TAP: Governo admite nacionalizações para assegurar "atividades estratégicas" - TVI

TAP: Governo admite nacionalizações para assegurar "atividades estratégicas"

  • ALM
  • 31 mar 2020, 14:40

Ministro da Economia assegura que com o regime de lay-off simplificado tentou assegurar que o emprego é preservado e não há despedimentos. Sindicatos aguardam divulgação de medidas

O ministro da Economia considera “muito difícil” que a TAP “mantenha todos os postos de trabalho funcionais” na atual conjuntura, mas garante que o Estado assegurará, nesta e noutras empresas estratégicas, “a preservação do valor” que representam para o país.

Nós queremos preservar a continuidade do país e das atividades que sejam estratégicas. Seguramente vamos divergir, em comunidade, sobre o que são atividades estratégicas e quais são as empresas importantes, mas o Estado português tem ferramentas para nacionalizar empresas e usá-las-á se achar conveniente”, assegurou hoje Pedro Siza Vieira em entrevista à rádio TSF, quando questionado sobre se admitia a hipótese de o Estado português vir a avançar para nacionalizações na sequência da crise gerada pela pandemia de Covid-19.

Interrogado sobre se a TAP poderá ser um destes casos, se a crise provocada pela pandemia deixar a companhia numa situação financeira insustentável, o ministro garantiu que “o Estado não deixará, como sócio da TAP e tendo em conta a natureza estratégia da companhia, de assegurar a preservação do valor que ela representa a longo prazo para o país”.

O Estado é sócio da TAP e tem seguramente um interesse não apenas como acionista, mas também tendo em conta o caráter estratégico que empresa tem. Portanto, também neste caso, o Estado não deixará de usar todos os poderes ao seu dispor para salvaguardar a posição estratégica da TAP na comunidade portuguesa”, sustentou.

Relativamente ao anúncio feito pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) de que a TAP, “devido ao cancelamento de todos os seus voos para o mês de abril, pretende colocar em regime de lay-off os seus pilotos", Siza Vieira disse que o Governo “ainda não foi notificado de nenhum pedido” nesse sentido por parte da companhia.

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Ainda assim, o ministro da Economia admite ser “muito difícil que uma empresa que não tem atividade mantenha todos os seus postos de trabalho funcionais” e recorda que, “neste momento, toda a indústria de aviação civil a nível mundial está a conhecer grandes dificuldades”.

As medidas de contenção da epidemia que estão a ser adotadas implicam restrições às deslocações e, portanto, temos companhias aéreas com a maior parte da frota em terra e sem atividade. O que está a ocorrer um pouco por todo o mundo são despedimentos coletivos em massa nesta indústria”, disse.

Neste contexto, acrescentou, “o que o Governo português tentou foi assegurar que as empresas – em vez de procederem a despedimentos que, no final, acabarão não apenas por prejudicar o rendimento das famílias e dos trabalhadores, mas também por impedir uma recuperação célere da economia – pudessem ter acesso facilitado a um regime já existente (o lay-off que está previsto no Código do Trabalho), para precisamente permitir preservar o emprego”.

E, nesse sentido, aquilo que pretendemos acima de tudo é que as empresas protejam o emprego e recorram a um mecanismo que impede fazer despedimentos coletivos em massa, como está a acontecer nesta indústria no resto do mundo”, sustentou.

Num comunicado a que a agência Lusa teve acesso, depois da reunião com o Conselho de Administração e a Comissão Executiva da transportadora, a direção do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) diz aos associados que "a TAP informou que, devido ao cancelamento de todos os seus voos para o mês de abril, pretende colocar em regime de lay-off os seus pilotos, sem concretizar as medidas, que ainda estão em análise".

De acordo com outras fontes sindicais, que também se reuniram com o Conselho de Administração, liderado por Miguel Frasquilho, e com a Comissão Executiva, encabeçada por Antonoaldo Neves, a TAP comprometeu-se a comunicar aos trabalhadores as medidas a adotar face ao impacto da Covid-19 nos próximos dois dias.

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A intenção é que as medidas de redução de custos entrem em vigor em abril, adiantaram à Lusa fontes sindicais.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da TAP recusou comentar o conteúdo das reuniões.

O lay-off simplificado (que permite a redução temporária do período normal de trabalho ou a suspensão de contrato de trabalho) entrou em vigor na sexta-feira e é uma das medidas excecionais aprovadas pelo Governo para manutenção dos postos de trabalho no âmbito da crise causada pela pandemia de Covid-19.

As empresas que aderirem podem suspender o contrato de trabalho ou reduzir o horário dos trabalhadores que, por sua vez, têm direito a receber dois terços da remuneração normal ilíquida, sendo 70% suportada pela Segurança Social e 30% pela empresa.

Governo entende que TAP precisa de “forte recapitalização” e “existe disposição” – sindicatos

Entretanto, os sindicatos representantes dos trabalhadores da aviação disseram hoje, num comunicado conjunto, que o Governo entende que a TAP “precisa de uma forte recapitalização e que existe disposição para a realizar”.

Aos sindicatos foi “informado que a TAP será incluída no pacote de ajudas da União Europeia às companhias aéreas, e que está assumido também pelo Governo que a TAP SGPS precisa de uma forte recapitalização, e que existe disposição para a realizar”, lê-se num comunicado conjunto do Sindicato dos Trabalhadores e Aviação (SITAVA), Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), Sindicato dos Quadros da Aviação Comercial (SQAC), Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC) e Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), divulgado hoje.

Aqueles sindicatos estiveram reunidos, na segunda-feira, com a Comissão Executiva da TAP, para discutir a situação dos trabalhadores da empresa, devido ao cancelamento de todos os seus voos para o mês de abril, em resultado da pandemia de covid-19.

As estruturas representativas dos trabalhadores foram também informadas de que vão “ser tomadas medidas de mitigação de custos (lay-off simplificado)”.

De acordo com os sindicatos, o Conselho de Administração da TAP está, em conjunto com o Governo, a estudar as medidas a adotar, mas ainda “nada está decidido em concreto quanto a estas”.

A comunicação aos trabalhadores a dar conta da decisão deverá ser feita nas próximas 24 a 48 horas.

 

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