e fui com os dois rapazes de cor e o branco ficou lá em casa com o Luís. O carro seria um Volvo, tipo monovolume… não tenho a certeza. Os vidros de trás eram escuros. Eu entrei para o banco de trás, onde fui amarrada, e arrancámos para casa da minha avó (em Benavila).

Quem foi a conduzir?

O senhor mais escuro. Chegámos a casa da minha avó e eu tinha posto o saquinho que ele (Luís) tinha trazido já há muitos anos dentro daqueles saquinhos de cheiro… Pus no roupeiro e foi logo aí que fui procurar os diamantes, mas porventura alguém terá mexido, ou caído para outro lado, ou não sei se o Luís terá tirado… Não encontrei nada. Demos volta a tudo, eles reviraram tudo e… nada.

Que horas eram?

Deviam ser aí umas 9 e tal… Entretanto eles falaram com o outro e regressámos. Claro que quando regressámos…

Depois regressaram?

Regressámos para casa, estava lá o senhor mais velho e o Luís. Continuou a agredi-lo. A bater-lhe na barriga e com mais pontapés… E perguntaram pelo miúdo. Eu disse que o menino não estava e feita burra disse que vinha mais tarde, com a avó, e eles disseram "então vamos esperar"… Ficaram lá em casa, remexeram tudo, isto passaram-se várias horas… Depois, o Luís disse: "Eu digo onde estão as coisas, mas não façam mal ao menino". E disse: "eu digo onde está", e disse que estava no armário da garagem, que era onde estava a arma.

Quem disse isso?

O Luís. Eles agarraram em mim e o mais novo levou-me lá abaixo e disse: "então vais tu buscar". E eu percebi que era por causa da arma, porque o Luís provavelmente queria ir ele lá buscar, só que eles não o levaram a ele, levaram-me a mim. Fui ao armário, tirei a arma, apontei-a, mas nem sequer sei apontar uma arma. Estava carregada, mas eu nem sabia. Ele, o que me levou lá abaixo, apercebeu-se, deu-me logo uma chapada e tirou-me a arma. Subimos e, claro, quando ele deu a arma ao outro, começaram a agredir o Luís ainda mais…

Onde é que o agrediram?

Em todo o lado… E a mim deram-me mais. Chapadas na cabeça, murros na barriga. Depois amarraram-me a mim e ao Luís. Prenderam-nos a mãos. Agarraram-me as mãos à frente e ao Luís, se não me engano, foi atrás.

Estavam onde?

Na cozinha. Entretanto, vieram ter comigo e apontaram-me a pistola.. Eu penso que era essa.. Ah porque eles também tinham uma pistola, e eu penso que era aquela. E o Luís estava lá ao lado: eles agarraram-no por trás e puxaram-no para cima. Ficou meio curvado e disseram-lhe: "Olha para ela que é a ultima vez que a vês". Eu, nessa altura, fechei os olhos porque pensava que eles me iam matar ali naquele momento. Ele estava a agarrar o Luís, e disse-lhe para olhar para mim, só que não disparou para mim, disparou no Luís. O Luís caiu para cima de mim…

Quem disparou?

O branco. Disparou assim para trás da cabeça. Só que o Luís caiu para cima de mim, mas não morreu. Ficou a respirar muito fundo... ainda esteve bastante tempo assim...

Que horas eram?

Não tenho bem a noção do tempo, mas deviam ser umas 4 e tal, 5 horas…

A que horas é que a avó vinha entregar o seu filho?

Acabaram por vir lá para as 4 e tal, mas não tinham hora certa.

E ninguém ouviu nenhum disparo?

Não sei.. mas não foi só um… O outro ficou ainda mais danado, agarrou-o e deu-lhe outro tiro assim de lado... por cima da orelha.

E depois disto? Porque é que não a mataram? A senhora era uma testemunha, não é?

Exatamente… Entretanto, o que mandava disse-me: "Tu sabes onde estão as coisas"… E mandou os outros irem outra vez para casa da minha avó e fiquei lá com ele. Desamarraram-me e ele disse-me: "Vai buscar roupa e vai buscar coisas, vai buscar sacos". E eu fui buscar sacos que tinha no lavatório e toalhões de banho e… lençóis. Enrolaram o Luís e levaram-no para o carro. Eu fiquei com o outro. Entretanto… isto foi quando o meu filho chegou.

E chegou com a sua avó? Entrou dentro de casa?

Entrou, mas ficou só no corredor.

Então não viu o senhor?

Não. Não porque ele ficou lá… ele ficou lá…

O seu filho não chegou a ver o senhor?

Não, ele foi para cima. O R (filho) é um bocadinho despistado e ficou logo ali na sala. Ele (sequestrador) começou –me a ameaçar e a chamar-me nomes e disse que matava o menino e que… e ficou lá... Voltei lá a cima e ele disse-me que se dissesse alguma coisa que me matava. Disse para eu ir à policia dizer que o meu marido desapareceu. Obrigou-me a ir e ficou com o meu filho sozinho lá em casa… Eu sei que devia ter ido logo à GNR dizer o que se passava, mas eu tive muito medo, e tenho e continuo com muito medo. A farsa do desaparecimento

Qual é que foi a justificação que deu ao seu filho para sair de casa?

