Oito mitos sobre o novo coronavírus - TVI

Oito mitos sobre o novo coronavírus

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 2 mar 2020, 19:00
As ruas das cidades são um retrato do "medo" do desconhecido

A TVI conversou com António Diniz, médico pneumologista e colaborador da DGS, sobre oito mitos que circulam sobre o novo coronavírus

Numa altura em que todos os continentes do mundo já registaram casos confirmados de covid-19, o fluxo incessante de informações divulgadas em grupos de whatsapp e publicações nas redes sociais pode dificultar a separação entre os factos e a ficção. 

Durante um surto viral, rumores e informações erradas podem ser prejudiciais. Por isso, a TVI conversou com António Diniz, médico pneumologista e colaborador da DGS, sobre oito mitos que circulam sobre o novo coronavírus.



Ser infetado com coronavírus é uma sentença de morte

Não é verdade. Cerca de 81% da população infetada com o covid-19 sofre de sintomas ligeiros, segundo um estudo publicado no dia 18 de fevereiro pelo Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças. Apenas 13.8% dos casos registam doenças graves e precisam de ser assistidos com um ventilador artificial. Destes casos, 4,7% estão em estado crítico, significando que registam paragens respiratórias, falência múltiplas de órgãos ou choques sépticos.

Segundo António Diniz, quem é infetado com o novo coronavírus tem “um espectro de apresentações que vão desde pessoas assintomáticas ou quase assintomáticas, até pessoas com doenças potencialmente fatais”.

Ainda assim, a infeção é ultrapassável pelo conjunto de atuações feitas durante o período da doença.

Uma pessoa não fica sempre doente. Não é uma doença incurável, é uma doença como as doenças infecciosas: aparecem, tratam-se e desaparecem”, afirma o especialista. 


 

 

O covid-19 só é letal nos idosos
 

De facto, os casos que tiveram uma evolução fatal, ou que apresentaram sintomas mais graves, têm uma idade mais avançada ou possuem algum tipo de doença crónica subjacente.

Isto não quer dizer que não possam morrer pessoas mais jovens. Por exemplo, nas crianças é absolutamente excepcional”, afirma o médico, sublinhando que pessoas de todas idades estão sujeitas a serem infetadas com o covid-19.

Ainda assim, António Diniz afirma que existe “uma maior probabilidade das pessoas com mais idade e das pessoas que têm doenças crónicas virem a ter formas mais graves da doença”.

Por isso, o antigo Diretor Geral de Saúde e especialista em saúde pública, Constantino Sakellarides, explicou que é necessário defender os mais idosos e os doentes crónicos contra o surto.

A taxa de mortalidade vai crescendo com o aumentar da idade e quando chega aos 80 são 15%. Passa a existir uma grande probabilidade de uma pessoa morrer devido ao vírus", afirmou em entrevista no Jornal das 8.

 

A OMS recomenda que as pessoas de todas as idades tomem precauções para se protegerem contra o vírus, destacando a necessidade da lavagem de mãos eficaz e da higiene respiratória.



É fácil perceber que se está infetado

Segundo António Diniz, é fácil uma pessoa suspeitar que está infetada.
 

Para se considerar que um caso é suspeito, é preciso que a pessoa tenha um conjunto de sintomas e que, por outro lado, se assuma que exista um risco de essa pessoa ter estado exposta ao vírus”, afirma o médico pneumologista, explicando que essa exposição surge porque a pessoa esteve em contacto com alguém que já esteve infetado, ou porque esteve numa região onde o vírus esteve em circulação na comunidade.

Os sintomas relacionados com o coronavírus são aparentemente banais e, na maioria dos casos, não variam muito dos sintomas de uma gripe sazonal, até porque o covid-19 é um vírus que tem um comportamento semelhante à gripe, transmitindo-se através de gotículas espalhadas pela tosse e pelos espirros.

Ter febre, tosse e dores musculares são sintomas registados por milhões de pessoas com um quadro sintomático de infeção respiratória, nomeadamente uma infeção por gripe. Agora, a estes sintomas é necessário juntar uma outra coisa: a ligaçã com pessoas infetadas, ou com pessoas que tenham estado em zonas onde o vírus circulava na comunidade”, explica António Diniz.



