Como os anticorpos dos lamas podem ser a resposta na luta contra a Covid-19 - TVI

Como os anticorpos dos lamas podem ser a resposta na luta contra a Covid-19

  • Bárbara Cruz
  • 12 mai 2020, 23:24
Lama

Cientistas belgas tinham descoberto que os anticorpos dos lamas conseguiam neutralizar vários tipos de coronavírus e decidiram replicar a investigação no novo vírus na origem da Covid-19. Os resultados são promissores

Não é a primeira vez que os lamas são usados para fazer investigação ao nível dos anticorpos: na última década, os anticorpos do animal da família dos camelídeos - que inclui os dromedários ou as alpacas, por exemplo - foram utilizados por cientistas para investigar tratamentos para doenças como a gripe ou o VIH. Mas agora, os mamíferos naturais dos Andes, na América do Sul, podem ser a resposta na luta contra a pandemia de Covid-19.

Em 2016, Xavier Saelens, um virologista da universidade de Ghent, na Bélgica, Daniel Wrapp, estudante da Universidade do Texas e Jason McLellan, virologista da mesma instituição dos EUA, procuraram nos lamas um anticorpo que fosse capaz de neutralizar vários tipos de coronavírus. A lama belga Winter, de quatro anos, foi a escolhida para ser injetada com os coronavírus que causam a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e a MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente). Após análise a uma amostra de sangue da lama, os investigadores chegaram à conclusão de que, embora não conseguissem isolar um anticorpo que funcionasse contra os dois coronavírus em simultâneo, encontraram dois potentes anticorpos que, separadamente, combatiam a MERS e a SARS.

Os resultados deste estudo estavam a ser compilados quando, no passado mês de janeiro, o novo coronavírus começou a espalhar-se por todo o mundo. Imediatamente, os investigadores perceberam que os anticorpos de lama teriam potencial na luta contra a Covid-19. E conseguiram confirmá-lo numa cultura de células, constatando que os anticorpos de lama inibiam o desenvolvidmento do SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19.

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Os resultados do estudo já foram publicados entretanto na revista científica Cell e, segundo o New York Times, os cientistas esperam agora que este anticorpo seja usado para fazer profilaxia, ou seja, para proteger do novo coronavírus uma pessoa que ainda não está infetada, como os profissionais de saúde, por exemplo. Ainda que a proteção fosse imediata, segundo os investigadores, não seria permanente, pelo que seria necessário repetir a dose de anticorpos a cada um ou dois meses para garantir a continuação do efeito protetor. 

Antes de chegar à fase de ensaios clínicos, poderá ser necessário fazer mais estudos para verificar a segurança de injetar anticorpos de lama em humanos, mas as conclusões do estudo são, para já, prometedoras. 

Há ainda muito trabalho a fazer para trazer isto para a prática clínica", admite Xavier Saelens. "Se funcionar, a lama Winter merece uma estátua", brincou. 

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