Que ia à procura do pai. Porque eu disse que o pai tinha saído na bicicleta.

Mas a bicicleta continuava na garagem. Então o que é que a senhora fez?

Eu entretanto saí e fui à GNR. Disse que o Luís tinha ido andar de bicicleta e que não tinha voltado. Foram logo para a rua à procura.

E a cozinha ficou com sangue?

Um bocadinho só no meio porque ele caiu para cima de mim, para cima da roupa. Depois eles puseram logo a roupa à volta, acabou por não sujar praticamente nada. Sujou um bocadinho no caminho para o carro, mas eu limpei logo.

É que normalmente um tiro projeta muito sangue.

Não, não, não espirrou nada.

A senhora foi às 20:00 à GNR e regressou a que horas?

Devia ser aí… por volta da meia noite.

O seu filho (de 12 anos) ficou este tempo todo sozinho?

Ficou com o outro.

E o tal senhor? Quando a senhora regressou a casa ele ainda lá estava? Perguntou ao seu filho se estava alguém em casa?

Perguntei se alguém tinha lá ido ou se alguém tinha batido à porta, que eu tinha dito a ele para não abrir a porta a ninguém… mas ele disse que ninguém veio.  

Estas pessoas voltaram a entrar em contacto consigo?

Não, não mandaram cartas nem telefonaram... Só andaram muito perto de mim na terça-feira. Partindo do pressuposto que efetivamente o Luís teria tido um acidente ou qualquer coisa, a GNR parou as buscas no dia seguinte. Entretanto eu combinei com eles e fui ter com a GNR de manhã. Nessa altura, eles começaram a ligar aos amigos do Luís, a divulgar, e a fazer… eu fiquei imensamente assustada com as proporções. E na verdade eu estava à procura, eu andei sempre à procura do Luís, mesmo depois...

Mas sabia que ele estava morto, certo?

Sim, mas ele tinha que estar em algum lado. Só não sabia onde o tinham deixado.

No dia 17 diz que se sentiu ameaçada.

Quando estávamos à procura na rua, este fulano, o branco... passou por mim. Olhou para mim. E nos dias seguintes eles voltaram. Nessa tarde também, se não me engano… Todos os dias eu via um deles… todos os dias.  

Na segunda-feira à noite, o telemóvel do seu marido onde ficou?

O telemóvel ficou com o... com o branco. Eles estiveram sempre com o telemóvel do Luís. Eu estava com o meu. 

Chegou à meia-noite a casa. Quando chegou o telemóvel do seu marido ainda estava em casa?

Não. Eles ficaram com o telemóvel, ele guardou o telemóvel dele logo durante o dia. Porque eles estavam a mexer no telemóvel.

O senhor antes de se ir embora, levou o telemóvel do seu marido, é isso?

Sim, penso que sim.

E a bicicleta?

A bicicleta fui eu que levei. Deixei-a debaixo da ponte em Vila Franca. Só na quarta-feira é que me lembrei que a bicicleta estava lá e que eu tinha dado a bicicleta como desaparecida e se fossem lá a casa facilmente viam que aquilo não era assim... Eu levei a bicicleta e mandei-a para debaixo da ponte. Mandei-a para dentro de água.

Ok.  

Há uma outra situação de que me deram conhecimento, mas que isso eu não sei, que é sobre um édredon. Esse édredon é meu, mas não foi utilizado lá em casa para envolver o Luís. Esse édredon, eu tenho a certeza que ele estava em casa da minha avó, não sei dizer porque é que estava ali…

Como é que o levaram então?

Pediram-me sacos… puseram um saco na cabeça e enrolaram-no noutros sacos de plástico.

Usaram luvas?

Não. Eles levaram os sacos, levaram sacos assim inteiros… puseram um saco no Luís e depois embrulharam... Cortaram-lhe o pijama, que tinha sangue. Cortaram com um tesoura, levaram tudo o que estava ali.. até levaram o meu tapete.. Levaram tudo o que tinha sangue.

Que sacos eram?

Sacos do lixo... pretos e roxos.

A senhora não consegue garantir ao tribunal que a arma que o senhor branco disparou é a arma do senhor António?

Não, não sei.

O que é que aconteceu à arma?

Quando se foram embora, o mulato, fez-me assim… e disse: "Toma, guarda para a próxima vez que a gente se encontrar". Quando eu depois fui a casa do António deixei lá a pistola. Nunca pensei que ele pudesse ser envolvido por causa disto… Ele não teve conhecimento. Nem soube que eu fui lá buscá-la, nem sabe que eu fui lá pô-la.

A senhora limpou a arma?

Não.

Lavou-a?

Não.

E as balas? Também devolveu?

Não. Isso não sei… nem sequer sei se a pistola estava carregada.

Quando é que levou novamente a arma a casa do senhor António?

Na quarta-feira, no dia da bicicleta.

Depois de encontrarem o seu marido, estes senhores continuaram a rondar a sua casa?

Sim.

Com que frequência?

Para aí uma vez por semana… a ultima vez foi… deixe-me pensar… foi este sábado (três dias antes de ter sido detida). Mas já os tenho visto mais vezes... Já passaram lá pelo escritório…  Uma vez fui com o menino ao Loures Shopping, ao cinema e eles estavam no Loures Shopping.

[Interrogatório divulgado pelo Correio da Manhã]

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