O controlo de temperaturas é eficaz
 

Este método é falível, embora seja um procedimento que, segundo o pneumologista, deve ser usado porque a febre é um dos sintomas mais frequentes nestas situações.

Ainda assim, há pessoas que podem ainda estar assintomáticas e já terem sido infetadas. Há períodos de incubação do vírus até à emergência dos sintomas. Esse período pode ir desde os dois dias até aos doze dias e meio. Dando se habitualmente dois dias como margem de segurança”, explica o médico, avançando que, passados os catorze dias, “a probabilidade de uma pessoa estar infetada é muitíssimo baixa”.

 

António Diniz afirma ainda que, por vezes, a medição das temperaturas pode ser feita a uma pessoa que já está infetada, mas ainda não desenvolveu sintomas. 

Isto não exclui a importância da medição das temperaturas, porque a febre é um dos sintomas mais constantes no desenvolver desta condição”, afirma o especialista.


 

Utilizar uma máscara respiratória é garantia de que não vou ficar infetado
 

A OMS defende que a utilização da máscara serve sobretudo para evitar a transmissão entre as pessoas infetadas e as pessoas que não foram contaminadas com o novo coronavírus. 

António Diniz afirma que a utilização de máscaras não está aconselhada à população em geral, porque é um dispositivo que implica alguma técnica de colocação e algum cuidado na sua manutenção.

 

Com facilidade, uma pessoa leva as mãos à máscara e a máscara pode já ter sido contaminada. A máscara leva ainda a pessoa a ter uma falsa sensação de segurança, quando existe a possibilidade de ser contaminada por uma pessoa que espirrou para cima dela, ou que tossiu”, explica.

A colocação da máscara implica ainda que a pessoa não toque na superfície frontal e a coloque fazendo uso apenas dos elásticos.


 

O coronavírus é tão perigoso como uma gripe sazonal

O nosso sistema imunitário não está preparado para fazer face a uma infeção por covid-19, porque nunca contactou com ele. 

Ademais, existem vacinas e medicamentos para combater a gripe sazonal. “Não existem vacinas para o coronavírus e ainda estão a ser estudados e aplicados medicamentos para combater este surto de pneumonia viral”, explica o médico.

Segundo o especialista, o perigo para a sociedade irá depender da velocidade de propagação do vírus e do grau de gravidade que a infeção venha a ter. 

Nesta altura, pode-se dizer que o vírus dissemina-se com alguma facilidade e tem uma taxa de letalidade que não é desprezível”, afirma, sublinhando que, comparativamente, “estamos mais desprotegidos e com risco de ter mais complicações por infeções por coronavírus”.

 

Não é seguro encomendar objetos ou receber cartas da China durante a epidemia

Sim, é seguro. A OMS afirma que depois de terem sido feitas múltiplas análises ao covid-19, foi verificado que o vírus não sobrevive durante muito tempo em objetos como embalagens ou cartas.

 

 

É permitido o internamento compulsivo por questões de saúde pública

Na verdade, a Constituição Portuguesa não permite a quarentena, sendo tomadas medidas preventivas de evicção social, como o pedido para que as pessoas em causa permaneçam no domicílio e sejam controladas através do delegado de saúde regional.

Este foi um tema debatido no programa Aos Olhos da Lei, onde o advogado Paulo Saragoça da Mata afirma que a Convenção Europeia dos Direitos Humanos consagra o direito a esta restrição.

O artigo 5.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem prevê expressamente como uma das situações de restrição à liberdade de circulação e de movimentos, a situação de doença contagiosa. (...) Faz sentido mudar a constituição acrescentando-lhe uma alínea. É do mais manifesto bom senso. É imperioso (que se mude a Constituição)", afirmou.

 

Ainda assim, para combater o coronavírus, António Diniz defende que Portugal deve usar os mecanismos legais e aprender com a forma como o vírus se disseminou em Itália.

Estamos numa altura que é decisiva, porque apenas tivemos dois casos de pessoas com coronavírus que trouxeram essa  infeção de fora. Aparentemente, não existem casos de transmissão de pessoas em Portugal. É a altura para nos prepararmos o melhor possível contra a inevitabilidade do vírus se transmitir também na comunidade portuguesa”, afirma.

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE