Erupção em La Palma: os perigos das cinzas vulcânicas para a saúde - TVI

Erupção em La Palma: os perigos das cinzas vulcânicas para a saúde

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 22 set 2021, 10:34

Professor António Jorge Ferreira, especialista em questões ambientais e membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, explica quais os riscos para a saúde decorrentes das cinzas e dos gases tóxicos emitidos durante uma erupção

Para além da destruição de casas e infraestrutura, as emissões geradas pela erupção vulcânica em La Palma, nas Canárias, são um dos pontos de preocupação dos especialistas, num momento em que a lava já cobre mais de 150 hectares de terreno.

O principal alerta parte da toxicidade dos gases vulcânicos expelidos durante a erupção que, mesmo em ambientes onde as concentrações não são elevadas, têm capacidade para irritar as membranas mucosas dos olhos e as vias respiratórias superiores e inferiores

Para além disto, “a exposição a esta matéria particulada tem sido consistentemente estudada e associada ao aumento de muitas patologias, nomeadamente do foro cardiorrespiratório, podendo, inclusive, influenciar a longevidade das populações que estão expostas durante décadas”, explica à TVI o professor António Jorge Ferreira, especialista em questões ambientais e membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

 

 

Para Jorge Ferreira, as cinzas vulcânicas têm um efeito particular no sistema já que, por terem dimensões extremamente pequenas (poucos micras de diâmetro - abaixo de 45 micras é impossível ver a olho nu.), podem atingir profundamente os alvéolos pulmonares - onde ocorrem as trocas gasosas.

“As concentrações diárias de partículas em suspensão no ar durante episódios de erupções vulcânicas são muito mais elevadas do que as encontradas normalmente no tráfego e em outras fontes externas comuns e podem exceder em muito os padrões regulamentares de qualidade do ar”, afirma o especialista reiterando que diversos estudos, em países como a Islândia e os Estados Unidos, comprovam que nestas situações existe um aumento do consumo de recursos, nomeadamente com consultas e urgências nos Serviços de Saúde.

 

O que fazer em situações de risco?

 

António Jorge Ferreira, que também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, salienta que as doenças respiratórias crónicas, como a Asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva podem ser exacerbadas pela exposição às partículas emitidas em atividade vulcânica.

Como tal, as populações mais vulneráveis são habitualmente cidadãos mais idosos, “mas também indivíduos com patologias crónicas, nomeadamente cardiorrespiratórias (asma, DPOC, bronquiectasias, fibrose quística, patologia coronária, insuficiência cardíaca, entre outras)”. Uma atenção redobrada também deve ser aplicada a crianças nestas situações, sobretudo nos primeiros anos de vida.

A população das zonas afetadas pelas cinzas vulcânicas deve, de acordo com o membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, “abandonar as zonas de maior exposição e evitando permanecer em áreas geográficas próximas das emissões vulcânicas”.

O professor nota ainda que as máscaras habitualmente usadas para proteção respiratória (nomeadamente do tipo FFP2) “apenas conferem alguma proteção à inalação de matéria particulada”, mas são totalmente ineficazes na exposição a substâncias químicas perigosas, como óxidos de enxofre, óxidos de azoto e ácido sulfúrico. 
 

Nas zonas não consideradas como de perigo imediato, onde não existiram indicações da Proteção Civil para retirada de população, as populações devem evitar permanecer no exterior, “onde as concentrações destas emissões são habitualmente mais altas do que no interior das habitações e manterem-se sempre contactáveis e atentas aos avisos”, alerta o especialista.

O vulcão Cumbre Vieja expele colunas de fumo que atingem várias centenas de metros de altura e entre 8.000 e 10.500 toneladas de dióxido de enxofre por dia, segundo a Involcan, mas, apesar disso, o espaço aéreo não foi encerrado.

A lava deste vulcão continua a arrastar tudo no seu caminho, estando a descer em direção à costa da ilha de La Palma, havendo receio de que, quando se der o contacto com a água do Oceano Atlântico possam ser emitidos ainda mais gases tóxicos.

Na última contabilização feita pelo Comité Gestor do Plano de Emergência Vulcânica, mais de seis mil pessoas foram retiradas de casas, com pelo menos 750 militares a administrarem os esforços de evacuação. Neste momento, existem seis vias principais cortadas, Todoque, La Laguna em direção a Tazacorte, Puerto Naos e uma das artérias da ilha, a LP-2.

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