As mulheres jornalistas que continuam a trabalhar em Cabul sem medo - TVI

As mulheres jornalistas que continuam a trabalhar em Cabul sem medo

Se numa ponta temos as afegãs que foram obrigadas abandonar a vida que tinham para viver escondidas, na ponta oposta estão os órgãos de comunicação social que mantêm as mulheres da linha da frente desta guerra. Para quem está no local, os riscos são extremamente elevados, o medo é cada vez maior e motivos não faltam

Passaram dois dias desde que a cidade de Cabul foi controlada pelos talibãs. O medo paira entre as mulheres, mas está a ser encarado de duas formas diferentes. Se numa ponta temos as afegãs que foram obrigadas a deixar o trabalho, a faculdade, os sonhos e vivem escondidas, na ponta oposta estão os órgãos de comunicação social que mantêm as mulheres da linha da frente desta guerra. 

Há relatos de jornalistas locais mortos e sequestrados, nomeadamente o diretor de uma estação de rádio afegã. Para quem está no local, os riscos são extremamente elevados, o medo é cada vez maior e motivos para isso não faltam. 

Clarissa Ward (CNN): "Elas fazem reportagens corajosas e incríveis"

Clarissa Ward, correspondente internacional chefe da CNN e que está em Cabul há vários dias, disse em direto que grande parte dos jornalistas que tem visto no local são mulheres afegãs e estão "absolutamente petrificadas" com aquilo a que têm assistido nos últimos dias.

Elas fazem reportagens corajosas e incríveis há muitos anos e agora existe um medo muito real de que possam vir a sofrer represálias por isso ou que não possam ser capazes de continuar o seu trabalho."

A enviada especial da CNN referiu que grande parte dos órgãos de comunicação social independentes do Afeganistão estão "neste momento desligados", enquanto tentam perceber o que vai acontecer daqui em diante. Tratam-se de "grandes alvos" devido a todo o discurso que têm feito contra os talibãs. 

Clarissa Ward também já confessou que a equipa que a acompanha já mudou o local onde faz as ligações em direto, tendo passado das ruas para um espaço fechado. O objetivo é "chamar menos a atenção".  

"Retomamos hoje a nossa emissão com uma apresentadora mulher"

A TOLOnews foi o primeiro canal de notícias 24 horas do Afeganistão e tem feito história nestes últimos dias. Após a tomada de Cabul, Miraqa Popal, diretor do canal, decidiu manter as jornalistas mulheres em frente às câmaras como pivôs, em entrevistas e nas reportagens de rua. 

No Twitter, Miraqa Popal escreveu: "Retomamos hoje a nossa emissão com uma apresentadora mulher"

Esta terça-feira, pela primeira vez, uma mulher, Beheshta Arghand, entrevistou um membro da equipa de comunicação talibã, Abdul Haq Hammad, sobre a situação catastrófica que se vive um Cabul. Um ato de coragem que noutros tempos seria impensável. 

Mas o canal televisivo não fica por aqui. No terreno, em Cabul, têm mantido duas jornalistas: Hasiba Atakpal e Zahra Rahimi.

Naquela que foi a primeira conferência de imprensa, os talibãs garantiram que não querem tratar as mulheres como da primeira vez que ocuparam o poder e que estas têm direitos que serão respeitados conforme a lei islâmica.

As nossas mulheres têm direitos e poderão beneficiar desses direitos. Têm o direito de participar na educação, na saúde e em outras áreas (...) Serão muito ativas na sociedade, mas dentro da estrutura do islamismo", disse o porta-voz.

No entanto, se por um lado este grupo extremista alega que não quer "inimigos", nem "vinganças", o cenário no local é tudo menos pacífico e pode descontrolar-se muito facilmente. 

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