Observatório de Segurança preocupado com polícias do Movimento Zero - TVI

Observatório de Segurança preocupado com polícias do Movimento Zero

  • CM
  • 13 nov 2019, 17:31

Sob a capa do anonimato, o Movimento Zero foi criado nas redes sociais e surgiu em maio deste ano, na sequência da condenação de vários agentes da PSP por ofensas à integridade física e injúrias a moradores do Bairro da Cova da Moura, nos arredores de Lisboa

O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), António Nunes, afirmou hoje, em Braga, que o aparecimento do chamado Movimento Zero, criado por elementos das forças de segurança, é “preocupante” e pode ser perigoso.

Em declarações à Lusa na Universidade do Minho, à margem de um congresso internacional sobre segurança, António Nunes acrescentou que aquele movimento de protesto de elementos da PSP e da GNR sob anonimato “tem significado, não pode ser ignorado e a tendência vai ser para aumentar”.

Estes movimentos vão surgir colados a alguns populismos, podem ser perigosos, tanto mais que, no caso do Movimento Zero, agrupa várias organizações do sistema de segurança interna que detêm informação, potencial de armamento, potencial de organização, formação nas técnicas de combate e anticombate e, portanto, são situações que temos de ter algum cuidado”, referiu.

Sob a capa do anonimato, o Movimento Zero foi criado nas redes sociais e surgiu em maio deste ano, na sequência da condenação de vários agentes da PSP por ofensas à integridade física e injúrias a moradores do Bairro da Cova da Moura, nos arredores de Lisboa.

O movimento reivindica melhores condições de trabalho, melhores salários, progressão de carreiras e respeito pela profissão, tendo já ameaçado com uma greve.

Para o presidente do OSCOT, um dos grandes perigos de movimentos como este é que eles são “facilmente inflacionáveis para movimentos radicais ou de violência”.

Enquanto temos manifestações que estão perfeitamente controladas, em que há uma organização, que se sabe onde começa e acaba (…), este é um movimento que, não tendo um controlo tão exaustivo, até porque alguns deles estão no anonimato, é facilmente inflacionável para movimentos radicais ou de violência”, afirmou.

Para António Nunes, esses movimentos “estão sujeitos a uma infiltração de movimentos de extrema direita ou extrema esquerda”, que manifestam as suas exigências “de forma violenta”.

Sublinhando que é preciso não esquecer que em Portugal, entre Forças Armadas e forças de segurança, há mais de 60 mil pessoas, António Nunes alertou para o perigo do crescimento do movimento e alastramento a outras áreas.

Muitas das vezes, sentem-se incompreendidos, e esta é a pior coisa que pode acontecer”, referiu, alertando ainda para a importância de o poder político não fazer promessas que sabe não poder cumprir.

Para aquele responsável, a solução passa, obrigatoriamente, pela reforma dos serviços de segurança em Portugal, adequando a sua organização e o seu funcionamento aos tempos atuais.

“Só depois disso é que devemos discutir a lei de programação de cada uma das forças ou a necessidade de haver mais ou menos agentes, mais ou menos esquadras, mais ou menos material”, referiu.

Sublinhou que a mera injeção de mais meios financeiros “não resolve o problema”.

“Primeiro, há que discutir a organização, adequar a organização aos riscos e vulnerabilidades que hoje são diferentes. Esses movimentos aparecem porque a velocidade com que hoje fazemos exigências e vivemos o dia-a-dia não é a velocidade muitas das vezes da capacidade de resposta dos políticos”, disse ainda.

Elementos da PSP e da GNR realizam a 21 de novembro, em Lisboa, uma manifestação conjunta para exigirem ao novo Governo “a resolução rápida” dos problemas que ficaram por resolver na anterior legislatura, foi hoje decidido.

Com o lema “tolerância zero”, a manifestação conjunta é organizada pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR), as estruturas mais representativas da Polícia de Segurança Pública e da Guarda Nacional Republicana.

Num comunicado conjunto após uma reunião realizada hoje no Porto, a ASPP e a APG referem que, na anterior legislatura, o Governo “fez promessas que não cumpriu e protelou a resolução de problemas que estão a colocar em causa não só a estabilidade das instituições, mas toda a segurança pública em Portugal”.

O Movimento Zero, que já anunciou a sua participação no protesto de 21 de novembro, foi criado através das redes sociais e dele fazem parte agentes da PSP e militares da GNR. Uma das suas ações mais notórias foi um protesto durante a cerimónia de aniversário da PSP, a 12 de julho, em Lisboa.

Os polícias do Movimento Zero vestiram então camisolas brancas e voltaram-se de costas quando o diretor nacional da PSP, Luís Farinha, começou a falar na cerimónia presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, mantendo-se nesta posição até ao final do discurso.

Quando o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, começou a discursar os polícias saíram em silêncio e de forma ordeira, levantando os braços e fazendo o gesto do zero com os dedos.

 

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