Exclusivo: bala de borracha deixa adepto leonino cego na festa do título - TVI

Exclusivo: bala de borracha deixa adepto leonino cego na festa do título

Ricardo Santos, de 24 anos, acusa a PSP de abuso de autoridade e garante que vai apresentar queixa-crime

A passada terça-feira teria ter sido uma igual a tantas outras, não fosse o Sporting ter conquistado o título de campeão nacional. As celebrações em Alvalade e na Praça Marquês de Pombal ficaram marcadas pelos confrontos entre adeptos e a PSP.

Ricardo Santos foi dos adeptos que ficou ferido com maior gravidade, depois de ter sido atingido por uma bala de borracha, disparada pela PSP, que tinha como objetivo dispersar a multidão. O projétil atingiu o jovem de 24 anos na região ocular do lado direito da face e desde então perdeu a visão nesse olho.

O rapaz foi transportado para o Hospital de Santa Maria, por volta das 3:30 da manhã de dia 12 de maio, de onde acabou de sair com pouca esperança de voltar a ver daquele olho e com 15 pontos na testa, às 18:00.

O adepto leonino explica que chegou ao Marquês de Pombal por volta das 00:30 e só queria festejar o título de campeão nacional do Sporting, 19 anos depois.

Ricardo Santos garante que a PSP começou a disparar balas de borracha sobre os adeptos sem aviso prévio, num ato "espontâneo", que pode ser interpretado como um abuso de autoridade.

Estávamos numa zona em que não havia muita confusão. Do nada, a polícia começou a disparar para dispersar as pessoas. Acho que aquilo foi uma vontade espontânea da polícia. (…) Aquilo mais parecia a caça ao leão”, diz Ricardo Santos.

 

O jovem não tem dúvidas que as autoridades o queriam atingir na face:  “Atiraram à cabeça". Ricardo garante que vai apresentar uma queixa-crime contra as forças de segurança por abuso de autoridade.

 “Atiraram à cabeça. Vai ser apresentada uma queixa-crime por abuso de autoridade. Isto não vai ficar assim e espero que justiça seja feita”, explica o jovem.

 

O adepto leonino, que era estafeta de um restaurante na Margem Sul, ficou impossibilitado de trabalhar e sem qualquer ajuda económica. A situação financeira do jovem já começou a deteriorar-se: "os últimos 50 euros que tinha foram para medicamentos”.

Ricardo Santos acusa também o Hospital de Santa Maria de ter adulterado o relatório médico.  O rapaz reitera que não consumiu "uma pinga de álcool" naquela noite e que o documento diz que estava embriagado, mas que não lhe foi feito qualquer teste de alcoolemia.

Mentiram no relatório médico ao dizerem que estava embriagado, quando não me fizeram um teste ao álcool, não fizeram análises ao sangue, não me fizeram testes a nada. Escreveram o que quiseram e bem lhes apeteceu. Só espero que justiça seja feita”, acusa o adepto do Sporting.

 

Ricardo Santos revelou ainda que não foi contactado por nenhum dos responsáveis leoninos nem pela PSP ou pelo Estado. O jovem confessa que se sente frustrado e esquecido, mas enaltece o apoio que tem recebido de vários adeptos do Sporting alguns que "nem sequer conhece".

Tenho tido o apoio de muitos adeptos que nem sequer conheço. Estou muito grato. (…) Eu não merecia. Ninguém merece!”, culmina Ricardo Santos.

 

A versão de Ricardo já foi corroborada por dois irmãos que assistiram ao momento em que um adepto do Sporting foi atingido. Inês e Daniel Costa garantem que Ricardo Santos não estava embriagado e que não foi violento com a polícia. Os irmãos acrescentam que estão disponíveis para testemunhar no processo do adepto contra a PSP.

Contactada pela TVI, a PSP não reagiu a este caso em particular, remetendo para o comunicado divulgado no dia 12 de maio. As autoridades justificam o uso da força devido ao arremesso de pedras, garrafas de vidro e engenhos pirotécnicos.


Verificaram-se igualmente reiterados comportamentos hostis e desordeiros por parte de alguns adeptos, relativamente aos Polícias que integravam o dispositivo policial, tendo sido arremessados diversos objetos perigosos na sua direção, incluindo garrafas de vidro, pedras e artefactos pirotécnicos, obrigando ao uso da força pública, incluindo disparos com projéteis menos letais, para fazer cessar aquelas condutas perigosas. (…) Do arremesso de objetos perigosos e do uso da força pública, resultaram ferimentos em diversos cidadãos, em número que de momento não é possível precisar, sendo que foram prontamente assistidos no local os feridos que foram identificados como tal”, pode ler-se no comunicado da PSP.

Veja também: 

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE